Artistas começam a experimentar um novo app que quer substituir o Instagram

Usuários começaram a sair do Instagram depois que Meta passou a usar seu conteúdo para treinar modelos de IA. Uma nova plataforma está atraindo artistas

Crédito: Cara

Grace Snelling 4 minutos de leitura

Nos últimos meses, a Meta passou a usar conteúdo postado no Instagram para treinar sua ferramenta de inteligência artificial generativa. Agora, alguns artistas estão migrando para um aplicativo menos conhecido, chamado Cara, para proteger suas obras.

O Cara se apresenta como uma plataforma que protege as imagens dos artistas de serem usadas para treinar modelos de IA e só permite conteúdo gerado se estiver claramente rotulado.

Nos últimos dias, a quantidade de novos usuários na plataforma disparou. Entre 31 de maio e 2 de junho, a base de usuários passou de menos de 100 mil para mais de 300 mil perfis, chegando ao primeiro lugar na App Store.

O QUE É O APLICATIVO?

Cara é um aplicativo de rede social para criativos, no qual os usuários podem postar imagens de suas obras, memes ou apenas suas próprias reflexões em texto. Ele compartilha semelhanças com grandes plataformas em alguns aspectos. Os usuários podem baixar o app ou acessá-lo através de um navegador – ambas as opções são gratuitas.

Crédito: Cara

A interface é uma combinação do X/ Twitter e Instagram, porém, voltada para artes. Alguns elementos parecem ter sido diretamente retirados de outros sites de mídia social. Embora esta não seja a abordagem mais inovadora, é estratégica: como um novo aplicativo, é preciso remover qualquer barreira à adoção.

QUAIS SÃO SEUS DIFERENCIAIS?

Apesar de boa parte da interface parecer imitar a de outras redes sociais, o aplicativo possui vários recursos únicos. Os usuários podem, por exemplo, personalizar seu feed, decidindo a porcentagem de posts que gostariam de ver de pessoas que seguem, de sua rede e do site em geral.

Crédito: Cara

Também é possível manter postagens de texto separadas de seu portfólio, o que permite que discussões profissionais e memes existam em lugares diferentes. Talvez o mais notável seja a aba de empregos, semelhante ao LinkedIn, que ajuda as empresas a descobrir artistas e vice-versa. Vagas para designer de jogos, artista de VFX e animador estão listadas na aba, com links para as empresas.

POR QUE OS ARTISTAS ESTÃO MIGRANDO?

A Meta passou a usar imagens e vídeos do Instagram para treinar seus modelos de inteligência artificial. Os usuários foram alertados por meio de um pequeno pop-up no aplicativo, e é impossível optar por não participar, a menos que você esteja na União Europeia. A notícia se espalhou e houve uma indignação geral.

"Desculpe mas não permitimos imagens de IA nos portfólios. Se o seu trabalho foi marcado de forma errada, por favor nos avise" (Crédito: Cara)

Esta medida afeta particularmente os artistas, especialmente aqueles que dependem do aplicativo como fonte de renda. O que lhes resta é permitir que suas postagens sejam usadas para treinar a IA da empresa – que poderia recriar suas artes sem permissão no futuro – ou abandonar a plataforma por completo. Alguns estão preferindo a segunda opção.

COMO ELE PROTEGE OS ARTISTAS?

O Cara não treina nenhum modelo de IA com seu conteúdo, nem permite que terceiros o façam. O aplicativo protege seus usuários adicionando automaticamente tagsNoAI” (SemAI) em todas as postagens. Eles dizem que essas tags “sinalizam que não devem extrair dados do Cara”.

Em dezembro, a plataforma lançou outra ferramenta chamada Cara Glaze para proteger o trabalho dos artistas. O Glaze, desenvolvido pelo SAND Lab, da Universidade de Chicago, torna muito mais difícil para os modelos de IA entenderem e imitarem com precisão o estilo pessoal de um artista.

Crédito: Cara

A ferramenta funciona aprendendo como os bots percebem as obras e, em seguida, aplica um conjunto de alterações mínimas que são invisíveis ao olho humano, mas confusas para a IA. O bot, então, tem dificuldade em “traduzir” o estilo artístico e gera apenas recriações distorcidas.

POR QUE ESTÁ FICANDO POPULAR?

Há duas semanas, o app tinha apenas alguns milhares de perfis. Mas, nos últimos dias, usuários do Instagram, como o animador da Disney Aaron Blaise, começaram a postar links para seus novos perfis no Cara. Alguns até apagaram todo o conteúdo antigo e migraram para o novo aplicativo.

Rapidamente a tendência se espalhou e, em 15 dias, o app viu o número de usuários triplicar. Mas o sucesso meteórico trouxe muitos desafios. O Cara ainda está em fase beta, o que significa que sua pequena equipe de desenvolvedores estava lidando com problemas já existentes mesmo antes da chegada de tantos novos usuários.

Além dos desafios técnicos, o aplicativo também pode enfrentar dificuldades para ganhar a confiança dos artistas. Muitos se sentem desanimados pelas novas táticas do Instagram e decepcionados com sites antes populares, como o DeviantArt, que mudou drasticamente seus algoritmos ao longo dos anos.

“Como artista que já equilibra tantas coisas diferentes, tentar navegar por tudo isso é apenas mais uma tarefa que eu gostaria de não ter que fazer”, diz a artista Hyesu Lee.


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