Inteligência Artificial vira protagonista e causa polêmica em prêmio literário

Editora cancela premiação literária após identificar uso de inteligência artificial; relembre outros casos recentes sobre uso de IA

Robô dentro de biblioteca procurando livro
Casos semelhantes vêm se acumulando no cenário internacional.Créditos:Freepik.

Guynever Maropo 2 minutos de leitura

A Editora Kotter, de Curitiba, cancelou o Prêmio Kotter 2025 após identificar o envio de textos gerados por Inteligência Artificial. A decisão foi anunciada na última sexta-feira (4), por meio das redes sociais e do site oficial da editora, e provocou reações entre os participantes do concurso.

A nota oficial destacou que, diante da identificação de inúmeras obras geradas com auxílio de ferramentas automatizadas e da dificuldade de verificar esse uso com precisão, a editora optou pelo cancelamento. A equipe organizadora estuda novas formas de viabilizar o concurso em 2026, com critérios claros para avaliação em tempos de avanços tecnológicos.

"Pelo nosso compromisso com a idoneidade literária, diante da identificação de inúmeras obras recebidas terem sido geradas por IA e na impossibilidade de identificar com a certeza necessária esse uso, vimo-nos forçados a cancelar o concurso deste ano. Estamos estudando como realizar o concurso, ano que vem, em tempos de IA. Contamos com a compreensão de todos e somos gratos pelas centenas de obras recebidas", diz o anúncio.

Criado em 2024, o Prêmio Kotter tem como proposta reconhecer livros autorais inéditos nas áreas de literatura, filosofia e política. Nesta edição, cerca de 900 obras foram inscritas. Dessas, aproximadamente 40 apresentaram sinais evidentes de uso de ferramentas por IA e outras 60 levantaram suspeitas.

Em alguns casos, os textos parecem apenas revisados por IA; em outros, trazem indícios mais contundentes, como estrutura formal impecável aliada a baixo valor literário, vocabulário incomum e regularidade mecânica no ritmo narrativo.

A editora também apontou que, mesmo com boa formatação, algumas obras demonstram padrões típicos da produção por Ia, como uso de palavras recorrentes em inglês e fluidez artificial. A editora pretende aprimorar os critérios de avaliação e deixar a questão explícita no edital da próxima edição.

Casos semelhantes de uso de IA em obras

Casos semelhantes aconteceram no cenário internacional. Autoras como K.C. Crowne e Lena McDonald tiveram trechos de romances analisados após leitores identificarem padrões semelhantes a respostas do ChatGPT.

 Outro caso recente envolveu o livro "Hipnocracia: Trump, Musk e a Nova Arquitetura da Realidade", assinado por Jianwei Xun. A identidade foi desmascarada após investigação da jornalista Sabina Minardi, revelando que se tratava de uma criação conjunta com o uso de ferramentas de Inteligência Artificial.

A própria Kotter já publicou um livro de poemas que indicava, de forma transparente, o uso parcial de IA. O projeto desafiou o leitor a identificar quais poemas haviam sido criados com a colaboração da Inteligência Artificial.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais