5 lições que as empresas de tecnologia deveriam aprender com o caso da Intel

Houve um tempo em que a fabricante de chips tinha um fluxo de caixa de US$ 10 bilhões por ano. Esses dias ficaram para trás – e talvez não voltem

Crédito: Andrey Matveev/ iStock

Chris Morris 4 minutos de leitura

Por quase 30 anos, a Intel foi a maior fabricante de chips do mundo. Mas, há cerca de uma década, as coisas começaram a mudar – e agora o futuro da empresa está em jogo.

Os resultados financeiros dos últimos dois trimestres ficaram muito abaixo das expectativas. No trimestre mais recente, a Intel reportou um lucro de apenas US$ 0,02 por ação, enquanto os analistas esperavam US$ 0,10.

Além disso, a empresa suspendeu o pagamento de dividendos. Agora, depois de demitir mais de 15% dos funcionários, a fabricante está buscando a melhor forma de seguir em frente.

O que começou como um declínio lento se transformou em uma queda livre. Mas, enquanto a Intel tenta corrigir seu curso, outras empresas de tecnologia podem aprender com seus erros.

1. Capital é fundamental

Em seu auge, a Intel chegou a ter um fluxo de caixa de US$ 10 bilhões (ou mais) por ano. Mas, em 2022, esse fluxo caiu a ponto de se ficar negativo e as coisas só pioraram nos últimos dois anos. Isso prejudicou a capacidade da empresa de financiar suas principais operações.

Investimentos de capital sempre envolvem riscos – e a Intel fez algumas apostas, como investir US$ 100 bilhões na fabricação de chips de inteligência artificial e introduzir chips de notebook com processadores dedicados à IA.

Os investidores estimam que o atual valor da empresa seja muito inferior ao de suas instalações e outros ativos.

No entanto, chegou atrasada demais para conseguir causar um impacto significativo, o que lhe custou tempo e dinheiro. E o retorno dessas apostas ainda está distante.

Há uma grande diferença entre investir agora para lucrar mais no futuro e simplesmente desperdiçar recursos. Os líderes precisam ser capazes de identificar quando estão caminhando de uma situação para a outra.

2. Saiba a hora de mudar de direção

Mudar o curso pode ser difícil. Isso sinaliza para investidores e funcionários que um erro foi cometido. Mas não mudar pode ser um erro ainda maior – talvez fatal.

A Intel ainda lucra com seus negócios atuais, mas não o suficiente para cobrir os investimentos necessários para expandir sua fabricação e cadeia de suprimentos. A falta de um plano para esse tipo de situação provavelmente custou a ela bilhões de dólares.

A fabricante de chips tem um histórico de demorar demais para agir. Não previu as mudanças no comportamento dos consumidores no final dos anos 2000. E, em vez de focar na crescente demanda por chips móveis, manteve seu foco no mercado de PCs.

Além disso, insistiu em fabricar seus próprios processadores, enquanto seus concorrentes terceirizavam a produção. Mais recentemente, perdeu a oportunidade de liderar no mercado de chips voltados para IA, permitindo que a Nvidia assumisse a posição.

3. Manter-se à frente é difícil, mas recuperar o atraso é ainda mais

O atual CEO da Intel, Pat Gelsinger, tem estado sob muita pressão, mas quase ninguém o culpa pelos problemas que a empresa vem enfrentando. Ele assumiu o cargo em 2021, com a esperança de colocá-la de volta nos trilhos após sucessivos erros de gestões anteriores.

No entanto, recuperar o antigo status está sendo muito mais demorado e caro do que o esperado, e os custos com pesquisa e desenvolvimento só vão aumentar conforme a empresa tenta correr atrás do tempo perdido.

4. Reconquistar a confiança dos investidores é uma tarefa quase impossível

Os problemas se intensificaram nos últimos trimestres, mas os sinais de alerta já estavam lá – e os investidores perceberam. Nos últimos cinco anos, as ações da Intel caíram 63%. Em 2023, a queda foi de 50%; e até agosto deste ano, já haviam caído quase 60%.

Os investidores agora estão bem menos otimistas e estimam que o atual valor da empresa seja muito inferior ao de suas instalações e outros ativos no balanço patrimonial.

Cortes no quadro de funcionários e planos de recuperação podem ajudar até certo ponto. Mas, até que a Intel demonstre potencial para se tornar um grande player no setor de IA ou lance um produto que desempenhe um papel relevante nas tecnologias do futuro, será difícil reconquistar os investidores que abandonaram o barco.

5. Não anuncie um produto antes de ter certeza de que ele está pronto

Uma das apostas da Intel era se tornar um estúdio de design sem fabricação própria, para atrair negócios de concorrentes como a TSMC, de Taiwan. Mas esse plano foi frustrado depois que a Broadcom testou seu processo e declarou que a empresa não estava pronta para uma produção em grande escala.

A Intel afirma que o sistema estará pronto no próximo ano, mas esse revés pode ter consequências duradouras, já que a confiança na capacidade da empresa está cada vez mais abalada.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais