A IA não vai acabar com a alegria de viajar – as redes sociais já fizeram isso

Quanto mais plataformas como o Instagram priorizarem vídeos de turismo esteticamente apelativos, mais homogeneizadas as viagens serão

Créditos: Daiga Ellaby/ Sebastien Gabriel/ Unsplash

Tanya Chen 4 minutos de leitura

A IA tem se infiltrado em quase todos os principais setores do mercado, e o turismo parece estar acolhendo essa tecnologia de braços abertos. 

Gigantes do setor de viagens, como Expedia e Kayak, estão implementando ferramentas para otimizar principalmente as reservas e recomendações. No mês passado, o Google anunciou uma nova ferramenta de IA que permite aos usuários criar itinerários detalhados por meio de instruções simples.

Embora essas soluções sejam convenientes para os clientes e economizem custos para as empresas, cabe questionar até que ponto um robô é capaz de planejar uma experiência de viagem especial. Será que a IA nos recomendaria sempre os mesmos lugares, saturando os destinos regionais e nos oferecendo um roteiro sem personalidade? 

Por enquanto, o setor de viagens ainda não parece preocupado com essa possibilidade. Vários especialistas em IA e viagens declararam à Fast Company que estão totalmente otimistas em relação à automação. A verdadeira ameaça às viagens e à superlotação, segundo eles, são as mídias sociais. 

"Alguns viajantes baseiam todo o seu itinerário na viagem que viram um influenciador fazendo no TikTok ou no Instagram", relata Danielle Harvey, vice-presidente global e diretora de viagens e hospitalidade da empresa de software Quantum Metric. "As redes sociais já estão alimentando a ideia de que os turistas precisam ir para os mesmos destinos e para as mesmas armadilhas turísticas."

Crédito: DSD/ Pexels

Quanto mais plataformas como o Instagram priorizarem vídeos de viagens esteticamente bonitas, mais virais serão essas postagens, provocando o desejo de viajar e aumentando o número de novos turistas nesses destinos. 

Assim, em 2024, os influenciadores se tornaram os novos agentes de viagem. De acordo com a "Business Insider", alguns estão até abrindo negócios paralelos, comandando pequenos grupos de viagem com seus seguidores.

Embora isso possa ser economicamente viável para o influenciador e para as empresas locais, também pode tornar a viagem um evento mais autocentrado. Afinal, todo mundo recebe a mesma recomendação de alguém que talvez não esteja tão informado sobre os pontos históricos e culturais mais interessantes de um local.

RECOMENDAÇÕES PERSONALIZADAS

Nesse sentido, a IA poderia evitar o esvaziamento do turismo, afirmam alguns. "Ao contrário dos especialistas em viagens humanos, que podem se valer de um repertório finito de destinos, os sistemas de IA generativa têm a capacidade de analisar uma ampla gama de opções", diz Bernard Marr, um autoproclamado futurista e autor do livro "Generative AI in Practice" (IA Generativa na Prática, em tradução livre).

"Eles são projetados para considerar a totalidade dos dados disponíveis, fornecendo, assim, sugestões personalizadas que refletem as preferências exclusivas de cada viajante. Se forem programados de forma adequada, esses sistemas de IA podem evitar a armadilha de direcionar todos os turistas para os mesmos locais", diz Marr.

Shiyi Pickrell, chefe de IA e dados da Expedia, conta que a empresa criou centenas de modelos de IA que personalizam as recomendações de acordo com as necessidades de cada usuário.

"Para um turista, recomendaremos destinos familiares com resorts à beira-mar porque sabemos que ele gosta de férias na praia com a família; para outro, podemos mostrar hotéis de luxo no centro da cidade com base em suas viagens anteriores", diz ela.

Crédito: Freepik

Mas, é claro, as habilidades de planejamento da IA são tão boas quanto a quantidade de dados fornecidos a ela. 

"O valor está na entrada de dados. Se as empresas de turismo não estiverem fornecendo informações para os modelos de IA generativa, é provável que tenham resultados insatisfatórios", diz Harvey, da Quantum Metric. "Se a solicitação do cliente não for específica, é difícil para a tecnologia fornecer uma recomendação única e clara."

Bem programados, sistemas de IA podem evitar a armadilha de direcionar todos os turistas para os mesmos locais.

Em outras palavras, se a sua única sugestão for "planeje uma viagem de fim de semana para Charleston, na Carolina do Sul", a IA poderá fornecer um roteiro padrão. Mas se você disser ao seu robô que deseja uma viagem para visitar os marcos históricos, conhecer a história da cidade e provar os pratos autênticos da culinária local, ele poderá ser um agente de viagens melhor do que o Instagram.

No fim das contas, independentemente de o roteiro vir de um influenciador ou de uma máquina, a tarefa de experimentar uma nova cultura com curiosidade e mente aberta ainda recai sobre o viajante.

"A IA nunca será capaz de substituir a presença humana no local, a percepção e as conversas locais e o conhecimento cultural obtido apenas com experiências vividas", diz James Thornton, CEO da Intrepid Travel, empresa especializada em excursões para pequenos grupos.


SOBRE A AUTORA

Tanya Chen é jornalista e cobre as áreas de tecnologia, tendências e cultura digital. saiba mais