Bluesky se propõe a ser muito mais do que uma alternativa ao X/ Twitter

Sem dúvida, ele se parece com o antigo Twitter. Mas sua visão mais ampla de redes sociais descentralizadas está prestes a ser posta à prova

Crédito: Jason Leung/ Unsplash

Harry McCracken 4 minutos de leitura

Logo após a oficialização da compra do Twitter por Elon Musk, em 27 de outubro de 2022, o bilionário começou a destruir seu novo brinquedo. E para milhões de fãs da plataforma, as desvantagens de uma rede social controlada por um único dono imprevisível se tornaram evidentes.

No entanto, muito antes de Musk desembolsar seus US$ 44 bilhões, alguns já estavam preocupados com a centralização do Twitter. Entre eles estava o cofundador da empresa, Jack Dorsey.

Em 2019, quando ainda era CEO, ele montou uma pequena equipe para desenvolver um protocolo aberto para comunicações federadas no estilo do Twitter – uma tecnologia que o tornaria mais parecido com o e-mail, permitindo que plataformas independentes trocassem informações. A iniciativa foi chamada de Bluesky.

Crédito: Bluesky

Transformado em uma startup independente, o Bluesky ganhou destaque no mundo da tecnologia recentemente ao lançar um aplicativo para iPhone que lembra muito o Twitter de antes de Musk. Os códigos de convite para a versão beta se tornaram mercadoria valiosa, e aqueles que conseguiram entrar se sentiram parte do grupo dos "descolados".

A plataforma, que ainda não está aberta a todos, conta com 2,3 milhões de usuários. Mas, assim como Mastodon, Threads e outros refúgios para expatriados do Twitter, ela não se tornou o megahub de conversas que a rede de Musk já foi um dia.

O protocolo AT Ele é impulsionado pela crença de que ninguém deveria ter tanto poder sobre as redes sociais.

A CEO, Jay Graber, conta que a equipe de 30 pessoas do Bluesky tentou recriar “o ideal platônico do Twitter como era antes” e destaca algumas comunidades que se identificaram com o serviço: amantes de memes, escritores, artistas e pessoas que acham que dizer muito com poucas palavras é um desafio divertido de criatividade (o Bluesky tem um limite de 300 caracteres).

Mas por que o Bluesky manteve seu sistema de convites, mesmo que isso signifique que muitos possíveis membros ainda fiquem de fora? “Para ser sincera, não tínhamos a capacidade de absorver toda essa quantidade em um dia”, explica Graber. “Na verdade, não tivemos muito tempo fora do ar, o que é uma prova do sucesso da nossa estratégia de crescimento controlado – o Twitter, no início, tinha muitas falhas.”

REDES INTERCONECTADAS

Quer você esteja no Bluesky ou não, considerá-lo apenas como um aplicativo parecido com o Twitter é um erro. Ele é um teste para o protocolo que a startup vem construindo para nos ajudar a sair da era das redes sociais centralizadas. Graber diz que a empresa está prestes a encarar seu primeiro grande teste no mundo real.

Seu protocolo para redes sociais descentralizadas e federadas, conhecido como Authenticated Transfer (ou simplesmente AT), estará pronto no início de 2024. Com isso, outros poderão construir redes sociais nele, todas capazes de se comunicar com o Bluesky e entre si. É quando a empresa suspenderá seu sistema de convites e dará as boas-vindas a qualquer um que queira se juntar.

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Se o AT decolar, teoricamente, ele poderia atrair os usuários da plataforma que Musk governa ao sabor de suas vontades. Mas o Bluesky não está mirando especificamente no X/ Twitter. Ele é impulsionado pela crença de que ninguém deveria ter tanto poder sobre as redes sociais.

O fato de a maioria das plataformas ter permanecido tão centralizada “é a razão pela qual não conseguimos, depois de duas décadas, eliminar a toxicidade dos sistemas em que estamos”, afirma Graber. “Mas se abrirmos e deixarmos os desenvolvedores experimentarem [técnicas de] moderação, algoritmos e feeds diferentes, como será esse mundo?”

JARDINS MURADOS

O ActivityPub, protocolo usado pelo Mastodon, surgiu de ideais semelhantes e tem uma vantagem de seis anos. Ele também tem um ponto de inflexão potencialmente transformador em seu futuro se a Meta cumprir sua promessa de incorporá-lo ao Threads.

Graber diz que já deu uma olhada no ActivityPub e em outros protocolos, que está animado com o atual período de experimentação que eles representam e que vê uma oportunidade de interoperabilidade entre eles e o AT.

“Eu realmente acho que ter vários protocolos neste momento é bom, porque estamos testando o que funciona e como essas escolhas de design de protocolo interagem.”

Claro, apenas uma pequena fração das pessoas online é tão apaixonada assim por protocolos de internet. Na maioria das vezes, queremos somente conversar uns com os outros e não nos preocupar com os fundamentos técnicos.

Mas, com a progressiva deterioração do X/ Twitter, o surgimento de rivais incompatíveis parece ser um anúncio das vantagens de um protocolo padrão que poderia unir todos.

Isso tudo me lembra dos dias pré-web, quando eu usava quatro serviços online ao mesmo tempo: AOL, CompuServe, GEnie e BIX. Era a própria definição de jardins murados: eles nem mesmo permitiam enviar e-mails de um serviço para outro.

Espero viver para ver o dia em que ter redes sociais muradas seja algo tão absurdo quanto isso.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais