Para o bem ou para o mal, 2022 foi o ano de Elon Musk

Tem sido um ano difícil para as empresas de Elon Musk. Mas sua marca pessoal está mais presente do que nunca

Crédito: Getty Images

Rob Walker 4 minutos de leitura

Foi um ano ruim para as marcas associadas a Elon Musk. O modo como ele está conduzindo o Twitter é desastroso e a Tesla perdeu quase metade de seu valor de mercado.

Certamente, isso prejudicou sua imagem, mas não fez com que ele desaparecesse dos holofotes. Ao contrário, sua marca pessoal está, de alguma forma, mais presente do que nunca.

Segundo o site de notícias Axios, um dos motivos por trás disso é o fato de que o engajamento com a conta pessoal do bilionário no Twitter explodiu. “Ser dono do Twitter e usar o aplicativo para apresentar e defender seus planos para a empresa ajudou a promover sua plataforma pessoal”, dizem os editores.

o engajamento com a conta pessoal do bilionário no Twitter explodiu.

O “engajamento”, nesse caso, não tem a ver apenas com o crescimento de 74% no número de seguidores, mas também com o aumento de mais 200% em citações na plataforma e 130% em respostas às suas postagens.

Obviamente, estes números também incluem as críticas negativas de céticos em relação à sua capacidade de conduzir o Twitter, ou mesmo de trolls. Mas, sem dúvida, ele está atraindo muito mais atenção.

Musk está exercendo mais influência na “praça pública” digital do que nunca. E esse parece ser cada vez mais seu objetivo de marca pessoal.

"EXAGERADO", "FALASTRÃO", "INCOMPETENTE"

A princípio, pode parecer difícil conciliar esse objetivo com tudo o que ele fez em 2022. A aquisição do Twitter foi um caos: sua defesa absoluta e irresponsável da “liberdade de expressão” combinada com demissões em massa produziu mais discursos de ódio, assustou grandes anunciantes, afastou usuários de alto nível e fortaleceu concorrentes.

Enquanto isso, a Tesla vem perdendo participação de mercado conforme a concorrência no setor de veículos elétricos cresce. Sua associação com Musk está se tornando um fator preocupante, já que ele está perdendo a fama de “inovador corajoso” e passando a ser visto como “exagerado”, “falastrão” e até “incompetente”.

Apesar da queda de US$ 99 bilhões em seu patrimônio líquido, Musk ainda tem uma fortuna de US$ 170 bilhões.

Embora a SpaceX pareça ter passado ilesa pelas críticas relacionadas a Musk, tem sofrido acusações de ser um ambiente de trabalho tóxico. A companhia de infraestrutura e construção de túneis Boring Company parece estar estagnada. Já a Neuralink é investigada por abuso de animais e a Starlink enfrenta dificuldade para atender à demanda.

Para alguém que se diz um sábio empreendedor, Elon Musk teve o que parece ser um ano de perdas, com uma queda de US$ 99 bilhões em seu patrimônio líquido em 2022 – embora ainda tenha uma fortuna de cerca de US$ 170 bilhões. Mas, quando se trata de chamar a atenção, seu desempenho é fora de série.

Musk disse sem rodeios que, quando decidiu comprar o Twitter, não o fez “para ganhar mais dinheiro” mas porque queria garantir que a plataforma funcionasse como uma “praça pública”.

O que fica cada vez mais claro é que ele se referia a uma praça pública centrada nele mesmo, decidindo sozinho quem é bem-vindo e quem não é. Quando não está fazendo isso, ele usa a plataforma para opinar sobre questões de política, mídia e cultura pop.

A VOZ DO POVO OU A VOZ DO DONO?

Mesmo seus acenos à checagem de fatos com colaboração dos usuários parecem ser feitos para que ele fique cada vez mais no centro de tudo. Musk inclusive criou uma enquete no Twitter para, ao que tudo indica, decidir sobre a volta de figuras controversas à plataforma. Mas o mais importante é que tudo isso se originou de sua conta pessoal.

Usar a própria conta para pedir a opinião dos usuários é, em certa medida, manipular o resultado. Quando diz “o povo é quem decide”, o que ele realmente quer dizer é “meu povo é quem decide”.

Quando diz “o povo é quem decide”, o que Musk realmente quer dizer é “meu povo é quem decide”.

Musk sabe bem que não pode fazer esses experimentos de forma objetiva já que, aparentemente, não está interessado na “voz do povo”. Ele quer que todos se interessem pela “voz de Musk”.

Ele está claramente disposto a pagar um preço alto para atingir esse objetivo, mas o preço pode não ser tão alto quanto seus críticos preveem (ou desejam). A plataforma, como alguns alertaram, não sofreu com a mudança na condução.

Apesar de algumas deserções de usuários importantes, Musk afirma que o tráfego real tem sido maior do que o normal. Pelo menos alguns anunciantes ainda insistem na plataforma. E, claro, o fandom que o acompanha está mais motivado do que nunca.

É engraçado pensar que ele parecia estar mais popular do que nunca há um ano, quando foi eleito a “pessoa do ano” pela revista Time. Mas seja sincero: você pensou mais em Elon Musk este ano do que no ano passado?

A resposta a essa pergunta é a razão pela qual, para o bem ou para o mal, Musk se tornou a marca do ano de 2022.


SOBRE O AUTOR

Rob Walker assina Brended, coluna semanal sobre marketing e branding. Também escreve sobre design, negócios e outros assuntos. saiba mais