Por que acreditamos em influenciadores, celebridades e teorias da conspiração
Nesta era da inquietude, muitos de nós temos “pensamentos mágicos demais”
Amanda Montell é escritora, linguista e apresentadora de podcast. Ela é autora de “Wordslut: A Feminist Guide to Taking Back the English Language” (Wordslut: Um Guia Feminista para Retomar a Língua Inglesa) e do best-seller “Cultish: The Language of Fanaticism” (Culto: a Linguagem do Fanatismo), além de apresentar o podcast Sounds Like a Cult.
Abaixo, ela compartilha cinco insights de seu novo livro, “The Age of Magical Overthinking: Notes on Modern Irrationality” (A Era do Pensamento Mágico: Notas sobre a Irracionalidade Moderna)
1. A mente humana está em conflito com a era da informação
Não é segredo que estamos enfrentando uma crise de saúde mental sem precedentes: estamos isolados, desanimados, exaustos com as telas, perdendo a fé na humanidade, pensando excessivamente, depositando nossa confiança em astrólogos do TikTok e celebridades e abraçando teorias da conspiração.
A angústia é tanta que nos faz pensar que todos se tornaram maus e que o mundo está acabando. Mas, na verdade, grande parte desse desconforto pode ser explicado pelos vieses cognitivos – truques mentais que aplicamos em nós mesmos.
Assim como uma bala Mentos em uma garrafa de refrigerante, o misticismo inato do ser humano e a Era da Informação se combinaram de forma explosiva. O capitalismo, a sobrecarga de informações e a pressão competitiva para se informar sobre tudo entraram em conflito com a nossa natureza irracional, criando uma era violentamente delirante.
2. Os vieses cognitivos são uma lente útil para entender os comportamentos bizarros das pessoas
Os vieses cognitivos são atalhos psicológicos que tomamos de forma automática e inconsciente. Eles estão por trás de muitas das escolhas misteriosas e sem sentido que vemos as pessoas fazendo hoje em dia – desde escolher não se vacinar até continuar em um relacionamento sabendo que causa sofrimento.
Diante de um excesso de informações, os vieses cognitivos fazem a mente pensar demais nas coisas erradas.
Cada viés é uma ilusão que nos permite maximizar nosso tempo, capacidades mentais e desejo de significado. O problema é que eles dominam a tomada de decisões tão naturalmente que não percebemos o quão contraproducentes muitos deles se tornaram.
Desenvolver uma consciência dos nossos vieses cognitivos nos permite ter mais compaixão pelas irracionalidades dos outros e pelo nosso próprio ceticismo. Pode ser a única maneira de sobreviver a esta era.
3. O conhecimento científico não nos torna melhores em discernir fatos
Este é um exemplo perfeito de como mais informação não ajuda o mundo a fazer mais sentido. Um experimento de 2011 da Universidade de Yale concluiu que adquirir conhecimento científico fazia com que os participantes do estudo ficassem menos dispostos a considerar pontos de vista com os quais não concordavam. Por quê? Informações adicionais apenas os ajudavam a defender suas crenças.
“A polarização cultural na verdade aumenta, não diminui, conforme adquirimos conhecimento científico”, concluíram os autores do estudo. “À medida que pessoas comuns aprendem mais sobre ciência, elas se tornam mais habilidosas em buscar e dar sentido – ou, se necessário, explicar – às evidências que reafirmam as posições de seu grupo.”
4. O culto a celebridades é uma das maneiras pelas quais a ilusão se tornou mainstream
Nesta era de solidão em massa e perda de identidade, os jovens estão investindo cada vez mais em relacionamentos parassociais com celebridades, que idolatram não apenas como artistas, mas como salvadores.
Um estudo de 2021 publicado na “North American Journal of Psychology” mostrou que o culto a celebridades aumentou dramaticamente em comparação com duas décadas atrás.
o misticismo inato do ser humano e a Era da Informação se combinaram de forma explosiva.
Um exame clínico de 2014 concluiu que altos níveis de adoração a celebridades estão associados a dificuldades psicológicas, incluindo “preocupações com a imagem corporal, maior propensão à cirurgia estética, busca de sensações, rigidez cognitiva, difusão de identidade e falta de limites interpessoais.”
Não há nada de errado em admirar uma celebridade. Mas, quando faltam “estressores positivos” na vida das pessoas, elas podem acabar se perdendo em relacionamentos que não são reais. Isso é responsável pelo culto extremo a celebridades.
5. Entender o “pensamento mágico excessivo” pode aliviar o mal-estar mental
O “pensamento mágico” clássico é definido pela crença de que pensamentos podem afetar eventos externos. Em momentos de incerteza, desde a morte de um ente querido até uma pandemia mundial, mesmo mentes “razoáveis” começam a oscilar.
Embora este seja um hábito antigo, o pensamento excessivo parece distinto na era moderna. Diante de um excesso repentino de informações, os vieses cognitivos fazem a mente pensar demais nas coisas erradas. Ficamos obcecados de forma improdutiva sobre as mesmas paranoias, enquanto ignoramos questões complexas que merecem mais atenção.
Pode ser cansativo apenas existir como um humano neste mundo, mas isso não é um problema individual. É porque, nesta era da inquietude, muitos de nós temos “pensamentos mágicos excessivos”.
Este artigo foi publicado originalmente no Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original.