Com o bloqueio do X, Bluesky se torna o novo queridinho dos brasileiros

No Brasil, a perda do passarinho é o ganho da borboleta

Crédito: Charles Deluvio/ Unsplash

Janya Sundar 4 minutos de leitura

A plataforma de mídia social descentralizada, lançada em 2022, viu um aumento de cerca de 3,5 milhões de novos usuários, elevando sua base total para mais de 10 milhões. Mais de 93% dos novos usuários falam português, segundo a empresa de inteligência de aplicativos Appfigures.

O salto aconteceu depois que o Twitter (atual X) foi bloqueado no Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Segundo a diretora de operações do Bluesky, Rose Wang, a migração de usuários exigiu o trabalho contínuo de 14 engenheiros. Embora tenha havido uma queda de desempenho durante o que rapidamente se tornou a maior migração de usuários do Bluesky até agora, Wang disse que seus sistemas permaneceram intactos.

Em um esforço para atender aos usuários brasileiros, que valorizam muito o conteúdo em vídeo, o Bluesky lançou novas funcionalidades de vídeo na semana passada, permitindo que os usuários compartilhem vídeos de até 60 segundos na plataforma.

“Já estava nos planos, porque já estávamos investindo no Brasil,” diz Wang. “Mas acho que isso nos incentivou a acelerar o lançamento o mais rápido possível.”

Segundo a executiva, o Bluesky sempre manteve uma "forte presença" no país. Logo após o lançamento da versão beta do aplicativo, no ano passado, fãs de Taylor Swift e comunidades LGBTQ+ no Brasil estavam entre os primeiros a adotá-lo. Após receber o feedback desses usuários, a equipe rapidamente lançou um novo recurso de GIFs.

“Acho que é porque os brasileiros são extremamente sociáveis, muito comunicativos e adoram experimentar novas plataformas de mídia social,” diz Wang.

Fonte: Appfigures

PARECIDO COM O ANTIGO TWITTER

O Bluesky foi originalmente concebido pelo ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey. Inicialmente financiado pelo próprio Twitter, o Bluesky tornou-se independente em 2022 e agora é uma sociedade de utilidade pública – ou seja, uma empresa com fins lucrativos que tem como objetivo gerar um benefício público – com cerca de 40 funcionários.

A empresa levantou uma rodada de financiamento de US$ 8 milhões em julho de 2023, com participação de empresas de capital de risco e investidores-anjo, incluindo Dorsey. Mas o fundador deixou o conselho em 2024, afirmando que o Bluesky estava "repetindo todos os erros que [o Twitter] cometeu como empresa."

O Bluesky tem uma interface semelhante ao Twitter e é eficaz em fazer a curadoria de conteúdos em alta e em interagir com audiências locais. Focado na localização, mas também em conversas globais, o tipo de conteúdo postado no Bluesky é mais semelhante ao X do que ao de outros concorrentes, segundo o consultor de mídia social Matt Navarro.

“Ferramentas de tradução e recursos que ajudam na localização do conteúdo são particularmente úteis,” aponta o consultor de mídia social Matt Navarro.

USUÁRIOS NO COMANDO

O Bluesky também conquistou usuários que procuram por moderação de conteúdo específica para a comunidade, o que depende de sua estrutura descentralizada e federativa. Em uma plataforma descentralizada como o Bluesky, a moderação pode ser feita por comunidades individuais, permitindo regras e diretrizes específicas para cada comunidade.

Em contraste, plataformas tradicionais de mídia social, como o X, adotam políticas de moderação centralizadas e aplicadas de forma uniforme em toda a plataforma. O modelo federado permite que os usuários tenham mais controle sobre os ambientes dos quais participam.

O Bluesky é eficaz em fazer a curadoria de conteúdos em alta e em interagir com audiências locais.

“Queríamos que os usuários tivessem mais escolhas. Eles poderiam escolher diferentes feeds, teriam sua própria identidade e controlariam seus dados,” diz Wang. “Acreditamos que o novo paradigma das mídias sociais é que a plataforma não deve estar no controle. Nós, as pessoas, devemos estar no controle, assim como vivemos off-line.”

A camada base de moderação do Bluesky é feita por uma equipe que trabalha 24 horas, monitorando questões como assédio e discurso de ódio.

Além disso, os usuários têm o poder de rotular conteúdo e contas, de modo que pode haver consequências para comportamentos como grosseria, que não são expressamente ilegais nos termos de serviço. “Parece menos tóxico, perigoso e problemático do que o X de Elon Musk,” diz Navarro.

VALORIZAÇÃO DAS COMUNIDADES

Ao contrário do X, Wang diz que o Bluesky planeja continuar a cumprir com as legislações de cada região e a trabalhar com os governos, já que seu modelo descentralizado permite que comunidades locais imponham suas próprias regras sem afetar os usuários globalmente.

Segundo ela, o Bluesky tem como objetivo fornecer as ferramentas necessárias para se criar um espaço para comunidades, desde a curadoria de um feed até a moderação de conteúdo.

O aumento de usuários não deve alterar essa estratégia. Wang afirma que eles planejam continuar a investir na moderação de conteúdo e na "experiência de mundo grande e pequeno" que define o Bluesky.

“Tudo é sobre experimentação – estamos co-criando isso com vocês. A ideia de ser descentralizado é que estamos distribuindo o poder, para que tudo o que podemos fazer, vocês também possam”, diz Wang.


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