Musk manda tirar as manchetes do X. Seria uma nova chance para o Threads?

Pouco a pouco, o ex-Twitter vai sumindo com funcionalidades que os usuários adoram. Os concorrentes estão atentos?

Créditos: Chesnot/ Altayb/ iStock/ Getty Images

Clint Rainey 3 minutos de leitura

Na semana passada, uma colaboradora da revista “New Yorker”, Merve Emre, tuitou um link para um perfil que ela havia escrito em 2022. Só que, horas antes, o X/ Twitter havia removido todos os títulos de artigos a pedido de Elon Musk. Ela compartilhou um artigo sobre o escritor norueguês Jon Fosse, que acabara de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura de 2023.

No entanto, a menos que você soubesse que Emre cobre literatura (por exemplo, ao ver que seu perfil tinha o título "A Busca de Jon Fosse pela Paz"), a imagem poderia parecer um retrato bizarro de Steve Bannon, ex-assessor de Trump, que se parece muito com Fosse e que estava em alta nas notícias por supostamente ter ajudado a orquestrar a destituição do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Kevin McCarthy.

a medida parece, na verdade, uma forma de dificultar o direcionamento do tráfego para sites de notícias.

A quase incapacidade de distinguir um autor premiado de um apresentador de extrema-direita tornou-se um dos inúmeros exemplos das mais recentes alterações que Musk vem fazendo na plataforma – mais uma mudança que parece mandar pelos ares sua promessa de fazer do Twitter "de longe, a fonte mais precisa de informações sobre o mundo”.

Alguns usuários estavam ansiosos para explorar a mudança nos títulos da plataforms, o que acabou se voltando contra o próprio Musk – conhecido por sua pouca tolerância a críticas. Ele confirmou a mudança: "Isso está vindo diretamente de mim", declarou em agosto, quando os planos foram revelados pela primeira vez. "[Vai] melhorar muito a estética.”

Supostamente projetada para proteger os usuários da rede social de cair em histórias falsas com manchetes sensacionalistas, a medida parece, na verdade, uma forma de dificultar o direcionamento do tráfego para sites de notícias, segundo especialistas em cibersegurança ouvidos pela Fast Company. De fato, a mudança parece não afetar anúncios pagos, que continuam sendo carregados sem qualquer alteração nos títulos.

as pessoas ainda entram no X/ Twitter para atualizações em tempo real sobre notícias e eventos esportivos importantes.

O que pode estar por trás disso seria um desejo de Musk de que o X/ Twitter seja uma plataforma na qual os usuários carreguem seu próprio conteúdo diretamente, em vez de postar links que enviam para fora do site. Nas últimas semanas, o bilionário implorou para que Taylor Swift postasse "alguma música ou vídeos de shows diretamente no X".

No começo desta semana, Musk minimizou a importância de ler as postagens dos veículos de notícias tradicionais, argumentando que ele pessoalmente "quase nunca" faz mais isso. Ao mesmo tempo, ele vem reduzindo o tráfego que leva para plataformas concorrentes, como Facebook e Substack. Também reduziu o tempo de carregamento para acessar grandes sites de notícias como o do “The New York Times” e o da agência Reuters.

O que nos leva ao Threads, o suposto "assassino do Twitter" lançado pela Meta em julho. Embora o começo tenha sido promissor, o site vem lutado para ganhar tração desde então.

A última mudança do X/ Twitter parece dar uma abertura para outras redes sociais, especialmente o Threads. O CEO do Instagram, Adam Mosseri, pareceu perceber a oportunidade. Ele escreveu que o Threads tem considerado cuidadosamente sua abordagem em relação ao conteúdo de notícias.

“Não somos contra as notícias, elas já estão no Threads", escreveu Mosseri. "Estamos simplesmente tentando evitar prometer demais e entregar de menos a um grupo incrivelmente poderoso, o que é um erro que cometemos como empresa muitas vezes no passado”, reconheceu.

Nas últimas semanas, Musk implorou para que Taylor Swift postasse "alguma música ou vídeos de shows diretamente no X".

O contexto da discussão era um artigo recém-publicado por “The Information” sobre a estratégia do Threads para reavivar o interesse dos usuários. "Estão tentando descobrir como transformar o app em um lugar onde as pessoas obtenham informações sobre eventos importantes conforme eles acontecem”, diz o artigo.

Eles perceberam que as pessoas ainda entram na o X/ Twitter "para atualizações em tempo real sobre notícias e eventos esportivos importantes.”

No entanto, isso pode mudar se as pessoas entrarem na plataforma para ver atualizações de notícias em tempo real, mas forem recebidas com um monte de imagens de arquivo da Getty que linkam para Deus sabe o quê. Comentaristas que já descartaram o Threads podem precisar reconsiderar essa decisão em breve.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais