Nike e sua polêmica campanha para as Olimpíadas: “eu sou uma má pessoa?”

O slogan "Vencer não é para todos" é uma apologia à competitividade sem rodeios

Crédito: Nike

Jeff Beer 3 minutos de leitura

Nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, a Nike lançou uma campanha publicitária que causou tremendo impacto. Em anúncios de revistas, em outdoors e até em um comercial de TV com a estrela do basquete Lisa Leslie, o slogan da empresa estava em toda parte: "Você não ganha a prata, você perde o ouro". 

A campanha foi amplamente aclamada, mas também recebeu muitas críticas. Alguns disseram que ela representava a garra e a determinação de vencer, enquanto outros enxergaram desrespeito e falta de espírito esportivo. De qualquer forma, ela provocou uma reação forte, que era exatamente o que a marca estava buscando. 

Agora, a Nike está lançando sua mais nova campanha publicitária para a Olimpíada de Paris e deve provocar reações semelhantes. Para alguns, "Winning Isn't For Everyone" (Vencer não é para todos) será um bordão para quem é extremamente competitivo. Para outros, será uma celebração dos mais arrogantes.  

Criado com a agência Wieden+Kennedy, o comercial é narrado pelo lendário ator Willem Dafoe e apresenta atletas de vários esportes. Há astros do basquete como LeBron James, Giannis Antetokounmpo, Victor Wembanyama, Sabrina Ionescu e A’ja Wilson.

Há também Serena Williams, os astros do futebol Cristiano Ronaldo, Sophia Smith e Vini Jr., bem como o velocista Sha'Carri Richardson, o esgrimista Bebe Vio, o corredor Jakob Ingebrigtsen, o astro do tênis Qinwen Zheng e muitos outros.

Os trechos com Kobe Bryant nos lembram que essa mensagem faz parte da  filosofia Mamba, desenvolvida pelo lendário jogador de basquete da NBA, mas que vai muito além do basquete. 

Eu sou uma pessoa má? Diz pra mim, sou?

Sou obstinado. Sou ardiloso.

Sou obsessivo.

Sou egoísta.

Isso faz de mim uma pessoa ruim? Por acaso eu sou um cara mau? Sou?

Não tenho empatia.

Não respeito você.

Nunca estou satisfeito.

Tenho obsessão pelo poder. Sou barulhento.

Isso faz de mim uma pessoa má?

Me diga, faz? 

Sou irracional.

Não sinto nenhum remorso.

Não tenho nenhum senso de compaixão. Sou delirante.

Sou maníaco.

Você acha que sou uma pessoa má?

Acho que sou melhor do que todo mundo.

Quero pegar o que é seu e nunca mais devolver. O que é meu é meu e o que é seu é meu.

E o vídeo termina com a frase "Ganhar não é para todo mundo". 

Fora da arena esportiva, a resposta à pergunta "Sou uma pessoa má?" seria um sonoro sim. Mas a Nike espera que a campanha deixe clara a diferença entre a vida real e o calor da competição.

Crédito: Nike

Em junho, a Nike teve sua maior queda de ações desde 2001. A empresa enfrenta concorrência acirrada nos principais esportes, como corrida, graças ao ressurgimento da Adidas, além de novos participantes como On e Hoka.

Os críticos apontam a falta de inovação e o excesso de confiança no legado da marca e em calçados como Air Jordans e Dunks, em vez de investir mais nos seus produtos de alto desempenho. 

A estratégia muito comentada do cofundador da Nike, Phil Knight, é “primeiro conquistar o mercado de atletas radicais com equipamentos de desempenho inovadores e, depois, os consumidores comuns virão”. Recentemente, a marca foi acusada de estar fazendo o contrário: ser a líder entre os amadores.

    Mas a Nike está se esforçando para reverter essa situação. Os executivos anunciaram, em uma conferência com acionistas sobre os resultados da companhia no mês passado que tênis “verdadeiramente inovadores” estão chegando no primeiro semestre de 2025.


    SOBRE O AUTOR

    Jeff Beer cobre publicidade, marketing e criatividade para a Fast Company. saiba mais