YouTube testa os limites do arrependimento dando uma chance a creators banidos

O novo programa piloto da plataforma permite que alguns YouTubers expulsos por desinformação retornem sob regras flexibilizadas

porta aberta com logotipo do YouTube ao fundo
Créditos: José Castillo/ Lorenzi/ Unsplash

Taylor Hatmaker 3 minutos de leitura

O YouTube está dando a alguns creators banidos por espalhar desinformação a chance de voltar à plataforma. A empresa lançou um programa piloto que convida usuários expulsos sob regras que já não estão em vigor a solicitar a criação de um novo canal.

O processo de “segunda chance” foi anunciado no mês passado, descrito pela companhia como um “projeto piloto limitado” voltado a criadores cujos canais foram suspensos com base em políticas que já não estão mais em vigor.

Nem todos terão direito a esse retorno. O YouTube esclareceu que certas suspensões continuarão válidas, entre elas, as aplicadas por violação de direitos autorais e das regras contra abuso e violência fora da plataforma.

Os casos que se enquadrarem nas regras da "segunda chance" verão, nas próximas semanas, a opção de solicitar um novo canal por meio do YouTube Studio. “Estamos animados para oferecer aos criadores a oportunidade de recomeçar e trazer suas vozes de volta à plataforma”, afirmou o YouTube em um comunicado.

Os creators aprovados não vão poder voltar com seus antigos canais – eles terão que começar um novo do zero. O YouTube descreve o programa como um “recomeço”, embora permita que, a partir de 2025, vídeos antigos que não violem as políticas da plataforma sejam reenviados. Uma vez aprovado o novo canal, não haverá restrições à monetização.

O programa piloto se aplica a contas banidas há pelo menos um ano. Já os creators suspensos mais recentemente devem recorrer ao processo tradicional de apelação. Aqueles que tiverem sucesso nessa via poderão recuperar seus canais originais, sem passar pelo novo programa.

POLÍTICAS SEGUEM O RITMO DA POLÍTICA

Como outras redes sociais, o YouTube tem revertido parte de suas políticas de moderação de conteúdo nos últimos anos. Após estabelecer, durante o governo do presidente Joe Biden, regras rigorosas contra desinformação, a empresa vem flexibilizando essas normas.

Segundo a companhia, a decisão de encerrar as regras sobre desinformação eleitoral buscou “permitir discussões sobre possíveis fraudes, erros ou falhas generalizadas nas eleições presidenciais de 2020 e anteriores”.

figura de um corpo caindo com logotipo do YouTube ao fundo
Créditos: Pexels/ Pixabay/ Steve Johnson e Eyestetix Studio/ Unsplash

Desde 2023, o YouTube também vem revertendo restrições a conteúdos relacionados à Covid-19 e às vacinas. “O YouTube continua comprometido em promover a diversidade de perspectivas e acredita que os creators devem poder debater abertamente ideias políticas na plataforma”, afirmou. A empresa acrescentou que as Diretrizes da Comunidade agora “permitem uma gama mais ampla de conteúdos” nesses temas.

O YouTube também afirmou valorizar “as vozes conservadoras” e reconheceu que esses criadores “têm grande alcance e papel importante no debate cívico”. Segundo a carta, “esses criadores estão entre aqueles que moldam o consumo online atual, realizando entrevistas imperdíveis e oferecendo aos espectadores a chance de ouvir diretamente políticos, celebridades e líderes empresariais”.

PRESSÕES POLÍTICAS E ACORDOS MILIONÁRIOS

A decisão de readmitir criadores banidos ocorre em meio à tentativa do YouTube de se aproximar do presidente Donald Trump e de parlamentares republicanos aliados. Em seu segundo mandato, Trump tem se mostrado disposto a recompensar apoiadores e punir adversários políticos.

O YouTube concordou em pagar US$ 24,5 milhões para encerrar um processo movido por Trump em 2021, após a plataforma aplicar suas regras contra incitação à violência durante o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Algumas suspensões continuarão válidas, como as aplicadas por violação de direitos autorais.

Meta e X (antigo Twitter) também fecharam acordos semelhantes, de US$ 25 milhões e US$ 10 milhões, respectivamente, para encerrar ações apresentadas por Trump depois de voltar à Casa Branca.

Nenhum desses casos foi considerado sólido por especialistas jurídicos, assim como outro processo contra a Paramount, resolvido em julho por US$ 16 milhões, o que abriu caminho para a aprovação, pela Comissão Federal de Comércio (FCC) da fusão bilionária da empresa com a Skydance.


SOBRE A AUTORA

Taylor Hatmaker é fotógrafa e jornalista especializada em mídia social, games e cultura digital. saiba mais