Quais são os profissionais mais requisitados no novo mundo da IA?
Especialistas indicam as funções que estão em alta e apontam os desafios a serem enfrentados agora e no futuro
Com o rápido desenvolvimento das plataformas de inteligência artificial, muitos cargos e funções podem desaparecer nos próximos anos, de acordo com o relatório Futuro do Trabalho, do Fórum Econômico Mundial.
Entre 2023 e 2027, por exemplo, a previsão é de que profissões como balconista, secretário administrativo e vendedor de porta em porta deixem de existir. Ao mesmo tempo, novas funções, categorias e especialidades devem aparecer.
Por isso, a inteligência artificial se tornou tema central das discussões sobre tecnologia e mercado de trabalho nos últimos meses. Muito além de gerar respostas instantâneas a questões complexas, a IA tem demonstrado potencial para assumir atividades que, antes, apenas humanos eram responsáveis por realizar.
A qualificação para empregos em IA no Brasil passa por diversos desafios, aponta Angélica Mari, CEO e cofundadora da plataforma de inteligência Futuros Possíveis. Entre eles:
- Acesso a educação de qualidade
- Alto custo da qualificação
- Necessidade de adaptação a rápidas mudanças tecnológicas
- Potencial saturação do mercado de trabalho
- Barreiras linguísticas
- Hardware e dados de qualidade para o desenvolvimento de experiência na prática
Segundo dados da Futuros Possíveis, seis em cada 10 pessoas temem ser substituídas não por tecnologias como a inteligência artificial, mas por alguém que utilize essas ferramentas melhor do que elas.
Para Angélica, considerando as múltiplas barreiras, a oportunidade de fazer uma transição bem-sucedida para funções ligadas à IA geralmente está nas mãos de pessoas que têm os recursos, o tempo e o acesso necessários à educação.
"Isso ressalta a necessidade de amplas intervenções sociais e políticas para garantir oportunidades iguais para todos que desejam ingressar em um mercado de trabalho no qual a IA se faz cada vez mais presente", afirma.
EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO
A possível escassez de profissionais de TI para atividades relacionadas à IA precisa também ser encarada como um desafio. "É importante que as empresas invistam em educação corporativa, para ajudar a qualificar seus colaboradores e desenvolver profissionais ainda mais capacitados", diz Fábio Falcão, CEO da startup especializada em aplicações de inteligência artificial IARIS.
seis em cada 10 pessoas temem ser substituídas não por tecnologias como IA, mas por alguém que utilize essas ferramentas melhor do que elas.
Há também possibilidades de ampliação e criação de novas funções relacionadas ao tema. "É muito difícil prever o futuro nesse caso, pois estamos passando por uma mudança muito grande e que pode ser disruptiva para diversos mercados", pondera Matheus Danemberg, fundador e CEO da consultoria em estratégias de tecnologia nav9.
O consultor acredita que o melhor caminho é se concentrar em compreender os fundamentos por trás do uso dessa tecnologia e aprender a utilizá-los para acelerar o desenvolvimento dos negócios.
“Quem estiver conectado com essa ideia de geração de valor utilizando a IA como meio para atingir os fins de negócio vai, com certeza, ter espaço – seja em cargos que já existem ou em novos que surgirão", afirma.
Na avaliação feita pelo ecossistema de inovação e tecnologia BizHub, muitos dos cargos necessários para uso de IA já existem e serão ainda mais demandados, como é o caso dos designers conversacionais. Responsáveis pela adaptação das interfaces aos atendimentos, eles trabalham com experiência do usuário (UX), mas poderão adquirir uma nova habilidade para treinamento de IA.
Já redatores e designers estarão mais propensos a se adaptarem à IA. “São profissões que não necessariamente vão acabar, mas que podem se tornar especialistas em utilizar a tecnologia a seu favor, ganhando mais escala nas suas entregas”, afirma Ricardo Bonora, cofundador do BizHub.
Para Falcão, da IARIS, profissionais de TI e engenharia da computação – como desenvolvedores, programadores e engenheiros de software – serão cada vez mais procurados, uma vez que já estão imersos nos processos de planejamento, estruturação e criação de sistemas e aplicativos tecnológicos.
Alguns cargos são novos e intrinsecamente relacionados com IA. Por exemplo, para que os computadores consigam operar com base em dados e algoritmos, os engenheiros de machine learning serão cruciais, pois são responsáveis pela programação e treinamento dos modelos computacionais para execução de tarefas específicas.
Outra função que provavelmente ganhará ainda mais atenção é a de designer de prompts para IA. Prompts são perguntas, instruções e demandas comuns que o usuário faz para a máquina. A missão do designer de prompts é identificar as principais necessidades dos usuários ao interagir com uma inteligência artificial.
os profissionais precisam desenvolver novas habilidades para trabalhar de maneira eficaz com tecnologias de IA.
Para Angélica, o desenvolvimento das muitas sub-disciplinas da IA fará com que o mercado de trabalho se mantenha em constante evolução. "A inteligência artificial tem sido aplicada em vários campos, como na área da saúde, em funções como radiologia e análise de dados. Isso demanda treinamento e recapacitação de profissionais”, aponta.
O caso do setor de saúde ilustra como setores específicos estão avançando para integrar essas tecnologias. Para tanto, eles precisarão de profissionais flexíveis o suficiente para responder às mudanças, analisa a CEO da Futuros Possíveis.
CRESCIMENTO PROFISSIONAL
Não se limitando a gerar ou extinguir ocupações, a inteligência artificial tem o potencial de revolucionar muitas profissões. A tecnologia permite a automação de tarefas, incentiva a criatividade e propicia o aprendizado, aumentando a produtividade e dando mais autonomia ao trabalhador.
Assim, um profissional em início de carreira que domina a ferramenta é capaz de desempenhar funções mais avançadas que sua posição. O mesmo acontece com os funcionários plenos e de nível sênior. A inteligência artificial permite expandir as habilidades e competências de todas as categorias.
"O uso crescente de ferramentas de IA começou a mudar muitos papéis tradicionais em todos os setores”, afirma Angélica. Ela cita como exemplo os profissionais de recursos humanos, que têm usado sistemas com IA embarcada para automatizar o processo de triagem de currículos e pré-seleção de candidatos.
Na hora da seleção, há chatbots para lidar com as entrevistas iniciais e a análise orientada por IA pode ser usada para avaliar as respostas dos candidatos. Além disso, a análise de profissionais de RH pode se valer da IA para identificar tendências e padrões relacionados ao desempenho e retenção de funcionários.
Outro exemplo são os gestores e analistas de marketing, que passaram a usar a IA para segmentação, análise preditiva, publicidade personalizada e análise de comportamento do cliente. Na área de finanças, a IA foi integrada em vários cenários, em funções como analista de detecção de fraudes e gestor de riscos.
"Isso significa que os profissionais precisam desenvolver novas habilidades para trabalhar de maneira eficaz com as tecnologias de inteligência artificial", avisa Angélica.