Aguarde: você vai ganhar um colega robô mais cedo do que imagina
Robôs humanoides estão prestes a serem amplamente adotados. E os modelos da Tesla não são os únicos no mercado
Eles marcharam em fila, interagiram com os convidados e até serviram bebidas enquanto conversavam. A visão do futuro apresentada por Elon Musk com seus robôs humanoides Optimus, no evento Cybercab da Tesla, realizado no início deste mês, foi tão impressionante quanto inacreditável.
Este último ponto é crucial: os robôs não estavam operando de forma totalmente autônoma, mas sim sendo controlados remotamente por humanos. Embora tenham conseguido andar pelas ruas no grande desfile da empresa para mostrar sua tecnologia, praticamente tudo o que fizeram naquela noite contou com intervenção humana.
“Estamos na fase de prova de conceito da robótica. Embora tenhamos visto muitas demonstrações online e em apresentações, essas máquinas foram projetadas para ambientes controlados e com uso limitado”, afirma Nayan Jain, diretor executivo de inteligência artificial do estúdio de produtos digitais ustwo.
Jain está otimista sobre o futuro dos robôs, mas acredita que, para alguns dos exemplos mais conhecidos, ainda levará algum tempo até que se tornem realidade. “O futuro robótico está chegando, mas pode demorar mais do que imaginamos.”
Mesmo assim, os robôs humanoides estão prestes a serem adotados em larga escala. Nos Estados Unidos, já trabalham ao lado de humanos em fábricas, embora em áreas isoladas. Em outras partes do mundo, o futuro robótico está ainda mais próximo e, em alguns casos, já chegou.
Em agosto, a China sediou a Conferência Mundial de Robôs em Pequim, onde mais de 30 robôs humanoides, de empresas privadas e laboratórios universitários, foram exibidos. A maioria dos representantes era do próprio país, destacando o avanço doméstico da tecnologia.
O governo chinês anunciou durante o evento que espera iniciar a produção em massa dos robôs humanoides mais avançados até 2025 e que destinará verbas públicas para isso. Atualmente, a China é o principal polo da indústria, com metade de todas as instalações robóticas do mundo em 2022 ocorrendo dentro de suas fronteiras.
O interesse por robôs humanoides sempre existiu ao longo da história. Contudo, programá-los é uma tarefa complexa, principalmente devido ao grande número de movimentos que podem realizar, o que torna o controle preciso extremamente difícil.
“Os [robôs] humanoides estão em alta no momento e muito disso se deve à introdução da inteligência artificial, que realmente está agregando valor, assim como está fazendo em outras indústrias”, observa Peggy Johnson, CEO da Agility Robotics, empresa que fornece soluções de automação baseadas em seu robô humanoide Digit.
“Usamos IA para ensinar aos robôs novas habilidades, em vez de depender apenas de engenheiros para programá-los. Com modelos de linguagem como o ChatGPT, conseguimos ensinar rapidamente novas habilidades ao Digit.”
“Como a primeira empresa de logística do mundo a usar robôs humanoides em operações reais, estamos abrindo caminho para toda a indústria e além”, afirma Adrian Stoch, diretor de automação da GXO Logistics. O programa Incubadora Operacional da empresa está testando robôs em diversas funções para descobrir onde eles se saem melhor.
Até agora, o programa tem contribuído com feedback e dados que ajudaram a aumentar a duração da bateria, melhorar a capacidade de transportar cargas mais pesadas e aprimorar a pegada e a estabilidade dos protótipos.
Outras empresas também estão começando a adotar robôs em suas linhas de produção. Na Carolina do Sul, nos EUA, o Figure 02, robô da startup Figure AI, foi testado em uma fábrica da BMW. Ele conta com modelos de linguagem visual embutidos, que entendem e reagem aos comandos recebidos por suas seis câmeras, aprendendo à medida que opera.
Em fevereiro de 2024, a startup levantou US$ 675 milhões em uma rodada de financiamento da Série B. Esse nível de investimento é significativo – e é apenas o começo, segundo analistas do Morgan Stanley. O banco projeta que o mercado potencial para robôs humanoides pode atingir trilhões de dólares.
Esses investimentos vão ajudar a reduzir os custos de produção e operação dos robôs, tornando-os competitivos com a força de trabalho humana. O Morgan Stanley estima que um robô humanoide que custe US$ 50 mil, com uma vida útil de 50 mil horas, teria um custo operacional de aproximadamente US$ 1 por hora. Isso é bem mais econômico em comparação ao trabalho humano, que custa em média US$ 20 por hora e cujos custos continuam subindo devido à inflação salarial.
No entanto, estar à beira de uma revolução tecnológica não significa que ela esteja pronta para ser implantada em massa. “Embora estejamos extremamente empolgados com as oportunidades que os [robôs] humanoides apresentam, ainda temos um longo caminho pela frente até que a implementação em larga escala seja viável”, diz Stoch.