Morre, aos 81 anos, o fotógrafo Sebastião Salgado
Em 51 anos de profissão, o mineiro, que vivia em Paris, registrou guerras, extermínio de povos e de florestas, se transformando em um ativista importante para as causas sociais e ambientais
Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro e um dos maiores do mundo, morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, em Paris. O mineiro de Aimorés abraçou a profissão há 51 anos. Registrou guerras, extermínio de povos e de florestas. Não tinha medo de estar onde os fatos aconteciam.
Em 1990, em uma viagem a Nova Guiné, na Oceania, contraiu malária e, desde então, convivia com algumas complicações da doença. Isso não o impediu de seguir com uma produção fotográfica e documental que ganhou destaque ao longo de décadas. Mas em março deste ano, descobriu estar com um tipo agressivo de leucemia (em decorrência da malária), segundo revelou sua mulher, Lélia Wanick, revelou à repórter Sônia Bridi em entrevista ao Fantástico.
Tinha especial encantamento pelos registros em P&B. Assim, por exemplo, revelou ao mundo o que acontecia no garimpo de Serra Pelada, no Pará, onde mais de 50 mil garimpeiros disputaram centímetros de terra por anos em torno do sonho da riqueza. Por conta de uma das fotos desse trabalho, Salgado passou a integrar a lista do The New York Times de 25 imagens que definiram a modernidade desde 1955.
Salgado nunca quis saber de abandonar seu compromisso com o ofício, mesmo depois de tantos reconhecimentos internacionais. Seguiu nas denúncias registradas em imagens e se assumiu como um ativista comprometido com pautas caras à sociedade, como o extermínio de populações – entre elas, a de indígenas -, as vítimas de guerras e a destruição de biomas. Para o fotógrafo, era preciso alertar para a importância da justiça social e para a preservação do meio ambiente. O comprometimento com esses temas o levou a trabalhar em mais de 100 países.
O COMEÇO DE SALGADO
O desejo de fotografar surgiu das viagens que fez à África quando ainda trabalhava na Organização Internacional do Café, graças a sua formação como mestre em economia pela Universidade de São Paulo e doutor pela Universidade de Paris.
O primeiro trabalho como fotógrafo freelancer foi em 1974, para a agência Sygma. Logo se destacou e foi contratado pela concorrente, a Gamma. Em 1979, chegou à Magnum, reconhecida pelo papel na fotografia documental no século 20 e fundada por grandes fotógrafos como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa.
Em 1994, foi a vez de Salgado fundar a agência Amazonas Images, dedicada ao seu trabalho.
AMAZÔNIA, UMA HISTÓRIA DE AMOR E VIGILÂNCIA
Dedicado ao trabalho documental, o fotógrafo viajou ao longo de seis anos pela Amazônia para documentar a população, a fauna, a flora e os rios. Assim surgiu o livro “Amazônia”, lançado em 2021.
A preocupação com o meio ambiente levou Tião, como era chamado pelos amigos, e Lélia a decidirem restaurar, em 1998, a floresta da antiga fazenda da família. O projeto, conduzido pela ONG Instituto Terra, é voltado ao plantio de árvores para a recuperação da biodiversidade da Mata Atlântica e ao desenvolvimento rural sustentável na Bacia do Rio Doce, em Minas.
Salgado recebeu uma série de prêmios internacionais. Entre eles, o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, dois Prêmios ICP Infinity de Jornalismo, o Prêmio Erna e Victor Hasselblad e o prêmio de melhor livro de fotografia do ano do Festival Internacional de Arles por Workers, por "Trabalhadores".
Ao lado de Lélia, vivia em Paris e deixa dois filhos e dois netos. Sua história virou documentário, “O Sal da Terra”, feito por um de seus filhos, Juliano Salgado, em parceria com o diretor Wim Wenders. A produção concorreu ao Oscar na categoria de melhor documentário. Seu acervo conta com mais de 500 mil imagens. Segundo a família, suas cinzas serão trazidas para o Brasil e espalhadas pelas florestas da propriedade reflorestada pela ONG.
