Aumento do lixo espacial pode prejudicar previsão do tempo e acesso à internet

Estudo aponta que as mudanças climáticas estão acelerando o acúmulo de detritos espaciais, o que pode afetar desde a meteorologia até a conectividade global

Crédito: johan63/ Getty Images

Grace Snelling 3 minutos de leitura

Nos últimos cinco anos, mais satélites foram lançados na órbita da Terra do que nos 60 anos anteriores somados. Agora, cientistas alertam que as mudanças climáticas podem piorar ainda mais esse cenário, aumentando o número de satélites desativados que permanecem vagando no espaço.

É o que aponta um estudo recente publicado na “Nature Sustainability” por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A equipe analisou o impacto dos gases do efeito estufa nas camadas superiores da atmosfera e como isso está afetando os objetos em órbita.

Eles descobriram que o aumento das emissões está alterando o mecanismo natural que faz com que satélites fora de uso saiam de órbita e se desintegrem. Isso está levando a um verdadeiro acúmulo de lixo espacial – um problema que pode ter impactos diretos na previsão do tempo, na conectividade da internet e até na segurança nacional.

A maior parte dos satélites opera na chamada órbita baixa da Terra, entre 400 e mil quilômetros de altitude. Normalmente, quando um satélite chega ao fim de sua vida útil, ele é lentamente puxado para altitudes mais baixas pelo arrasto atmosférico – a resistência que a atmosfera exerce sobre objetos em movimento – e se desintegra antes de atingir o solo.

Esse é um processo natural que sempre ajudou a manter a órbita terrestre relativamente livre de detritos. Mas as mudanças climáticas podem estar comprometendo isso.

Os gases do efeito estufa aquecem a troposfera (a camada mais próxima da superfície), mas têm o efeito contrário nas camadas superiores, explica William Parker, autor principal do estudo.

Como esses gases retêm o calor próximo à superfície terrestre, as camadas mais altas – como a termosfera, onde a maioria dos satélites orbita – estão esfriando ao longo do tempo. “Esse resfriamento leva à contração. É como se toda a atmosfera estivesse encolhendo”, diz Parker.

Com a contração da atmosfera, a força natural que puxa satélites para baixo também diminui. “Isso significa que há menos densidade atmosférica e, sem essa força que sempre tivemos na órbita baixa da Terra, o lixo espacial pode começar a se acumular.”

COMO EVITAR O ACÚMULO DE LIXO ESPACIAL

Se esse acúmulo continuar, especialistas temem que ele possa atingir um ponto crítico, desencadeando o chamado o “Efeito Kessler” – uma reação em cadeia de colisões entre satélites, que geraria ainda mais fragmentos descontrolados.

“Se não começarmos a operar nossos satélites de maneira mais responsável, corremos o risco de perder o acesso a partes inteiras da órbita baixa da Terra”, alerta Parker

Os modelos do MIT indicam que, se nada for feito para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, a capacidade da órbita baixa da Terra para acomodar novos satélites pode cair de 50% a 66% até 2100. Mesmo em um cenário mais otimista, no qual algumas ações para conter as mudanças climáticas sejam implementadas, essa capacidade deve diminuir de 24% a 33% no mesmo período.

imagem do planeta Terra cercado de lixo espacial
Crédito: Agência Espacial Europeia

O impacto disso pode ser enorme. Os satélites são fundamentais para a previsão do tempo, para serviços bancários online, para o funcionamento da internet e muitas outras aplicações. Se as operadoras de satélite precisarem gastar mais tempo e energia desviando de detritos espaciais, esses serviços se tornarão mais caros e menos eficientes.

“A principal função dos satélites sempre foi coletar dados ou oferecer algum serviço, como conexão com a internet. Mas, se esse problema continuar, a prioridade passará a ser simplesmente evitar colisões”, afirma William Parker

Segundo Parker, por muito tempo acreditou-se que o espaço era grande o suficiente para que não fosse necessário se preocupar com a quantidade de detritos em órbita. Mas essa ideia está ultrapassada. “Precisamos começar a tratar o espaço com mais responsabilidade. Ele é um recurso que precisa ser gerenciado de forma sustentável”, alerta o pesquisador.


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais