A teoria da “internet morta” vai virar realidade? Não sabemos, mas há sinais
Por muito tempo, a teoria da internet morta parecia só maluquice. Mas, com a quantidade de conteúdo gerado por IA, já não parece tão impossível

Há cerca de sete ou oito anos, uma teoria começou a circular em grupos conspiratórios. Ela se chama “teoria da internet morta” e parte do princípio de que o conteúdo orgânico, criado por pessoas – que dominava a internet nos anos 1990 e 2000 – foi substituído por conteúdo gerado artificialmente, que agora é o que mais aparece para os usuários.
A ideia é que a internet está “morta” porque a maior parte do que consumimos online já não é mais feita por humanos. Mas há uma segunda camada nessa teoria – e é aí que entra a parte conspiratória de verdade. Ela diz que essa substituição teria sido proposital, arquitetada por governos e grandes empresas com o objetivo de manipular a forma como o público enxerga o mundo.
Como escritor de ficção, confesso que adoro essa teoria. Mas como jornalista, sempre achei tudo meio exagerado. Pelo menos até agora. Nos últimos tempos, a teoria da internet morta começou a parecer menos fantasia e mais uma previsão que, em parte, está se tornando realidade.
Sim, governos e corporações tentam controlar narrativas – isso não é novidade. Mas é difícil acreditar que alguém tenha realmente arquitetado um plano para substituir todo o conteúdo da internet por material gerado por máquinas. Seria um esforço gigantesco, que exigiria o silêncio de dezenas – talvez centenas – de milhares de pessoas.
Por outro lado, a parte que fala sobre a substituição gradual do conteúdo humano por conteúdo gerado por IA, essa já não parece tão distante da realidade.
Essa ideia começou a ganhar força lá por 2010, quando os bots passaram a se espalhar pelas redes sociais. Só que, naquela época, esses bots eram limitados – não tinham capacidade de criar do zero imagens, vídeos, sites ou textos convincentes. A inteligência artificial tem.
Desde o lançamento do ChatGPT, no fim de 2022, as pessoas começaram a usar IA para criar conteúdo de todos os tipos: textos para sites, redes sociais, artigos – e muito disso é feito com poucos cliques.

Nos últimos meses, o TikTok tem sido um dos maiores alvos dessa enxurrada de conteúdo gerado por IA. É comum que um a cada dois ou três vídeos no app seja totalmente criado por inteligência artificial – desde o roteiro, passando pela narração, até as imagens. Alguns usuários já estão chamando isso de “slime de IA” – porque, de tanto aparecer, parece que gruda no seu feed.
O problema não é só a quantidade. O mais preocupante é que muita gente – especialmente pessoas mais velhas – nem percebe que está consumindo conteúdo gerado por IA. Basta ler os comentários para ver: muitos acreditam que aquelas imagens são reais ou foram criadas por artistas humanos.
especialistas estimam que até 90% de todo o conteúdo na internet poderá ser produzido por IA até 2026.
E pior ainda: muitos dos perfis que postam esse tipo de conteúdo parecem estar recebendo curtidas e comentários de outras contas também controladas por IA. Isso é um problema tanto para os usuários quanto para os anunciantes.
Se esse “slime de IA” continuar se espalhando pelas redes sociais, as marcas podem acabar investindo dinheiro em anúncios que aparecem ao lado de conteúdos falsos, criados por máquinas – e que só recebem engajamento de outras máquinas. Ou seja, o público real, que de fato consome e compra, nem vê esses anúncios.
As plataformas sempre olharam com desconfiança para esse tipo de postagem, porque sabem que ele tem pouco valor para usuários humanos. Mas, ultimamente, parece que algumas delas estão dispostas a dar ainda mais espaço para a IA.
UMA INTERNET RESPIRANDO POR APARELHOS
Por muito tempo, achei que a teoria da internet morta era só isso: uma teoria – e das mais improváveis. Claro, os bots existiam. Mas imaginar que eles fossem dominar toda a internet, gerando praticamente tudo que vemos por aí, parecia exagero.
Só que, com o avanço da inteligência artificial, isso já não soa tão absurdo. É bem possível que, em breve, a maior parte do conteúdo online seja gerada por máquinas.

Um relatório da Europol, agência de segurança da União Europeia, publicado em 2022, já alertava: especialistas estimam que até 90% de todo o conteúdo na internet poderá ser produzido por IA até 2026. Repetindo: 90%!
Se isso realmente acontecer, quem quiser interagir com conteúdo humano de verdade – feito por pessoas reais – talvez precise tomar uma atitude drástica: se desconectar e voltar a buscar experiências no mundo físico.
Ok, você não vai encontrar um “Jesus camarão” por aí, mas pelo menos vai poder ter conversas e conexões genuinamente humanas.