Países começam a banir o TikTok dos celulares de funcionários do governo

O aplicativo chinês enfrenta batalhas crescentes em 2023 – e vários países estão envolvidos

Créditos: Cottonbro Studio/ iStock

Clint Rainey 4 minutos de leitura

Um novo mercado passou a tratar o TikTok como aplicativo indesejado: a Inglaterra. O Reino Unido se tornou o terceiro governo ocidental a banir completamente a plataforma dos telefones do governo. As autoridades britânicas observaram que a medida teria “efeito imediato”, seguindo o exemplo das decisões tomadas pelos EUA e pela União Europeia.

Como já ficou claro, 2023 não tem sido um ano fácil para o TikTok. Em Washington há crescentes temores sobre os laços do aplicativo com a China. Além disso, cerca de 30 estados norte-americanos aprovaram ou introduziram projetos de lei para proibir o TikTok, criando a sensação de que talvez esses vídeos de 15 segundos estejam com os dias contados.

Em dezembro, o presidente Joe Biden assinou um ato banindo o app de todos os dispositivos usados pelo governo dos Estados Unidos.

Na verdade, 2022 também foi ruim para o TikTok. Foi o ano em que um áudio vazado revelou que os funcionários da rede social nos EUA não estão autorizados a acessar os dados do usuário, enquanto alguns de seus colegas chineses têm status de “administrador” e “acesso a tudo”.

Em dezembro, o presidente Biden assinou o No TikTok on Government Devices Act, ato banindo o aplicativo de todos os dispositivos usados pelo governo dos EUA. A Fast Company entrou em contato com o TikTok para que eles comentassem a situação mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.

SOB FOGO CRUZADO

O ano de 2021 foi só um pouco melhor para o TikTok porque o presidente Donald Trump deixou o cargo antes de conseguir efetuar a retirada do aplicativo do país. Trump havia declarado que o TikTok era uma ameaça à segurança nacional e tinha planos de bani-lo totalmente. Entretanto, a estratégia de forçar a controladora chinesa ByteDance a vender o TikTok para integrá-lo ao Walmart e à Oracle não deu certo.

Alguns analistas consideraram que a ação de Trump não passou de diplomacia desastrada e excessivamente agressiva, mas outros acham que ele foi um visionário. De toda forma, em comparação, o governo Biden tem sido menos combativo. Ou, pelo menos, essa era percepção geral do público até que as autoridades começaram a disparar ultimatos contra o TikTok e a ByteDance nos bastidores.

Fontes internas revelaram que o Comitê de Investimento Estrangeiro – um grupo de altos funcionários do poder executivo que inclui o secretário do Tesouro e membros dos departamentos de Defesa, Estado, Comércio e Segurança Interna – exigiu que os proprietários chineses do TikTok vendessem suas participações no aplicativo caso não queiram enfrentar uma proibição em todo os EUA.

As negociações ainda parecem estar paralisadas. O TikTok respondeu declarando à mídia que forçar a venda da ByteDance “não vai resolver o problema” e que mudar a propriedade do app “não imporia novas restrições aos fluxos de dados ou acesso”.

Como contraproposta, a empresa quer manter a atual estrutura de propriedade, mas investir US$ 1,5 bilhão de seu próprio bolso para bloquear as operações nos EUA. Nesse caso, todos os dados dos norte-americanos seriam armazenados (e permaneceriam) no país.

Além disso, o TikTok contrataria a Oracle como uma espécie de vigilante, que teria permissão para acessar o algoritmo altamente secreto e sinalizar quaisquer problemas de segurança.

GIGANTE DA PUBLICIDADE

No entanto, os problemas do TikTok vão muito além das suspeitas sobre ele ser ou não uma ferramenta de espionagem chinesa. Os defensores da saúde dos adolescentes não hesitaram em chamar o aplicativo de viciante, nem de culpar seu algoritmo pelo aumento da automutilação e de distúrbios alimentares entre jovens.

O TikTok se propõe a bloquear as operações nos EUA e manter todos os dados dos norte-americanos armazenados e restritos ao país.

É cada vez mais raro passarmos uma semana sequer sem que surja algum “desafio” viral prejudicial aos usuários, além de outros conteúdos nocivos promovidos pelo feed. O “desafio Kia”, por exemplo, causou recentemente milhares de roubos de carros nos EUA. O viral consistia em explorar uma falha de segurança do fabricante para furtar veículos usando um cabo USB.

Tudo aponta para uma luta gigantesca e multilateral nos próximos meses contra o TikTok. Enquanto isso, o aplicativo que mais cresce na história da humanidade se torna mais indestrutível.

Novos dados mostram que, apesar de todo o debate sobre ele ser uma ameaça à segurança nacional ou piorar a saúde mental dos adolescentes, os anunciantes ainda estão investindo muito dinheiro na rede social: 60% dos anunciantes dizem que o TikTok continua sendo sua plataforma preferida para vídeos.

Outro relatório mostrou que a participação da ByteDance nas verbas destinadas às agências de publicidade agora representa 11% de todos os gastos com mídia social.

E, é claro, há a influência do design do TikTok por toda a internet. Outras grandes plataformas de tecnologia, como Instagram, YouTube e Amazon estão se desdobrando para copiar características do aplicativo, trabalhando a todo vapor para clonar o algoritmo de recomendação da página e outros de seus elementos populares. Isso quando não tentam copiá-lo descaradamente.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais