O que o e-mail de Elon Musk levanta sobre as fragilidades do trabalho presencial?

É preciso questionar se estamos construindo uma experiência positiva para trabalhadores; Accenture sugere cultura omniconectada como caminho

Crédito: Milan Csizmadia/ Unsplash

Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

Desde o começo da transição para o pós-pandemia, empresas têm sido munidas de pesquisas que mostram que a consciência e auto-valorização dos profissionais se expandiu: eles valorizam propósito junto com um bom salário, podem e vão exigir mais e acreditam em um trabalho mais flexível, tanto em termos de contrato quanto de local. 

Um contexto que fez com que a decisão de Elon Musk de exigir o retorno ao trabalho 100% presencial na Tesla fosse vista por muitos como polêmica e anacrônica. Musk, homem mais rico do mundo, recentemente tem se tornado frequentador das manchetes pelas suas decisões impetuosas, tuítes polêmicos e vida pública.

No e-mail publicado pela Reuters, com o título simples e direto “O trabalho remoto não é mais aceitável”, Musk afirma que “qualquer pessoa que deseje fazer trabalho remoto deve estar no escritório por um mínimo (e reforço, no mínimo) de 40 horas por semana ou sair da Tesla”.

A decisão dividiu opiniões dos apoiadores dos diferentes modelos de trabalh. Mas o que muitos se questionaram é se a influência de Musk pode fazer com que outras empresas sigam o mesmo caminho. “Precisamos entender que, no caso das indústrias, como no caso da Tesla,  os operários precisam operar as máquinas e, portanto, devem ir até elas”, afirma Karina Rishi, diretora de recursos humanos da Jüssi, empresa de consultoria de negócios digitais.

“Em consequência, os gestores dos operários conseguem perceber seus funcionários, entendê-los e puxar reuniões de produtividade, organização e alcance de metas, por exemplo. A presença física, mesmo para cargos de gestão, em indústrias, faz com que haja inspiração e retoma o propósito da produção a todos”, completa.

O que mais chamou atenção no e-mail, apesar das limitações da comunicação escrita para transmitir emoções, é o aparente tom seco, direto e pouco amigável da mensagem. “Ela pode ser vista, sim, como um apelo ao retorno da produtividade e criatividade nesse tipo de indústria. Mas também como algo mandatório e frio, sem considerar as pessoas, ou seja, as próprias mentes que fazem acontecer o futuro da empresa e como o retorno presencial impacta na vida de cada um”, diz Karina.

COMO LIDARCOM O MODELO PRESENCIAL?

Muitas empresas voltaram a colocar o presencial no mix, preferindo modelos híbridos. “Nem sempre os colaboradores preferem a jornada de trabalho em casa. São recorrentes os relatos de profissionais com crises de ansiedade e burnout porque sofreram com o isolamento social”, diz Rodrigo Havro Rodrigues, presidente do grupo OM  Marketing & Comunicação.

No entanto, a qualidade da relação entre empresa e colaborador parece ultrapassar a mera escolha do presencial ou remoto. Uma pesquisa recente da Accenture, intitulada “Organizational culture: From always connected to omni-connected” (Cultura organizacional: de sempre conectado a omniconectado), revela que apenas uma em cada seis pessoas se sente altamente conectada, em um sentido humano, no trabalho, sendo que as que trabalham no local se sentem menos conectadas. A pesquisa foi realizada com 1,1 mil executivos C-level e 5 mil trabalhadores, em 12 países, incluindo o Brasil

Entre os que trabalham no local, 42% dizem que não se sentem conectados, contra 36% dos que trabalham no híbrido e 22% no totalmente remoto. Segundo o relatório, embora o tempo presencial seja vital, a proximidade física que carece de suporte de liderança, flexibilidade, tecnologia ou senso de propósito não se traduz necessariamente em pessoas que sentem conexões mais profundas com seu trabalho e entre si.

apenas uma em cada seis pessoas se sente altamente conectada, em um sentido humano, no trabalho.

O papel da liderança e da comunicação transparente também são levantados como desafios no ambiente de trabalho pós-pandemia. Apenas uma em cada cinco pessoas se sente à vontade para compartilhar problemas ou levantar conflitos com colegas e só um em cada quatro relata que os líderes respondem às suas necessidades, comunicam-se regularmente e sentem que os membros da equipe são tratados igualmente.

“As pessoas e a cultura são as principais fontes de diferenciação competitiva das organizações e estão no centro do crescimento. À medida que as pessoas reavaliam suas relações com o trabalho, os líderes têm a oportunidade de fortalecer a cultura olhando além do espaço e do lugar”, afirma Ellyn Shook, diretora de liderança e recursos humanos da Accenture.

Para Karina Rishi, da Jüssi, a vida no presencial deve ser pautada por hábitos e rituais que fomentem os benefícios de se estar fisicamente no trabalho. “As empresas precisam se planejar em termos de estrutura, comunicação, organização e metodologias para que todos entendam o real propósito de se adequar a esse modelo.”

Para Rodrigo Havro Rodrigues, do Grupo OM, o caminho é entender como cada colaborador trabalha melhor e de forma integrada. “Quando isso acontece há mais foco, empatia e capacidade de geração de ideias e insights.”

CULTURA ORGANIZACIONAL OMNICONECTADA

Em seu relatório, a Accenture sugere uma cultura organizacional omniconectada como caminho para um modelo de trabalho mais pleno. Para a empresa de consultoria, há quatro ações principais para criar experiências omniconectadas:

1. Inspirar uma liderança moderna: liderar com empatia, transparência e confiabilidade.

2. Cultivar uma cultura próspera: cultive normas culturais que priorizem propósito, autenticidade e segurança psicológica.

3. Habilitar a organização ágil: leve ainda mais a flexibilidade e dimensione novas formas de trabalhar.

4. Capacitar as pessoas através da tecnologia: forneça acesso a uma base robusta e a capacidade de experimentar.

“Ao criar um ambiente onde o foco está na conexão, comunicação e promoção da confiança, os líderes estão sinalizando que o tempo e o talento de seu pessoal são respeitados e valorizados, o que nossa pesquisa mostra que paga dividendos em termos de receita e produtividade”, afirma Christie Smith, líder global de talento e organização da Accenture. Segundo o relatório, as empresas que oferecem experiências omniconectadas podem obter um crescimento anual de receita de 7,4%.


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