Portas que caem, pneus que estouram – está mais perigoso viajar de avião?
Autoridades da indústria dizem que os eventos mais preocupantes envolvem problemas com controles de voo, motores e integridade estrutural
Houve uma época em que coisas como para-brisas trincados e problemas menores de motores em aeronaves raramente viravam notícia. Mas isso mudou em janeiro, quando um painel que cobria o espaço destinado a uma porta de emergência não utilizada se soltou de um avião da Alaska Airlines, a quase cinco mil metros de altitude.
Os pilotos pousaram o Boeing 737 Max com segurança. Mas, nos Estados Unidos, a cobertura da mídia sobre o caso rapidamente ofuscou um acidente fatal em uma pista de pouso em Tóquio, ocorrido três dias antes. E a preocupação com a segurança aérea – especialmente com aviões Boeing – não diminuiu desde então.
O último acidente fatal envolvendo um avião comercial nos EUA ocorreu em fevereiro de 2009. Mas a ausência de eventos trágicos neste longo período não reflete totalmente o estado da segurança. Nos últimos 15 meses, uma série de eventos tem chamado a atenção de reguladores e passageiros.
O Conselho Nacional de Segurança do país estima que seus cidadãos têm uma chance de um em 93 de morrer em um acidente de carro, enquanto as mortes em aviões são tão raras que não é possível calcular a probabilidade.
Os números do Departamento de Transporte contam uma história semelhante. “Este é o meio de transporte mais seguro já criado”, argumenta Richard Aboulafia, analista e consultor aeroespacial.
No entanto, um painel de especialistas relatou em novembro que a escassez de controladores de tráfego aéreo, tecnologia de rastreamento de aviões desatualizada e outros problemas representam uma ameaça crescente à segurança no céu.
“A erosão da margem de segurança causada pela confluência desses desafios está tornando o nível atual de segurança insustentável”, afirmou o grupo em um relatório.
ONDE O DESIGN E A FABRICAÇÃO ENTRAM NISSO?
Há uma variedade de problemas que podem ser atribuídos a fabricantes de aviões. Alguns são erros de projeto. Em outros casos, como o da aeronave da Alaska Airlines, parece que foi um erro cometido no chão de fábrica.
A qualidade da fabricação também pode causar uma série de outros incidentes. Mas há uma máxima na aviação que diz que a falha de uma única peça não é o suficiente para derrubar um avião.
No início de março, um pneu caiu de um Boeing 777 da United Airlines que partia de São Francisco e uma aeronave da American Airlines precisou fazer um pouso de emergência em Los Angeles com um pneu furado.
No mesmo mês, um pedaço faltando do revestimento de alumínio foi descoberto em um Boeing 737 da United que pousou no estado de Oregon. Mas, diferentemente do avião da Alaska Airlines que sofreu o rompimento do painel, esta aeronave tinha 26 anos. A manutenção é responsabilidade da companhia aérea.
Até mesmo pequenas coisas importam. Após um Boeing 787 da LATAM voando da Austrália para a Nova Zelândia entrar em queda livre – e se recuperar –, a fabricante lembrou às companhias aéreas de inspecionar interruptores para motores que movem os assentos dos pilotos. Relatórios publicados afirmaram que uma comissária de bordo teria acionado acidentalmente o interruptor, o que provavelmente causou o mergulho.
Em alguns casos, as investigações apontam para prováveis falhas na manutenção, mas muitos incidentes também são causados por erros cometidos por pilotos e controladores de tráfego aéreo.
No ano passado, quando um avião cargueiro da FedEx prestes a pousar em Austin, no Texas, sobrevoou próximo a uma aeronave da Southwest Airlines que estava decolando, ficou claro que um controlador de tráfego aéreo havia autorizado ambos a usar a mesma pista.
SEPARANDO O SÉRIO DO ROTINEIRO
Autoridades da indústria dizem que os eventos mais preocupantes envolvem problemas com controles de voo, motores e integridade estrutural.
Outras coisas, como para-brisas trincados e aviões colidindo na pista de pouso raramente representam uma ameaça à segurança. Luzes de aviso podem indicar tanto um problema quanto um alarme falso.
“Nós levamos todos os eventos a sério”, afirma o ex-membro do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA John Goglia, citando que essa vigilância contribui para o longo período sem acidentes fatais. “O desafio que temos na aviação é tentar mantê-la assim.”