Cidades chinesas testam carros-robôs. Será o fim dos motoristas de táxi?

Apesar de também levantarem preocupações com segurança, as frotas estão crescendo para ajudar o país a alcançar metas econômicas

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Sarah Wu, Ethan Wang e Zhang Yan 4 minutos de leitura

Liu Yi está entre os sete milhões de motoristas de aplicativos na China. Aos 36 anos, ele vive em Wuhan e começou a trabalhar como motorista em meio período este ano, quando o setor de construção civil desacelerou devido ao aumento no número de apartamentos vagos no país. 

Agora, ele prevê uma nova crise enquanto observa seus vizinhos pedindo táxis autônomos do lado de fora de seu carro. “Todos vão passar fome”, diz Yi sobre os motoristas de Wuhan, que competem com os táxis-robôs da Apollo Go, uma subsidiária da gigante da tecnologia Baidu.

Motoristas de aplicativos e de táxi estão entre os primeiros trabalhadores do mundo a enfrentar a ameaça de perder seus empregos para a inteligência artificial, à medida que milhares de táxis-robôs chegam às ruas chinesas, segundo economistas e especialistas da indústria.

Embora a tecnologia de direção autônoma ainda esteja em fase experimental, a China tem avançado rapidamente na aprovação de testes, em comparação com os Estados Unidos, que têm aberto uma série de investigações contra as empresas do setor após acidentes envolvendo veículos autônomos.

Pelo menos 19 cidades chinesas estão realizando testes com táxis e ônibus sem motoristas, de acordo com dados divulgados. Sete delas já aprovaram testes de monitoramento de pelo menos cinco empresas líderes: Apollo Go, Pony.ai, WeRide, AutoX e SAIC Motor.

Em maio, a Apollo Go anunciou que pretende colocar mil táxis-robôs nas ruas de Wuhan até o final do ano. Em 2022, a empresa já havia previsto que estaria operando em 100 cidades até 2030.

A Pony.ai, apoiada pela Toyota, já opera 300 táxis-robôs e planeja adicionar outros mil até 2026. O vice-presidente da empresa afirma que pode levar cinco anos até que se tornem lucrativos de forma sustentável e, quando isso ocorrer, eles irão se expandir “exponencialmente”.

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A WeRide é conhecida por seus táxis, vans, ônibus e até mesmo varredores de rua autônomos. A AutoX, apoiada pelo grupo de e-commerce Alibaba, opera em várias cidades, incluindo Pequim e Xangai. A SAIC começou a operar táxis-robôs no final de 2021.

Nos Estados Unidos, a Waymo, da Alphabet, é a única empresa de táxis autônomos que atualmente cobra tarifas. Ela tem cerca de 700 carros operando em São Francisco, Los Angeles, Phoenix e Austin, embora nem todos estejam em serviço o tempo todo, de acordo com o porta-voz da empresa.

A Cruise, apoiada pela General Motors, retomou os testes em abril, após um de seus veículos ter atropelado um pedestre no ano passado. A empresa afirma que opera em três cidades, com a segurança como sua principal missão.

Crédito: Waymo

“Há um contraste claro entre os EUA e a China”, observa John Krafcik, ex-CEO da Waymo, apontando que os desenvolvedores de táxis-robôs enfrentam muito mais fiscalização e obstáculos nos Estados Unidos.

Estes veículos também geram preocupações com segurança na China, mas as frotas estão crescendo com a aprovação de testes para apoiar metas econômicas. No ano passado, o presidente Xi Jinping pediu “novas forças produtivas”, dando início a uma competição regional.

Pequim anunciou testes em áreas limitadas em junho e Guangzhou declarou este mês que abriria ruas em toda a cidade para testes de veículos autônomos.

AULAS DE DIREÇÃO REMOTAS

A China agora tem sete milhões de motoristas de aplicativos registrados, em comparação com 4,4 milhões há dois anos, segundo dados oficiais. Como este serviço gera empregos em tempos de desaceleração econômica, os impactos dos táxis-robôs podem levar o governo a diminuir o ritmo de adoção, sugerem economistas.

Em julho, o debate sobre a perda de empregos causada por veículos autônomos chegou ao topo das buscas nas redes sociais, com hashtags como “carros sem motorista estão roubando o sustento dos taxistas?”.

desenvolvedores de táxis-robôs enfrentam muito mais fiscalização e obstáculos nos EUA que na China.

“No curto prazo, é preciso equilibrar a criação de novos empregos com a eliminação dos antigos”, explica Tang Yao, professor associado de economia aplicada da Universidade de Pequim. “Não precisamos necessariamente avançar na velocidade máxima, pois já estamos na vanguarda.”

Desde 2019, a escola de condução Eastern Pioneer reduziu seu quadro de instrutores em mais da metade, para cerca de 900. Agora, ela conta com professores em um centro de controle em Pequim, que monitoram remotamente os alunos em 610 carros equipados com ferramentas de instrução automatizadas.

    O sistema os avalia em cada curva e frenagem, enquanto simuladores de realidade virtual os treinam para dirigir em estradas sinuosas. Telas gigantes fornecem análises em tempo real do desempenho dos motoristas, como a taxa de aprovação de 82% em baliza.

    Zhang Yang, diretor de treinamento inteligente da escola, afirma que as máquinas têm mostrado bons resultados. “A eficiência, a taxa de aprovação e a conscientização sobre segurança melhoraram consideravelmente.”


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