Após audiência, justiça dos EUA vai decidir sobre venda obrigatória do TikTok

Debate na corte não parece ter sido favorável à plataforma, que pode ser banida do país em menos de duas semanas

Crédito: Fast Company Brasil

Issie Lapowsky 4 minutos de leitura

As perspectivas futuras do TikTok nos Estados Unidos pareceram mais sombrias do que nunca, após um dia difícil de debates na Suprema Corte na última sexta-feira (dia 10). A corte máxima do país vai determinar se o aplicativo será forçado a encerrar suas operações em 19 de janeiro, conforme lei aprovada pelo Congresso norte-americano no ano passado.

Segundo a lei, se a dona do TikTok – a empresa chinesa ByteDance – não concordar em vender a operação do aplicativo nos EUA, ele será banido do mercado local. Na audiência, um dos advogados passou horas argumentando que a lei infringe os direitos de liberdade de expressão do TikTok.

Noel Francisco argumentou que o Congresso aprovou a lei por "medo de que os norte-americanos, mesmo plenamente informados, pudessem ser persuadidos por desinformação chinesa". No entanto, essa possibilidade, disse ele, é algo "que a Primeira Emenda deixa para o povo decidir".

Mas o argumento do TikTok pareceu cair em ouvidos pouco receptivos, pois tanto juízes conservadores quanto liberais contestaram, afirmando que a lei tem como alvo a propriedade do TikTok e não o conteúdo nele publicado.

"O TikTok sofrerá alguns efeitos colaterais bastante severos, mas eles são colaterais", disse a juíza liberal Elena Kagan durante a sessão. "A lei tem como alvo apenas essa companhia estrangeira [ByteDance], que não tem direitos sob a Primeira Emenda."

A corte pareceu muito mais receptiva ao argumento do governo de que os laços do TikTok com a China representam um risco significativo à segurança nacional — um risco que, segundo eles, o governo tem autoridade legal para mitigar.

"Há uma longa tradição de prevenir a propriedade ou controle estrangeiro de meios de comunicação nos Estados Unidos", disse o juiz conservador Brett Kavanaugh. "Essa história tem que ser levada em conta."

DESINVESTIR OU BANIR

A questão em jogo, neste caso, é o "Ato de Proteção dos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros", que o presidente Joe Biden sancionou em 2024.

A lei estabelece que lojas de aplicativos e serviços de hospedagem na internet parem de fornecerem serviços à ByteDance, ao TikTok e a quaisquer de seus afiliados, categorizando-os como "aplicativos controlados por adversários estrangeiros".

A lei exige que o desinvestimento seja pelo menos iniciado até 19 de janeiro para evitar a proibição total.

O argumento do governo é que essa chamada lei de "desinvestir ou banir" é necessária para mitigar os riscos que os laços do TikTok com a China representam, alegando que essa conexão torna o aplicativo vulnerável a manipulação, propaganda e uso indevido de dados.

A lei também cria um mecanismo para que o presidente identifique outros "aplicativos controlados por adversários estrangeiros" que possam representar ameaça à segurança nacional. A única maneira de esses aplicativos evitarem o bloqueio é se as organizações que os controlam (neste caso, a ByteDance) se desfizerem deles.

O ato foi amplamente condenado, não apenas pelo TikTok, mas por muitos estudiosos e defensores da Primeira Emenda da Constituição dos EUA (que dá garantias sobre a liberdade de expressão). Para eles, permitir que o governo encerre uma grande plataforma de comunicação usando apenas uma vaga justificativa de segurança nacional como pretexto estabeleceria um precedente perigoso.

O governo, por sua vez, manteve o posicionamento de que a lei não fere a Constituição, pois permite que o TikTok continue operando, desde que sua propriedade mude de mãos de forma a satisfazer as preocupações de segurança nacional.

De fato, Kevin O’Leary, do programa "Shark Tank", e Frank McCourt, proprietário do Los Angeles Dodgers, surgiram como principais interessados em comprar a versão norte-americana do aplicativo.

SERÁ BLEFE?

Noel Francisco argumentou várias vezes que o Congresso falhou em buscar meios menos restritivos para lidar com os riscos levantados pela lei. Eles poderiam, por exemplo, exigir que o TikTok revelasse mais claramente aos usuários sua relação com a China – uma proposta que os juízes pareceram considerar insuficiente.

A corte agora enfrenta uma corrida contra o tempo. A lei exige que o desinvestimento seja pelo menos iniciado até 19 de janeiro para evitar a proibição total. O presidente eleito Donald Trump, que deve ser empossado um dia depois, sinalizou interesse em interromper o processo.

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Acontece que a lei só lhe dá a opção de adiá-la temporariamente se um acordo de desinvestimento estiver em andamento. E, até agora, todos os sinais sugerem que a ByteDance não está disposta a agir.

A representante do governo, Elizabeth Prelogar (que ocupa um cargo equivalente ao de advogado geral da União no Brasil), disse que o governo sempre antecipou que a empresa iria "blefar". Se a corte mantiver a proibição, ela disse, "pode ser apenas o empurrão que o Congresso esperava para que a empresa começasse a se mexer."


SOBRE A AUTORA

Issie Lapowsky é jornalista especializada em tecnologia e política. saiba mais