Intercâmbio cultural ajuda a combater desinformação em redes sociais

Pesquisa revela que as pessoas tendem a verificar a veracidade de postagens quando trabalham com alguém que tem uma perspectiva diferente

Crédito: SvetaZi/ iStock

Eli Gottlieb 3 minutos de leitura

De acordo com um estudo publicado recentemente na “Frontiers in Psychology”, as pessoas tendem a ser mais minuciosas ao checar postagens em redes sociais e demonstram mais disposição para reconsiderar suas próprias crenças quando estão ao lado de alguém de uma cultura diferente da sua.

Se você é francês, é menos provável que acredite em um tuíte que afirma que a Grã-Bretanha produz mais variedades de queijo do que a França, em comparação com um inglês. E, se é inglês, há mais chances de acreditar em um tuíte que diz que apenas 43% dos franceses tomam banho diariamente.

A desinformação nas redes sociais representa um dos maiores desafios do nosso tempo.

O mais intrigante é que, quando duplas compostas por ambas as nacionalidades verificaram esses tuítes juntas, a forma como o fizeram e a medida em que reconsideraram suas crenças dependiam do quanto concordavam ou discordavam em termos de identidade cultural. 

Descobrimos que duplas de pessoas que compartilham a mesma visão se concentram mais em confirmar evidências e manter suas crenças iniciais, enquanto duplas discordantes se envolvem em pesquisas mais aprofundadas e ajustam suas crenças de acordo com as evidências.

POR QUE ISSO IMPORTA

A desinformação nas redes sociais representa um dos maiores desafios do nosso tempo. Ela contribui para a polarização na política e influencia desde o voto até os hábitos de vacinação e de reciclagem das pessoas. Além disso, mesmo quando uma notícia falsa é desmentida, muitos continuam acreditando nela.

Nas últimas semanas, a desinformação sobre a guerra entre Israel e o Hamas atingiu níveis sem precedentes, e está alimentando tensões étnicas, religiosas e políticas em todo o mundo.

Poucos estudos sobre desinformação examinam os processos através dos quais as pessoas avaliam o que leem online.

Para enfrentar esse desafio, os pesquisadores precisam entender melhor como as pessoas processam informações online. Além de contribuir para essa compreensão, nossas descobertas sugerem que reunir pessoas com diferentes perspectivas para verificar postagens polêmicas nas redes sociais pode melhorar a alfabetização midiática e a capacidade de participar de um diálogo civilizado.

Porém, isso pode não ser uma tarefa fácil. Em tempos de polarização, é desafiador até mesmo colocar pessoas de lados opostos em uma mesma sala para conversar abertamente, em vez de lançarem frases de efeito – e coisas piores – umas contra as outras.

No entanto, acreditamos que instituições educacionais comprometidas em promover o debate informado e preparar futuros cidadãos continuam sendo alguns dos lugares mais promissores para tentar essa abordagem.

O PRÓXIMO PASSO

Em estudos futuros, planejamos abordar tópicos mais controversos do que queijo ou higiene pessoal para verificar se o efeito moderador de duplas discordantes ainda se mantém. 

Por exemplo, poderíamos apresentar a duplas compostas por israelenses e palestinos postagens em redes sociais sobre a explosão no hospital al-Ahli em 27 de outubro – um evento tão controverso que o “The New York Times” ainda está com dificuldade de explicar sua atribuição inicial da explosão a uma bomba israelense em vez de um míssil da Jihad Islâmica.

Em tempos de polarização, é desafiador até mesmo colocar pessoas de lados opostos em uma mesma sala para conversar abertamente.

Observar como duplas compatíveis e discordantes verificam tais postagens forneceria insights sobre como a controvérsia de um tuíte afeta a capacidade das pessoas de verificá-lo efetivamente.

Em particular, quando são apresentadas a um tema polêmico que envolve a questão da identidade, as duplas discordantes ainda superam as outras, ou a controvérsia do conteúdo impede uma colaboração eficaz?

Muitas pesquisas sobre desinformação se concentram em quais indivíduos acreditam em notícias falsas e como elas se espalham. Poucos estudos examinam os processos através dos quais as pessoas avaliam o que leem online.

Nossa abordagem é criar situações experimentais em que essas avaliações sejam naturais e observáveis. Neste estudo, desenvolvemos uma nova configuração de pesquisa baseada no fato de que compartilhar e discutir postagens em redes sociais com outras pessoas é uma tarefa cotidiana.


SOBRE O AUTOR

Eli Gottlieb é pesquisador sênior em educação e desenvolvimento humano na Universidade George Washington. saiba mais