G-7 se une para desafiar o domínio da China na produção de semicondutores

O Japão, em particular, está se destacando no setor de semicondutores graças a parcerias com empresas como TSMC, Google e IBM

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Wilfred Chan 3 minutos de leitura

Redução de riscos? Dissociação? Chame como quiser, mas uma coisa está cada vez mais clara: os aliados do Ocidente estão determinados a aumentar a produção de semicondutores para reduzir sua dependência das cadeias de suprimentos expostas à China.

Em um comunicado conjunto emitido durante a cúpula do G-7, em Hiroshima, no Japão, os membros do grupo se opuseram ao que chamaram de “coerção econômica” da China e destacaram a “importância da cooperação no controle de exportação de tecnologias críticas e emergentes, como microeletrônicos”.

Na declaração, os Estados-membros – Japão, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá, Itália e União Europeia (este último participa formalmente das reuniões, embora não seja membro oficial) – afirmaram: “não estamos dissociando ou nos voltando para dentro. Ao mesmo tempo, reconhecemos que a resiliência econômica requer redução de riscos e diversificação”.

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Segundo Nick Reiners, analista sênior de geotecnologia do Eurasia Group, o comunicado é emblemático pelo alto grau de alinhamento dos membros em relação à China. “Antes, mesmo que a China nem sempre fosse mencionada explicitamente, a União Europeia relutava muito em falar sobre o país”, diz ele.

Um dos principais motivos para essa postura mais firme por parte dos europeus tem sido a recusa da China em condenar a invasão da Ucrânia. “Isso forçou uma reavaliação da relação”, argumenta Reiners.

No entanto, é o Japão que tem se destacado no setor de semicondutores entre os membros do G-7. Poucos dias antes da cúpula, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, se reuniu com CEOs das principais fabricantes de chips. Logo em seguida, foi anunciado um acordo de US$ 3,6 bilhões com a Micron para a produção de chips no Japão a partir de 2025, com o apoio do governo.

ESCUDO DE SILÍCIO

Na semana passada, a IBM e o Google também anunciaram um investimento de US$ 150 milhões em uma parceria de pesquisa em computação quântica entre a Universidade de Chicago e a Universidade de Tóquio, um acordo proposto por Rahm Emanuel, embaixador dos Estados Unidos no Japão. “Precisamos contar mais com nossos aliados para pesquisas primárias”, disse Emanuel.

O Japão está se destacando como um importante player na mudança liderada pelos Estados Unidos em relação à tecnologia chinesa, afirma Jason Hsu, especialista em semicondutores e ex-legislador taiwanês, que é pesquisador sênior na Escola Kennedy de Harvard. A pandemia afetou drasticamente as fabricantes de automóveis dos EUA, já que as cadeias de suprimentos de semicondutores foram praticamente paralisadas na China.

O Japão está se destacando como um importante player na mudança liderada pelos Estados Unidos em relação à tecnologia chinesa.

“O Japão poderia ser um substituto na produção desses chips para as fabricantes de automóveis”, diz Hsu. “Deus nos livre, mas caso haja um conflito naquela região, o Japão será uma base estratégica para manobras ou para o reabastecimento de materiais”.

No entanto, outro aliado dos EUA pode enfrentar novos riscos com a mudança do cenário global de chips: Taiwan. Lar da TSMC (principal fabricante de chips avançados do mundo), a ilha tem sido parcialmente protegida pelo que Hsu chama de “escudo de silício” – a ideia de que a dependência da China em relação aos chips taiwaneses torna menos provável uma invasão.

Hsu acredita que essa proteção está enfraquecendo agora que os aliados ocidentais investem em fábricas em outros lugares. No início deste mês, a Berkshire Hathaway anunciou que vendeu todas as suas ações da TSMC, citando riscos geopolíticos.

“A percepção de Taiwan como uma ameaça mina a confiança empresarial para investimentos estrangeiros”, diz Hsu. “O governo taiwanês precisa se posicionar em defesa de sua indústria e de seus interesses para garantir que não entreguemos nossas indústrias estratégicas e [para] negociar termos favoráveis para essas fabricantes de chips quando se expandirem para o exterior.”

O pesquisador acredita que a janela de oportunidade está se fechando. "Se a indústria não for capaz de lidar com a pressão dos governos estrangeiros, perderemos rapidamente nossa vantagem”, analisa.


SOBRE O AUTOR

Wilfred Chan é jornalista em Nova York e escreve para o jornal The Guardian e a revista New York Magazine, entre outras publicações. saiba mais