O que o scroll infinito faz com sua mente e como se livrar desse vício

Cientista cognitivo explica por que você rola a tela compulsivamente e como reduzir sua ansiedade

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Art Markman 3 minutos de leitura

Às vezes a gente simplesmente se sente ansioso. Pode ser que o noticiário tenha feito você se sentir mal em relação à vida, ao universo e a todo o resto. Ou talvez essa ansiedade seja algo mais pessoal. Notícias ruins recentes ou uma preocupação com seu emprego ou carreira podem deixar você inquieto.  

Uma reação muito comum a esse sentimento é passar tempo demais nas redes sociais. Você se pega pesquisando no seu feed links para matérias relacionadas ao que está sentindo e lendo sem parar artigos pessimistas na internet. Aí, quando se dá conta, já passou horas rolando a tela para baixo.

O scroll infinito não é exatamente uma novidade. Na verdade, esse hábito é apenas uma variante atual de uma resposta psicológica comum à ansiedade conhecida como "ruminação mental".

Quando estamos ansiosos, temos a tendência de passar por uma série de pensamentos relacionados à nossa preocupação. O elemento mais contemporâneo trazido pelo scroll é que a pessoa se perde tanto em seus próprios pensamentos quanto nas informações facilmente disponíveis na internet.

O problema da ruminação mental (e, por extensão, do scroll infinito) é que ela é apenas um alívio temporário. Enquanto pensa sobre o seu problema (ou lê os pensamentos de outras pessoas), você se sente um pouco melhor, porque tem a sensação de que está tomando uma atitude para lidar com a ansiedade. Na verdade, está só aliviando um sintoma, e não tratando a causa mais profunda.

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A ruminação mental e o hábito de rolar a tela compulsivamente podem, na verdade, piorar o problema. Afinal de contas, você começa ansioso com algo que está apenas na sua cabeça. Mas, quanto mais tempo passa vendo publicações nas redes sociais e lendo artigos, mais concreto o problema começa a se tornar. De repente, ele está em todos os lugares.

Além disso, nossa percepção sobre o quanto um problema está disseminado costuma estar baseada na frequência com que nos deparamos com ele. Esse mecanismo psicológico

O elemento novo trazido pelo scroll é que a pessoa se perde tanto em seus próprios pensamentos quanto nas informações disponíveis na internet.

fazia muito sentido em nosso ambiente evolutivo, no qual víamos somente as coisas da nossa vida diária, que estavam no nosso ambiente, e vivíamos com um número (relativamente) pequeno de outras pessoas que podiam fornecer informações sobre suas experiências.

Agora que temos acesso a um mundo de informações – e que também há tanta gente querendo influenciar nossas opiniões – o número de vezes que  encontramos uma informação não é mais um bom indicador de quão comum ela é no mundo. Tudo isso significa que precisamos interromper o ciclo de ruminação e de scroll infinito.

A primeira etapa desse processo de mudança é reconhecer o que você está fazendo. Quando se pegar tendo pensamentos cíclicos ou recorrendo ao celular ou ao computador para mergulhar na ansiedade, pare o que está fazendo. Depois, é preciso oferecer a si mesmo alguma alternativa de comportamento.

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Há várias maneiras eficazes de diminuir a ansiedade. Veja a seguir três passos concretos para controlar seu tempo de rolagem de tela:

1. Se estiver se sentindo muito ansioso, procure atividades capazes de acalmá-lo. Práticas de meditação, de atenção plena, respiração profunda, exercícios ou simplesmente sair para caminhar podem ajudar.

2. Escreva de forma subjetiva. Estudos demonstram que escrever sobre situações emocionalmente difíceis ou traumáticas pode ser difícil no momento, mas, em última análise, pode trazer alívio. Escrever ajuda porque tira a fonte da ansiedade de sua cabeça e também porque cria uma narrativa mais coerente em torno de sua ansiedade, o que pode facilitar sua compreensão.

3. Verifique se algum dos aspectos que estão causando ansiedade é algo que você pode resolver. Concentre suas energias em tomar medidas concretas para influenciar as questões que estão sob seu controle.


SOBRE O AUTOR

Art Markman é PhD e professor de psicologia e marketing na Universidade do Texas e diretor-fundador do Programa nas Dimensões Humanas ... saiba mais