Boa notícia: novas IAs do Google não vão chegar ao público tão cedo
Empresa apresenta assistente de inteligência artificial que “enxerga” e extensão do Chrome que navega na web sozinha. Tecnologias ainda estão em fase de testes – e faz todo sentido
No setor de tecnologia, poucos hábitos são tão comuns quanto o vaporware – apresentar produtos muito antes de estarem prontos para lançamento. Em alguns casos, isso acontece porque as empresas simplesmente subestimam o tempo necessário para concluir o desenvolvimento.
Em outros, é uma estratégia deliberada para criar expectativa em torno de algo novo, desviando o foco das ofertas concorrentes. Seja como for, o resultado é sempre o mesmo: produtos que demoram para chegar – ou nunca chegam – ao mercado.
Na corrida atual pela liderança em inteligência artificial, isso tem sido frequente. Não é surpresa, portanto, que os novos projetos do Google – Astra e Mariner – ainda não estejam disponíveis ao público.
Por enquanto, o Google DeepMind, braço de pesquisa em IA da empresa, está disponibilizando essas ferramentas apenas para um seleto grupo de “testadores confiáveis”. Porém, classificá-los como mais um exemplo de “vaporware” seria injusto.
O Google tem sido transparente. Seu objetivo é entender como as pessoas realmente usariam essas novas tecnologias antes de oferecê-las amplamente. Considerando alguns problemas que a empresa teve com lançamentos passados, essa estratégia parece bastante sensata.
O Astra é uma visão do futuro dos assistentes de IA. Ele não é um software limitado como o Google Assistant ou um chatbot baseado em texto como o Gemini, mas sim um assistente que escuta, fala e “enxerga” o mundo ao seu redor.
Ele é comparável ao Advanced Voice Mode do ChatGPT, lançado pela OpenAI em maio – embora seus recursos de câmera ainda não tenham saído do papel.
Já o Mariner é uma extensão do Chrome que automatiza a navegação na web, digitando e clicando para realizar tarefas que você faria manualmente.
Considerando alguns problemas que a empresa teve com lançamentos passados, essa estratégia parece bastante sensata.
Essa ideia lembra o recurso “Computer Use”, da Anthropic, apresentado em outubro como parte do modelo Claude, que permite que o chatbot controle aplicativos. Ambas as ferramentas são passos em direção ao futuro da IA autônoma, capaz de agir de forma independente em nome do usuário.
Os aprendizados do Google com Astra e Mariner podem ser tão relevantes para a qualidade das futuras experiências quanto as capacidades técnicas do modelo Gemini – mais um sinal de que a inteligência artificial está finalmente começando a oferecer resultados práticos.
“Os benchmarks acadêmicos continuam importantes, mas hoje, quando dizemos que algo é ‘o melhor da categoria’, estamos falando sobre a experiência do usuário. O que importa é: eles acham que é o melhor?”, explica Koray Kavukcuoglu, CTO do Google DeepMind. “As capacidades do modelo precisam estar integradas à funcionalidade e à utilidade do aplicativo – essa é uma grande mudança para os pesquisadores.”
"Quando dizemos que algo é ‘o melhor da categoria’, estamos falando sobre a experiência do usuário. O que importa é: eles acham que é o melhor?”
Claro, entusiastas podem achar divertido usar IA para coisas como fazer compras, mesmo que isso não economize tempo. Porém, os testadores iniciais são, em geral, pessoas mais familiarizadas com tecnologia do que o público comum, o que limita o que a empresa pode aprender com eles.
“No momento, estamos trabalhando com testadores que já têm experiência com IA, porque ainda estamos nos primeiros estágios do projeto”, comenta Helen King, diretora sênior de responsabilidade do Google DeepMind.
“Mas, conforme avançarmos, será essencial incluir uma diversidade maior de vozes: especialistas, acadêmicos e, sobretudo, o público geral. Queremos que essas ferramentas sejam acessíveis a todos, não apenas àqueles que já dominam IA”, acrescenta King.
“No momento, estamos trabalhando com testadores com experiência em IA, porque ainda estamos nos primeiros estágios do projeto”.
Todos os envolvidos nos projetos Astra e Mariner ressaltam que as ferramentas continuarão a evoluir conforme o Google aprende com os testes.
“Montamos a equipe para permitir uma exploração rápida. Estamos focados nisso”, reforça Kavukcuoglu. A verdadeira prova do valor dessas tecnologias estará nos produtos finais que o Google lançará. Mas as primeiras impressões indicam que essas ferramentas parecem promissoras e bem fundamentadas.