Por que tantos homens da geração Z resolveram votar em Donald Trump

Trump conquistou os homens jovens com mais de 10 pontos de vantagem, graças às bolhas midiáticas, à apatia política e ao fatalismo econômico

Crédito: Fast Company Brasil

Henry Chandonnet 5 minutos de leitura

Por anos, os jovens foram vistos como defensores do progressismo, os luminares destemidos que salvariam as gerações mais velhas dos demagogos que elas escolhiam. Mas, em 2024, quatro em cada 10 jovens norte-americanos votaram em Donald Trump.

O grupo que se destacou foram os homens jovens, que optaram por Trump em massa. As primeiras estimativas mostram que Trump tem uma vantagem de 14 pontos entre homens de 18 a 29 anos.

Isso pode ser surpreendente; afinal, os homens jovens vinham votando consistentemente no Partido Democrata nas eleições anteriores, chegando a um apoio de apenas um dígito aos Democratas em 2022.

Mas a verdade é que os homens jovens estão em crise política. Como estudante universitário, vejo isso todos os dias: rapazes da minha idade estão cada vez mais presos em bolhas de mídia, envolvidos em um desinteresse pelo sistema político e perspectivas econômicas devastadoras.

Os analistas adoram apontar questões sociológicas como a “crise da masculinidade” – que certamente existe para alguns. Mas, na prática, parece que os homens jovens perderam a fé na democracia e, consequentemente, no Partido Democrata. Em resumo, eles pararam de se importar.

COMO OS HOMENS JOVENS DESISTIRAM DA POLÍTICA

Nos últimos quatro anos, vi os jovens ao meu redor se afastarem cada vez mais da política. Alguns deles tinham motivos relacionados a questões específicas, como o apoio dos Estados Unidos à guerra em Gaza. A maioria, no entanto, simplesmente começou a sentir que os legisladores não faziam nada.

Quase ninguém da minha geração fala sobre o Ato de Redução da Inflação de Joe Biden ou a série de ordens executivas de Trump. Para muitos, a última mudança política significativa (fora algumas decisões importantes da Suprema Corte) ainda é o Affordable Care Act, que ficou conhecido como Obamacare, aprovado há cerca de 14 anos (criado para aumentar o acesso da população a planos de saúde).

Enquanto isso, a cena política atual polarizada começa a parecer normal. Vamos lembrar que a maioria dos homens jovens cresceu nos anos após a ascensão de Trump. O último republicano não-Trump a concorrer em uma chapa presidencial, Mitt Romney, foi candidato quando eu tinha nove anos.

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Para as gerações mais velhas, ainda há um certo choque com os excêntricos do movimento de direita MAGA (acrônimo de Make America Great Again, ou faça a América grande novamente), lembrando a era do puritanismo republicano. Para os jovens, é tudo o que eles conhecem.

Isso não quer dizer que todos os jovens eleitores de Trump estejam apenas desiludidos; muitos apoiam fervorosamente suas políticas e crenças. Mas, há apenas quatro anos, havia uma cultura mais forte de vergonha e abandono. Os jovens democratas se colocavam como símbolos de moralidade, demonstrando aos seus colegas como uma vitória de Trump sobre Biden os prejudicaria profundamente.

Agora, muitos dos eleitores democratas ao meu redor estão quietos. Na eleição de 2020, quando eu estava no ensino médio, estudantes liberais começaram a fazer campanha antes mesmo de terem idade para votar. Este ano, muitos ficaram relutantes em postar adesivos de “Eu Votei” em suas redes sociais.

BOLHAS DE MÍDIA TORNARAM TRUMP AMIGO DOS JOVENS

Enquanto a apatia crescia, as bolhas de mídia encolheram. Enquanto as gerações mais velhas lamentam a diminuição da confiança na mídia (de fato, está no nível mais baixo de todos os tempos), muitos jovens se desligaram da mídia de notícias completamente: 39% dos jovens adultos disseram ao Pew Research Center que obtêm suas notícias no TikTok.

Com a atenção esmagada pela mídia social, é raro ouvir jovens falando que leem algo. “Eu li em algum lugar” virou “eu vi no TikTok”. Quando vejo meus colegas abrindo o "The New York Times" em aula, é quase sempre para jogar o caça-palavras.

Enquanto isso, as notícias nas redes sociais são reguladas por algoritmos altamente especializados. Liberais online adoram reclamar que esses eleitores de Trump são todos “incels,” radicalizados por um ódio à cultura “woke” e uma admiração por Andrew Tate.

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Eles não estão totalmente errados: tópicos hipermasculinos ainda dominam o Reddit e o 4chan. Mas isso é uma simplificação. Muitos jovens conservadores não estão mergulhados no lado obscuros da internet, mas simplesmente privados de informações políticas relevantes. Se você sinalizar para o TikTok que as atualizações da campanha de Kamala Harris não são de interesse, ele não vai mostrá-las para você.

O lugar onde esses jovens “bros” realmente se encantaram por Trump foi em espaços mais amigáveis. Aparições em podcasts de Mark Calaway, Andrew Schulz, Theo Von, Adin Ross e Lex Fridman fizeram Trump parecer mais humano.

Ele não era o instigador da insurreição violenta de 2020; era um cara tranquilo falando de luta livre. No TikTok, Trump passou de ameaçador para engraçado, com compilações de seus momentos mais humorísticos acumulando milhões de curtidas.

FATALISMO ECONÔMICO CRESCENTE

Enquanto analistas – e aí eu me incluo – tentam dissecar a dinâmica sociológica desse bloco de eleitores, não podemos ignorar a tensão econômica subjacente. Os jovens estão feridos pela situação econômica.

Vi minha conta de supermercado subir nos últimos anos, algo mais difícil de suportar com um orçamento de estudante. Com os preços dos imóveis disparando, grande parte da minha geração resignou-se a nunca conseguir comprar a casa própria.

Harris tinha fortes planos econômicos, também. Ela ofereceu uma ampliação do crédito tributário para crianças, plano de assistência para pagar a entrada em imóveis residenciais, aumento nas deduções fiscais para custos de startups e assim por diante.

Nos últimos quatro anos, vi os jovens ao meu redor se afastarem cada vez mais da política.

Biden, por sua vez, não destruiu a economia: o PIB real está em alta, o desemprego está em baixa e a ameaça da inflação está quase neutralizada. Mas nada disso apareceu no branding da campanha, que focou mais em salvar a democracia e “não voltar atrás.” Quer gostemos ou não, Trump foi o candidato da economia neste ciclo eleitoral.

Em julho, o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz, chamou Trump de “esquisito”, uma zombaria que ajudou o governador de Minnesota a conseguir a vaga na chapa democrata.

Mas, para muitos homens da geração Z, Trump não era esquisito; ele era alguém que falava com seus influenciadores e podcasters favoritos. Isso o tornou uma espécie de colega – mesmo que, em última análise, falso.


SOBRE O AUTOR

Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais