Trabalhar pode ser remédio para a saúde mental? Psicóloga de Harvard explica os benefícios

A atividade profissional ajuda a manter rotina, vínculos sociais e autoestima, além de proteger a saúde mental

Pessoa sentada, com o rosto encostado nos joelhos e mãos cobrindo o rosto, com relógio ao fundo, representando ansiedade.
Crédito: Tohamina/ Freepik

Flávio Oliveira 2 minutos de leitura

Organizações que negligenciam a saúde mental — que, ignorado, pode levar a casos de ansiedade e depressão de seus funcionários — podem estar prejudicando a própria performance. Essa é uma das conclusões de um estudo recente publicado na Psychiatric Research & Clinical Practice, repercutido pela CNBC.

A pesquisa acompanhou 250 adultos, entre 18 e 60 anos, diagnosticados com transtorno de ansiedade social. Ao longo de um ano, os cientistas registraram quantas horas essas pessoas trabalhavam semanalmente e monitoraram os sintomas de ansiedade e depressão. O objetivo era entender como o estado emocional interferia na produtividade.

Ansiedade e depressão afastam profissionais do ambiente de trabalho

Funcionários e líderes sofrem os impactos da saúde mental fragilizada, explica Natalie Datillo, psicóloga clínica e professora da Harvard Medical School. Ela ressalta que, embora sejam quadros distintos, tanto a depressão quanto a ansiedade levam ao isolamento social.

“O evitamento vem acompanhado de retraimento e distanciamento, o que reduz nossas oportunidades de viver experiências positivas e motivadoras”, afirma.

A rotina de trabalho como aliada da saúde emocional

Trabalhar pode funcionar como um fator de proteção para a saúde mental — e essa dimensão muitas vezes é ignorada: "O trabalho tem um impacto positivo na nossa saúde emocional”, diz Datillo.

De forma geral, estar inserido no mercado de trabalho nos faz bem. Ele oferece estrutura, preenche nosso tempo, promove a interação social e, claro, garante uma fonte de renda".

“Quanto mais evitamos, menor a chance de nos sentirmos melhor”

Pessoas com características ansiosas podem sentir desconforto ao ir ao escritório, fazer apresentações ou interagir com colegas. No entanto, quem não tem um transtorno costuma conseguir enfrentar esses desafios e, muitas vezes, se sente melhor depois.

“Em geral, conseguimos nos organizar, cumprir a tarefa e sair dela com uma sensação positiva”, explica a psicóloga. “Mas quem vive com um transtorno de ansiedade não sente esse alívio. Essas pessoas passam o restante do dia ruminando, analisando tudo o que disseram ou fizeram, e se preocupando com a opinião dos outros.”

Quando a depressão entra em cena, o quadro se agrava. A autocrítica excessiva pode levar a faltas, saídas antecipadas e ainda mais isolamento. De forma paradoxal, evitar o trabalho tende a intensificar os sintomas de depressão e ansiedade, alerta Datillo.

“Quanto mais nos afastamos das atividades e evitamos o convívio, menos acessamos situações que poderiam melhorar nosso estado emocional.”

Investir em saúde mental é bom para os profissionais — e para o negócio

Além disso, vale citar que empresas que demonstram cuidado com a saúde mental de seus funcionários não estão apenas cumprindo seu papel social — também estão promovendo um ambiente mais saudável e produtivo. Ao priorizar o bem-estar emocional no trabalho, tendo atenção a casos de ansiedade e depressão, elas ajudam a manter o engajamento, reduzir o absenteísmo e melhorar os resultados.


SOBRE O AUTOR

Jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco e mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Com passagem pel... saiba mais