Maior acionista do Twitter, Elon Musk surpreende nas decisões sobre a rede

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 6 minutos de leitura

Elon Musk, o homem mais rico do planeta, segundo a lista 2022 da Forbes, tem tornado os dias do Twitter mais agitados. Antes que o mundo soubesse que ele havia comprado 9,2% da companhia por quase US$ 3 bilhões, fato anunciado no dia 04 de abril, o bilionário já havia disparado alguns tuítes que chegaram a provocar especulações sobre uma eventual nova rede social. 

Mas eram apenas questões que expôs ao público a respeito da empresa, da qual virou o maior acionista individual. Agora, convidado a fazer parte do board, Musk voltou a surpreender: resolveu que não entraria para o seleto grupo, composto por 11 pessoas.

Oficialmente, o fundador da Tesla e da SpaceX se tornaria um dos conselheiros do Twitter no sábado, 09. Tudo parecia estar certo para isso. Dias antes, um tuíte de Parag Agrawal, CEO da empresa, transmitiu entusiasmo pela novidade: Musk “traria grande valor” para o board. Afinal, o novo acionista é apaixonado pela plataforma e um intenso crítico do serviço, algo de que o conselho administrativo precisa para fortalecer a companhia no longo prazo. As palavras são de Agrawal.

No entanto, na virada do domingo, 10, para segunda, 11, o CEO do Twitter usou a rede para replicar uma mensagem que teria encaminhado ao time. Agrawal disse acreditar que a resolução seja para o melhor. “Temos valorizado e vamos continuar valorizando as colaborações de nossos acionistas, façam parte ou não do conselho. Elon é nosso maior acionista e continuaremos abertos a seus inputs”, escreveu.

A verdade é que Musk vinha gerando muito barulho em torno do Twitter – e deverá continuar fazendo isso, à sua maneira. No dia 14 de março, ele adquiriu 73.486.938 ações da companhia, mas isso só foi divulgado no início do mês. Antes, o bilionário, dono de um patrimônio calculado pela Forbes em US$ 219 bilhões (valor projetado antes da compra das ações), já havia publicado na plataforma uma enquete sobre “liberdade de expressão”. No dia 25, ele tuitou: “Liberdade de expressão é essencial para uma democracia funcional. Você acredita que o Twitter adere rigorosamente a esse princípio?”. 


No dia 26, prosseguiu: “Dado que o Twitter funciona como uma praça pública de fato, falhar ao aderir aos princípios da liberdade de expressão prejudica fundamentalmente a democracia. O que deveria ser feito?”. Foi assim que surgiram as especulações: iria ele abrir um novo negócio?


EFEITO MUSK

Quando foi divulgada a notícia de que ele havia comprado 9,2% do Twitter, a primeira declaração a esse respeito dada pelo CEO da Tesla na plataforma foi um tuíte singelo: “Oh hi lol.” Pouco depois, perguntou se os usuários gostariam de um botão de edição (74% das respostas foram sim). Nesse dia, as ações da rede subiram 27%. Era o efeito Musk atuando sobre o Twitter.

A mera presença de Musk entre os principais acionistas da rede social foi suficiente para aumentar a confiança no poder da plataforma e também no valor da marca do passarinho azul. A rede famosa pelas conversas agora está oficialmente ligada a Musk, uma das personalidades que mais soube usar o Twitter como ferramenta para obter ganhos financeiros.

Desde sua fundação, em 2003, a Tesla tem um orçamento de aproximadamente zero para a publicidade tradicional, adotando uma estratégia diferente das montadoras como Ford e GM. A companhia confia fortemente no talento de Musk para atrair mídia, o que vem conseguindo também por conta de suas piadas e nsights compartilhados no Twitter. O estilo do CEO da empresa de carros elétricos tem ajudado a companhia a ser tornar membro de um clube de corporações com valor na casa dos trilhões de dólares. 

A rede está oficialmente ligada a Musk, uma das personalidades que mais soube usar o Twitter como ferramenta para obter ganhos financeiros.

Um olhar sobre o perfil de Jim Farley, CEO da Ford, mostra que seu feed no Twitter é quase exclusivamente sobre a companhia. Já a presença de Musk na plataforma é tão marcante que ele transformou uma criptomoeda que era para ser uma brincadeira – a dogecoin, a conhecida por ter a estampa de um cachorro – em sucesso global.

Quando se trata de sua marca pessoal, Musk tem demonstrado ser à prova de balas. Antes de ser o maior acionista do Twitter, já era CEO de uma fabricante de automóveis de US$ 1 trilhão, CEO de uma empresa aeroespacial e CEO de uma companhia de interface computador-cérebro. 

Em dois desses papéis, está lidando com os seguintes escândalos (entre outras crises que tem de administrar): a Tesla está enfrentando processos judiciais, por supostamente ter uma cultura de trabalho profundamente racista; e a Neuralink foi acusada de maltratar animais e de agir de maneira fora do aceitável dentro dos círculos científicos. 

Musk demonstra que soube construir sua marca na plataforma e além dela, e de tal forma que gerou uma confiança grande nele entre seus clientes, investidores e admiradores. No Twitter, segue um caminho: escreve algo provocativo, ou perspicaz, ou até absurdo, desencadeia uma onda de reações e coberturas ao que publicou e faz tudo de novo. 

TWITTER DE MILHÕES

No mesmo dia em que avisou à cúpula do Twitter que não se juntaria ao board, Musk usou a plataforma para soltar mais um de seus tuítes com potencial para ser altamente replicando. Isso sem poupar nem mesmo a rede na qual investiu cerca de US$ 3 trilhões. O bilionário retuitou uma lista com as personalidades mais populares na plataforma.

Encabeçando esse ranking está o ex-presidente Barack Obama, com 131,4 milhões de seguidores. Depois estão Justin Bieber (114,3 milhões) e Katy Perry (108,8 milhões). Musk está em oitavo lugar, com 81 milhões de seguidores. Sobre esse Top 10, foi direto ao ponto: a maioria dessas celebridades raramente tuita, fornecendo pouco conteúdo para os usuários. Taylor Swift, a sexta colocada, com 90,3 milhões de seguidores, não publica nada há três meses, salientou. E Bieber só escreveu uma vez neste ano. “O Twitter está morrendo?”, perguntou.

É provável que seja apenas mais uma provocação. Até porque, segundo já se aventa no mercado, sua decisão de não entrar para o board pode estar relacionada a um desejo de comprar mais ações futuramente. Uma das regras da companhia impede que os conselheiros possuam mais do 14,9% de participação acionária.  

Na SEC (Securities Exchange Comission), Musk deixou aberto o caminho para, no futuro, comprar mais ações do Twitter. Na declaração, ele informou que, atualmente, não tem essa intenção, mas que pode mudar de ideia a qualquer momento. Uma parte do documento traz um detalhe interessante: Musk poderá expressar suas opiniões a respeito do negócio, de produtos ou serviços ao board ou à cúpula da companhia por meio da mídia social. 


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais