A tecnologia da web3 continua em alta entre os investidores

A primeira onda da web3 já passou. Mas é agora, na segunda onda, que as coisas começam a ficar mais interessantes

Crédito: Istock

Maelle Gavet 4 minutos de leitura

Mesmo para um mercado tão acostumado à volatilidade quanto o das criptomoedas, os últimos seis meses foram agitados. Estima-se que o valor total de todas as criptomoedas tenha caído cerca de US$ 2 trilhões em relação ao pico de novembro de 2021. Enquanto isso, de acordo com uma contagem, desde 2011, 2,4 mil criptomoedas desapareceram ou “morreram” – um número impressionante.

Ao contrário do que havia acontecido nas quedas anteriores, no entanto, a principal razão por trás do atual mal-estar das criptomoedas é a desaceleração econômica mais ampla, junto com a inflação descontrolada, fatores que levam os investidores a migrar para ativos mais estáveis.

Além disso, a crise atual expôs como o mercado de criptomoedas construiu uma infraestrutura financeira muito semelhante àquela que sustentou os bancos tradicionais em 2008, embora parte da lógica por trás das finanças descentralizadas (DeFi) fosse a crença de que eliminar bancos centrais e governos ajudaria a evitar colapsos sistêmicos e contágio.

a tecnologia subjacente à web3 é robusta, tem uma gama muito ampla de casos de uso e sobreviverá às intempéries.

No entanto, apesar de toda a turbulência envolvendo o universo cripto, sigo convencida de que a tecnologia subjacente à web3 – termo abrangente para a nova internet descentralizada, baseada em blockchain e que inclui criptomoedas, tokens não fungíveis (NFTs) e DeFi – é robusta, tem uma gama extremamente ampla de casos de uso e sobreviverá às intempéries, criando dezenas de empresas de mais de US$ 1 bilhão durante esse processo.

Com cerca de 110 investimentos pré-seed (ou investimento anjo) feitos em startups relacionadas à web3/ cripto e blockchain, a Techstars é um dos investidores em estágio inicial mais engajados e ativos no espaço. Até o momento, nossas empresas de portfólio da web3 levantaram cerca de US$ 1 bilhão em capital subsequente.

Esta é apenas uma amostra do que está por vir, pois investimos em cerca de metade dessas 110 empresas nos últimos dois anos ou mais recentemente, o que significa que elas ainda estão em um estágio muito inicial.

LIÇÕES DA BOLHA DAS PONTOCOM

A razão pela qual a web3 e o blockchain em particular são tão promissores é que acredito que estamos em um ponto de inflexão muito semelhante à bolha das empresas pontocom da virada do século, quando houve um frenesi de investimento em startups habilitadas para internet.

A promessa era de que, ao aproveitar uma tecnologia ainda nascente, seria possível inaugurar um futuro mais igualitário, no qual o equilíbrio de poder se afastaria dos negócios herdados e do Estado, passando para os indivíduos.

Claro, essa promessa inicial não foi cumprida e o hype logo passou. No entanto, do meio das cinzas, surgiram algumas empresas revolucionárias e, certamente, muito úteis, como Amazon, eBay e Google, bem como possibilidades de empreendimentos viáveis e um novo ecossistema de startups.

do meio das cinzas surgiram algumas empresas revolucionárias, como Amazon, eBay e Google,

Os paralelos com web3 são claros. Os primeiros anos de cripto, quando tudo ainda era terra de ninguém – já que os proponentes prometeram ignorar os guardiões tradicionais e os bancos centrais para trazer uma nova internet construída na tecnologia blockchain –, foram marcados por um hype incessante e por uma especulação intensa, esquemas de pirâmide e até fraudes.

No entanto, mais uma vez, na esteira do estouro da bolha das criptomoedas e da volatilidade do mercado, há indicações claras de que estamos prontos para entrar em uma nova era. Nela, deve haver oportunidades para os construtores criarem uma web3 centrada no ser humano e as empresas estarão criando soluções práticas, reais — resolvendo problemas mundiais para indivíduos e empresas.

INVESTIDORES MAIS CAUTELOSOS

Agora, estamos observando três tendências de mercado. Primeiro, embora a turbulência indubitavelmente derrube um grande número de startups, à medida que algumas somem de vez, o crash criptográfico também tem um lado positivo: sem meias palavras, ele está limpando a gordura, eliminando os clones criptográficos, os aspirantes à web3 e o lado mais ardiloso do mercado de arte digital NFT.

A primeira onda da web3 já passou. Agora, estamos na crista da segunda.

Em segundo lugar, os investidores de capital de risco pararam de investir de forma invisível e de fazer várias apostas em empresas associadas à web3. Ainda existem empresas com fundos abundantes prontos para serem implantados, mas a exigência para cortar despesas é maior, a diligência prévia (processo de avaliação dos riscos da transação) leva mais tempo e as empresas de portfólio existentes geralmente são priorizadas em relação a novos projetos.

Terceiro, estamos percebendo que propostas fortes e acessíveis continuarem a ser financiadas, com oportunidades abertas para startups que aproveitam as propriedades exclusivas da tecnologia subjacente da web3. Da mesma forma, estamos vendo uma tendência de casos de uso direcionados a economias em desenvolvimento, onde as criptomoedas podem servir a um propósito mais prático.

Novas tecnologias tendem a levar duas ou até três ondas para atingir a maturidade. A primeira onda geralmente é impulsionada pelo hype, atrai um frenesi e termina com uma queda significativa. Na segunda onda, à medida que a maré recua, as aplicações verdadeiramente úteis dessa tecnologia vêm à tona.

Desde o crash das criptomoedas, alguns concluíram que a web3 já tinha dado o que tinha que dar. Mas essa é uma interpretação equivocada. Afinal, está claro que a tecnologia blockchain tem inúmeras aplicações, desde mercados de carbono até proteção de identidade pessoal, pagamentos internacionais e registros de transações imobiliárias (para citar apenas alguns exemplos).

A primeira onda da web3 já passou. Agora, estamos na crista da segunda. E é justamente aqui que as coisas começam a ficar mais interessantes.


SOBRE A AUTORA

Maelle Gavet é CEO da Techstars, startup focada em conectar empreendedores. saiba mais