Milhões de mulheres têm TPM grave. Por que não há mais pesquisas sobre isso?

O transtorno disfórico pré-menstrual afeta cinco vezes mais pessoas do que a depressão pós-parto, mas recebeu 80% menos financiamento de pesquisa nos EUA

Créditos: Yu Kato/ Unsplash/ Kleber Cordeiro/ iStock

Shalene Gupta 3 minutos de leitura

Para as pessoas com transtorno disfórico pré-menstrual (ou TDPM, um tipo mais intenso de TPM), o período que antecede a menstruação é um pesadelo.

De repente, vêm as tempestades de raiva, as nuvens de depressão e ondas de ansiedade. Depois, tudo isso desaparece – mas só até o próximo mês. Mais de 70% das pessoas com TDPM já pensaram em suicídio e um terço já tentou.

Para a maioria das pacientes, o tratamento é simples e eficaz: anticoncepcionais ou antidepressivos. O problema é que poucas pessoas ouviram falar de TDPM, inclusive médicos, de modo que muita gente fica sem tratamento.

Em uma pesquisa realizada em 2022, mais de um terço das pacientes com o transtorno declarou que seus médicos nunca tinham ouvido falar em TDPM e 40% disseram que seus médicos psiquiatras também não conheciam.

Para piorar, ainda há muitas perguntas básicas sobre o TDPM que continuam sem resposta. O que causa o TDPM? Existe mais de um tipo? Por que os tratamentos funcionam para algumas pessoas, mas não para outras?

Um novo artigo de Liisa Hantsoo, da Universidade Johns Hopkins, e de Jennifer Payne, da Universidade da Virgínia, esclarece por que sabemos tão pouco sobre isso. Elas descobriram que as pesquisas sobre TDPM recebem 80% menos financiamento do governo do que as pesquisas sobre depressão pós-parto, apesar de afetar cinco vezes mais pessoas.

Hantsoo e Payne analisaram os números. O TDPM afeta cerca de 3% a 8% de todas as pessoas que menstruam. A depressão pós-parto afeta 12% das que dão à luz a cada ano. Se você fizer as contas usando a estimativa conservadora de 3%, o TDPM afeta 2,3 milhões de mulheres nos EUA todos os anos, enquanto a depressão pós-parto afeta 440.130.

pelo menos 60% das mulheres com depressão observam que os sintomas pioram antes da menstruação.

Mas Hantsoo e Payne também descobriram que, atualmente, há apenas nove estudos financiados para a TDPM, enquanto a depressão pós-parto tem 139.

"Vou a muitas conferências sobre a saúde mental das mulheres. Há um grande foco na saúde mental perinatal, mas nada sobre a saúde mental menstrual ou da menopausa... Fiquei muito curiosa sobre as taxas de financiamento", conta Hantsoo.

Em números absolutos, os transtornos relacionados à menstruação estão recebendo US$ 11 milhões, enquanto os estudos sobre depressão pós-parto receberam US$ 60 milhões.

CONDIÇÃO AINDA É POUCO CONHECIDA

Em seu artigo, as pesquisadoras também destacam que o número de pessoas que sofrem de transtornos do humor menstrual vai além do TDPM. Muitas pessoas podem ter sintomas de TPM que não são graves o suficiente para serem considerados TDPM, mas ainda assim são debilitantes e merecem tratamento e estudos mais aprofundados.

Além disso, os transtornos de saúde mental em mulheres são, com frequência, agravados pelo ciclo menstrual: pelo menos 60% das mulheres com depressão observam que os sintomas pioram antes da menstruação. Apesar disso, os pesquisadores observaram que a maioria dos periódicos tende a publicar estudos que se concentram na saúde reprodutiva e na gravidez.

Há um grande foco na saúde mental perinatal, mas nada sobre a saúde mental menstrual ou da menopausa

"A depressão pós-parto é importante, mas a saúde mental das mulheres vai muito além da depressão pós-parto", observa Hantsoo. "Há muitas outras questões que também merecem nossa atenção."

Um porta-voz do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH, na sigla em inglês) comentou: "o NIMH tem o compromisso de conduzir e apoiar pesquisas para entender e tratar melhor as doenças mentais, inclusive a TDPM", e forneceu um link para um estudo. Vale destacar que algumas das pesquisas mais influentes sobre o tema vieram dos laboratórios do instituto.

Um dos motivos por trás da escassez de pesquisas pode ser um problema de circulação. Se as pessoas não souberem sobre o TDPM ou como identificá-lo, haverá menos pesquisadores propondo projetos de pesquisa sobre o tema.

    O NIMH não forneceu números sobre quantas propostas de pesquisa sobre o TDPM eles recebem em comparação com projetos sobre depressão pós-parto, mas Hantsoo presume que estas superam significativamente as propostas sobre o TDPM. Afinal, se você não sabe que algo existe, como pode se propor a estudá-lo?

    Isso pode até fazer sentido. Mas não serve de consolo para os milhões de mulheres com o transtorno, que têm que lutar contra suas emoções mês após mês para manter seus relacionamentos, seu sustento e suas vidas.


    SOBRE A AUTORA

    Shalene Gupta é jornalista e escritora, co-autora do livro "The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It". saiba mais