ONU lança fórum global para governar a inteligência artificial
Líderes mundiais discutem em Nova York como limitar riscos da tecnologia e criar regras mínimas para a governança da IA

Nesta quinta-feira, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres lança um fórum internacional para discutir a governança da inteligência artificial.
A iniciativa, batizada como Diálogo Global sobre Governança da IA, vai reunir governos e outros atores para discutir cooperação internacional e compartilhar soluções. O fórum terá encontros formais em Genebra, em 2026, e em Nova York, em 2027.
Paralelamente, será iniciada a seleção de 40 especialistas – entre eles dois co-presidentes, um de país desenvolvido e outro de país em desenvolvimento – para compor um painel científico independente, comparado ao IPCC do clima e às conferências anuais da COP.
A adoção, pela ONU, de uma nova arquitetura de governança é o esforço mais ambicioso até agora para conter os riscos da IA. Tentativas anteriores, incluindo três cúpulas organizadas por Reino Unido, Coreia do Sul e França, resultaram apenas em compromissos não vinculantes.
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Para Isabella Wilkinson, pesquisadora do instituto britânico Chatham House, os novos órgãos representam “um triunfo simbólico” e são “de longe a abordagem mais inclusiva para governar a IA”.
Mas, na prática, os mecanismos podem ser “em grande parte inócuos”, já que a burocracia da ONU talvez não consiga acompanhar a velocidade da evolução tecnológica, alerta a pesquisadora.
Às vésperas do encontro, um grupo de especialistas influentes – incluindo membros da OpenAI, da DeepMind e da Anthropic – pediu que governos estabeleçam “linhas vermelhas” para a IA até o fim de 2026.
A iniciativa da ONU é o esforço mais ambicioso até agora para conter os riscos da IA
A proposta é chegar a um acordo vinculante, nos moldes de tratados que já proibiram testes nucleares, armas biológicas ou regulamentaram o uso dos mares.
“O princípio é simples: assim como fazemos com medicamentos ou usinas nucleares, podemos exigir que desenvolvedores provem a segurança como condição de acesso ao mercado”, disse Stuart Russell, professor de ciência da computação e diretor do Centro para IA Compatível com Humanos da Universidade da Califórnia.
Russell sugere que a governança da ONU siga o modelo da Organização Internacional de Aviação Civil, que coordena reguladores de diferentes países para garantir padrões de segurança comuns. Além disso, em vez de regras fixas, os diplomatas poderiam criar uma “convenção-quadro” flexível, capaz de se atualizar conforme os avanços da IA.