O que Elon Musk ganha com a vitória de Trump na eleição presidencial
Uma visão sobre a posição do homem mais rico do mundo nos assuntos que importam para a tecnologia
Se há uma pessoa a quem o ex-presidente Donald Trump pode agradecer por sua vitória decisiva na noite da eleição, essa pessoa é Elon Musk.
O bilionário da tecnologia impulsionou Trump a um segundo mandato com uma onda de US$ 119 milhões em financiamento para seu comitê America PAC, uma série de sorteios de US$ 1 milhão para eleitores registrados, uma série de anúncios enganosos online e uma operação agressiva de mobilização de eleitores em estados decisivos.
Isso sem mencionar como ele usou sua própria plataforma de mídia social, o X (antigo Twitter), para promover Trump e apoiar teorias conspiratórias sobre imigração e fraude eleitoral.
Dado o modo como Musk influenciou a eleição, parece inegável que ele também será um dos principais arquitetos do segundo mandato de Trump. O agora presidente-eleito já disse que o indicará como chefe de uma nova comissão focada em eliminar o desperdício no governo e passou pelo menos quatro minutos de seu discurso da vitória elogiando Musk como um "super gênio".
A questão agora é: o que exatamente Musk quer? Aqui está uma visão sobre a posição do homem mais rico do mundo nos assuntos que importam para a tecnologia.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Recentemente, Musk apoiou um projeto de lei controverso na Califórnia que exigiria que os desenvolvedores dos modelos de IA mais avançados "mitigassem o risco de danos catastróficos."
Ele postou no X sobre o projeto (que foi vetado pelo governador Gavin Newsom), afirmando que a IA deveria ser regulada "assim como regulamos qualquer produto/ tecnologia que represente um risco ao público."
De fato, Musk foi um dos que assinaram a famosa carta de 2023 que pedia uma "pausa" nos experimentos com IA. Também processou a OpenAI (organização que ajudou a fundar) por, supostamente, priorizar ambições comerciais em detrimento do interesse público.
Nada disso o impediu de seguir em frente com o desenvolvimento de sua própria startup de IA, a xAI. Ao contrário da OpenAI, o chatbot da xAI, Grok, é de código aberto, uma indicação de que Musk pode incentivar o governo Trump a adotar o desenvolvimento de IA de código aberto, em vez das abordagens fechadas favorecidas pelos concorrentes.
VEÍCULOS ELÉTRICOS
Sob o governo Biden, a Agência de Proteção Ambiental emitiu uma regra limitando as futuras emissões de escapamento de veículos para garantir que, até 2032, a maioria dos veículos vendidos seja elétrica ou híbrida. Trump prometeu revogar essa regra, à qual se refere como um "mandato de veículos elétricos," no primeiro dia de seu mandato.
Musk, por sua vez, pareceu indiferente a essa notícia. O CEO da Tesla, no passado, argumentou contra subsídios governamentais tanto para a compra de veículos elétricos quanto para infraestrutura de carregamento, dizendo que beneficiam mais os concorrentes da Tesla do que a própria empresa.
Mas é possível que ele influencie o novo governo em relação às restrições para veículos autônomos, incluindo uma investigação em andamento pela Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário sobre a tecnologia de "condução totalmente autônoma" da Tesla.
Em uma recente teleconferência de resultados, Musk disse que uma de suas principais prioridades sob um possível "departamento de eficiência governamental" seria criar um sistema federal de aprovação para veículos autônomos.
BANDA LARGA
O serviço de internet via satélite de Musk, Starlink, tem um histórico complicado com o governo federal. Sob a administração Biden, a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) negou à Starlink quase US$ 1 bilhão em subsídios que havia sido anteriormente concedido para atender residências e propriedades rurais.
A FCC argumentou que a Starlink não poderia atender às velocidades de serviço exigidas para receber as concessões. Musk disse que a comissão revogou os prêmios "ilegalmente."
Ao mesmo tempo, a Administração Nacional de Telecomunicações e Informação, responsável por distribuir US$ 48 bilhões em subsídios de infraestrutura de banda larga aprovados pela lei de infraestrutura bipartidária, disse que o serviço Starlink pode ser necessário para suprir a falta de conectividade em lugares difíceis de alcançar.
Com Trump na presidência, é provável que quaisquer barreiras que até agora impediam a implementação do serviço da Starlink sejam substancialmente reduzidas.
IMIGRANTES QUALIFICADOS
Desde o início do ano, Musk tem postado constantemente no X sobre imigração ilegal e suposta fraude eleitoral, tornando-se o tópico que ele mais discute na plataforma, de acordo com uma análise da Bloomberg.
No entanto, ele também defendeu que os EUA "aumentem grandemente a imigração legal." Musk afirmou que Trump irá "consertar" o que ele alega ser um "sistema de ponta-cabeça."
Mas se Trump pressionar pela expansão dos vistos de trabalhadores altamente qualificados, conhecidos como H-1Bs, seria uma mudança dramática em relação ao seu primeiro mandato. Em 2020, o ex-presidente emitiu suspensões temporárias tanto na emissão de novos green cards quanto de novos vistos H-1B.
CHINA
A maior área potencial de conflito entre Trump e Musk pode ser sua abordagem em relação à China. Enquanto Trump ameaçou impor tarifas de 60% sobre produtos chineses, Musk declarou ser contra tarifas sobre veículos elétricos chineses e produz metade dos veículos da Tesla na China.
No entanto, essas diferenças aparentes poderiam tornar Musk um mensageiro influente para os interesses chineses, à medida que o governo Trump enfrente uma série de questões relacionadas à China, desde tarifas a veículos elétricos e Taiwan.
CRIPTOMOEDAS
Além das grandes doações de Musk, a campanha de Trump se beneficiou de uma enxurrada de doações em criptomoedas neste ciclo. Trump, por sua vez, tornou-se um grande defensor das criptomoedas, aparecendo em uma conferência de Bitcoin, onde prometeu tornar os EUA a "capital cripto do planeta."
No cargo, Trump prometeu demitir o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês), Gary Gensler – embora seja mais provável que Gensler se demita, Isso poderia resolver outro problema para Musk: Gensler tem liderado uma investigação da SEC sobre a aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões.
MODERAÇÃO DE CONTEÚDO ONLINE
Talvez o tema que mais conecta Trump e Musk seja o da liberdade de expressão online. Restaurar a "liberdade de expressão" no Twitter foi, afinal, o principal motivo que Musk deu para adquirir a plataforma em 2022.
Trump, por sua vez, passou seu primeiro mandato criticando as big techs por suposta censura e pedindo o desmembramento das grandes empresas de tecnologia. Na época, a solução proposta era revogar a Seção 230, a lei que protege as plataformas online de responsabilidade legal pelo conteúdo postado por seus usuários.
Tal mudança seria um desastre jurídico para o X, assim como para o Truth Social, a plataforma online lançada por Trump em 2021. Não por acaso, o ex-presidente ficou praticamente em silêncio sobre a Seção 230 desta vez.