Posts da Rússia e da China no Twitter têm mais visibilidade com mudanças de regras

Mudanças recentes na rede social estão tornando mais fácil para governos autoritários atrair novos seguidores e disseminar propaganda e desinformação

Crédito: Jeff Chiu/ AP

David Klepper 3 minutos de leitura

De acordo com pesquisadores, as recentes mudanças no Twitter estão beneficiando contas administradas pelos governos da Rússia, China e Irã, tornando mais fácil para eles atrair novos seguidores e disseminar propaganda e desinformação para um público maior.

A plataforma agora não sinaliza mais agências de mídia e propaganda controladas pelo Estado, nem proíbe que seu conteúdo seja automaticamente promovido ou recomendado aos usuários.

Em conjunto, as duas mudanças, feitas nas últimas semanas, aumentaram o poder do Kremlin de espalhar mentiras e alegações enganosas sobre a invasão da Ucrânia, sobre a política norte-americana e outros tópicos na plataforma.

O Twitter não sinaliza mais agências de mídia e propaganda controladas pelo Estado nem proíbe que seu conteúdo seja promovido.

As contas da mídia estatal russa agora recebem 33% mais visualizações do que algumas semanas atrás, antes da mudança, de acordo com a Reset, uma organização sem fins lucrativos de Londres que rastreia o uso de mídias sociais por governos autoritários para disseminar propaganda. A “Associated Press” foi a primeira a divulgar as descobertas.

O aumento equivale a mais de 125 mil visualizações adicionais por postagem. Entre os posts estão insinuações de que a CIA esteve envolvida nos ataques de 11 de setembro de 2001, que os líderes da Ucrânia estariam desviando ajuda estrangeira e que a invasão da Rússia se deu porque os EUA tinham laboratórios clandestinos de armas biológicas no país.

As agências de mídia estatais do Irã e da China também tiveram aumentos semelhantes em engajamento.

PROTESTO DAS EMISSORAS PÚBLICAS

Desde que Elon Musk comprou a plataforma, no ano passado, várias mudanças controversas ocorreram. Ele introduziu um novo sistema de verificação confuso e demitiu grande parte dos funcionários, incluindo aqueles dedicados a combater a desinformação.

Além disso, permitiu a volta de neonazistas e outros usuários anteriormente suspensos e acabou com a política do site que proibia a disseminação de informações perigosas sobre a Covid-19. Com isso, o discurso de ódio e a desinformação aumentaram.

As contas da mídia estatal russa agora recebem 33% mais visualizações do que algumas semanas atrás.

Antes das mudanças mais recentes, o Twitter afixava rótulos que indicavam se tratar de uma “mídia afiliada ao Estado russo” para informar aos usuários a origem do conteúdo. Também diminuía o alcance do Kremlin, impedindo que o conteúdo das agências fosse automaticamente promovido ou recomendado – algo que regularmente faz para contas comuns como uma forma de ajudá-las a atingir maiores públicos.

Os rótulos desapareceram depois que a National Public Radio (NPR), rádio pública norte-americana, e outros veículos de mídia, como a britânica BBC, protestaram contra os planos de Musk de também sinalizá-los como afiliados ao Estado. A NPR anunciou que não usaria mais o Twitter, dizendo que o rótulo era enganoso, dada a sua independência editorial, e que causaria danos à sua credibilidade.

CONTEÚDO PATROCINADO PELO ESTADO

As conclusões da Reset foram confirmadas pelo Laboratório de Pesquisa Forense Digital (DFRL) do Atlantic Council. Os pesquisadores descobriram que a mudança provavelmente ocorreu no final do mês passado. Muitas das dezenas de contas anteriormente rotuladas estavam perdendo seguidores constantemente. Mas, após a mudança, elas viram um aumento considerável.

Os pesquisadores descobriram que a mudança provavelmente ocorreu no final do mês passado.

O número de seguidores da RT Arabic, uma das contas de propaganda mais populares da Rússia no Twitter, caiu para menos de 5,23 milhões no dia 1º de janeiro, mas se recuperou depois que a mudança foi implementada, de acordo com o DFRL. Hoje, ela tem mais de 5,24 milhões de seguidores.

Antes, os usuários interessados na propaganda do Kremlin tinham que procurar especificamente pela conta ou pelo conteúdo. Agora, ele pode ser recomendado ou promovido como qualquer outro.

“Os usuários do Twitter não precisam mais buscar ativamente por conteúdo patrocinado pelo Estado para vê-lo na plataforma; podem apenas recebê-lo”, concluiu o DFRL.

O Twitter não respondeu quando perguntado sobre a mudança ou o que a motivou. Musk fez comentários no passado sugerindo que vê pouca diferença entre as agências de propaganda de governos autoritários e os meios de comunicação independentes do Ocidente.

“Todas as fontes de notícias são em parte propaganda”, tuitou ele no ano passado, “algumas mais do que outras”.


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