Com investimento de risco, governo Trump mira autonomia tecnológica dos EUA
Governo Trump continua comprando participações em fabricantes de chips – e isso pode virar um problema mais adiante

O governo do presidente Donald Trump pretende adquirir mais uma participação direta em uma empresa de tecnologia de chips.
Na semana passada, o Departamento de Comércio dos EUA anunciou ter assinado uma carta de intenções para investir até US$ 150 milhões na xLight, uma startup especializada em litografia, uma etapa essencial na fabricação de semicondutores.
O anúncio deixa claro que o investimento de quase US$ 9 bilhões na Intel – que rendeu ao governo norte-americano 10% da companhia – não foi um caso isolado. A administração Trump está avançando com a ideia de comprar participação acionária em empresas consideradas estratégicas para o país.
Como parte do acordo, a xLight vai receber dezenas de milhões de dólares para desenvolver um protótipo baseado em tecnologia de laser de elétron livre (FEL, na sigla em inglês). Caso funcione, a startup poderia disputar mercado com a holandesa ASML, que hoje domina praticamente todo o setor de equipamentos de litografia.
Para o governo dos Estados Unidos, a esperança é que a tecnologia da xLight possibilite o desenvolvimento de transistores cada vez menores – um dos principais objetivos atuais da indústria de chips.
O ACIONISTA CERTO?
Sob Trump, os EUA vêm ampliando sua participação em empresas privadas – uma estratégia que tem gerado bastante polêmica.
Economistas conservadores defendem que o governo não deveria se envolver tão diretamente no setor privado. Há, ainda, o receio de que esses investimentos não sigam critérios claros e acabem servindo para favorecer aliados políticos. Além disso, existe o risco financeiro: não há garantia de que esse tipo de política trará retorno.
“Será que o governo é mesmo o acionista mais adequado para ajudar essas empresas a crescer? E será que vai favorecer as companhias nas quais passou a ter participação?”, questionou Peter Harrell, do Carnegie Endowment for Peace, em entrevista ao “PBS News Hour”. “Que tipo de exigências políticas serão impostas a essas empresas?”
Além da xLight e da Intel, novos investimentos federais incluem participações milionárias em empresas de minerais e aço, segundo o “The New York Times”. No início do ano, surgiram rumores de que Trump estaria planejando comprar ações de empresas de computação quântica – informação negada por um alto funcionário à Fast Company.
O ACIONISTA CERTO?
Um ex-funcionário do Departamento de Comércio afirma que, de fato, a Intel dificilmente recuperaria sua antiga liderança na fabricação de chips apenas com os subsídios previstos no governo Biden.
Ainda assim, a recente compra direta de ações não resolve o problema. Pode até existir um cenário em que os investimentos na xLight e na Intel funcionem “em conjunto”, diz a fonte. “Mas queremos o governo dizendo à Intel que ela deve usar uma startup na qual o próprio governo investiu?” (Vale lembrar que Pat Gelsinger, ex-CEO da Intel, preside o conselho da xLight.)
De todo modo, a xLight provavelmente não será a última empresa de chips a receber investimentos diretos do governo.
Em setembro, um escritório dentro do Departamento de Comércio dos EUA divulgou um comunicado convidando empresas a se candidatarem a recursos destinados a fortalecer a indústria de microtecnologia do país.
O texto destacava que as companhias selecionadas poderiam ter de oferecer ao governo “participações acionárias, opções de compra, licenças de propriedade intelectual, royalties, divisão de receitas e outros instrumentos que garantam retorno do investimento”.