Musk ameaça pesquisadores que apontam discurso de ódio no Twitter
Em vez de atacá-los, ele deveria estar combatendo os conteúdos cada vez mais perturbadores, diz deputado norte-americano
X, a plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter, ameaçou processar um grupo de pesquisadores independentes cujas investigações documentaram um aumento no discurso de ódio no site desde que foi adquirido por Elon Musk no ano passado.
Um advogado representando a rede social enviou uma carta ao Centro para Contenção do Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês) no dia 20 de julho, ameaçando tomar medidas legais contra as pesquisas da organização sobre discurso de ódio e moderação de conteúdo.
A carta alegava que as publicações do CCDH pareciam ter a intenção de “prejudicar os negócios do Twitter ao afastar anunciantes da plataforma com alegações incendiárias”.
Musk se declara um defensor absoluto da liberdade de expressão e permitiu o retorno de supremacistas brancos e negacionistas à plataforma, que ele renomeou como X no mês passado. Mas o bilionário tem se mostrado sensível a discursos críticos direcionados a ele e a suas empresas.
O CCDH é uma organização sem fins lucrativos com escritórios nos EUA e no Reino Unido. Publica regularmente relatórios sobre discurso de ódio, extremismo e comportamento prejudicial em plataformas de mídia social como X, TikTok e Facebook.
CONTEÚDOS NAZISTAS E ANTI-LGBT+
A organização publicou vários relatórios críticos à liderança de Musk, detalhando um aumento no discurso de ódio anti-LGBT+, bem como desinformação climática, desde sua aquisição. A carta cita um relatório específico de junho, que constatou que a plataforma falhou em remover conteúdos neonazistas e anti-LGBT+ de usuários verificados que violaram as regras da plataforma.
Na carta, o advogado Alex Spiro questiona a competência dos pesquisadores e acusa o centro de tentar prejudicar a
Esta é uma escalada sem precedentes de uma empresa de mídia social contra pesquisadores independentes. Musk acaba de declarar guerra.
reputação da rede social. Também sugere, sem evidências, que o CCDH teria recebido fundos de alguns dos concorrentes da X, embora a organização também tenha publicado relatórios criticando o TikTok, Facebook e outras grandes plataformas.
Imran Ahmed, fundador e CEO do centro, disse à “Associated Press” que seu grupo nunca recebeu uma resposta semelhante de nenhuma outra empresa de tecnologia, apesar de estudar a relação entre mídias sociais, discurso de ódio e extremismo.
Ele afirmou que, normalmente, os alvos das críticas respondem defendendo seu trabalho ou prometendo solucionar quaisquer problemas identificados.
Ahmed teme que a resposta da X possa intimidar os pesquisadores e fazê-los desistir de estudar a plataforma. Também expressa preocupação de que outras indústrias possam imitar a estratégia.
“Esta é uma escalada sem precedentes de uma empresa de mídia social contra pesquisadores independentes. Musk acaba de declarar guerra. Se tiver sucesso em nos silenciar, outros pesquisadores serão os próximos”, alertou. Spiro e X não responderam a questionamentos até a publicação desta matéria.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO PARA QUEM?
Esta não é a primeira vez que Musk reage a críticas. No ano passado, ele suspendeu as contas de vários jornalistas que cobriram sua aquisição do Twitter.
o bilionário tem se mostrado sensível a discursos críticos direcionados a ele e a suas empresas.
Outro usuário foi banido por usar dados públicos para rastrear o avião particular do bilionário. Após o ocorrido, Musk prometeu mantê-lo na plataforma, mas depois mudou de ideia, citando questões de segurança pessoal. Também ameaçou processá-lo.
Inicialmente, ele havia prometido que permitiria qualquer discurso na plataforma, desde que não fosse ilegal. “Espero que até meus críticos mais severos permaneçam no Twitter, porque isso se chama liberdade de expressão”, escreveu em um tuíte no ano passado.
A recente ameaça de processo da X gerou preocupação no Congresso norte-americano. O deputado Adam Schiff, do partido Democrata, da Califórnia, afirmou que o bilionário estava tentando usar a ameaça de ação legal para punir uma organização sem fins lucrativos que buscava responsabilizar uma poderosa plataforma de mídia social.
“Em vez de atacá-los, ele deveria estar combatendo os conteúdos cada vez mais perturbadores do Twitter”, disse Schiff em comunicado.