Como a IBM inventou o smartphone há 30 anos – e abandonou o projeto

Lançado em 1994, este aparelho foi o primeiro vislumbre de um dispositivo que mudaria o mundo. Mas chegou cedo demais

Crédito: Bcos47/ Wikimedia Commons

Harry McCracken 4 minutos de leitura

Em outubro de 1994, escrevi um artigo para a “InfoWorld” falando sobre um novo dispositivo: um celular chamado Simon, fruto de uma colaboração entre a IBM e a operadora BellSouth.

Como todos os aparelhos da época, ele era um “tijolo”. Mas o que chamou a atenção foi o fato de também ser um computador de bolso. Sua interface touchscreen permitia acessar e enviar e-mails, gerenciar o calendário, fazer anotações e – surpreendentemente – enviar fax.

Passei grande parte da matéria detalhando os defeitos do Simon, desde seu nada prático teclado ASDFG touchscreen (que exigia que os usuários girassem o telefone 90º para digitar) até seu desempenho lento (que às vezes demorava 10 segundos para responder).

Mas eu estava aberto para admitir que este aparelho híbrido/ assistente digital pessoal era “único” e que “aventureiros que trabalham remotamente” poderiam achá-lo útil.

Gostaria apenas de ter sido visionário o suficiente para perceber que ele era o primeiro produto de uma nova categoria que substituiria até mesmo os PCs em importância – os smartphones.

Crédito: Bcos47/ Wikimedia Commons

O ano de 1994 foi assim. Em várias frentes, a tecnologia estava evoluindo rapidamente. Às vezes, os resultados eram imediatos; em alguns casos, podiam levar anos ou até décadas para se concretizar. Vimos o surgimento de vários dispositivos que pareciam revolucionários, mas que ficavam muito aquém das expectativas.

O Simon foi a versão comercial de uma demonstração tecnológica criada por Frank Canova, da IBM, apresentada pela primeira vez na feira de informática COMDEX, em Las Vegas, em novembro de 1992. A empresa levou quase dois anos para transformar a ideia em um produto funcional, que teve que ser adiado por bugs no software, até finalmente ser lançado em agosto de 1994.

Na época, celulares ainda não eram comuns, pelo menos nos EUA. Transformá-los em dispositivos de computação em rede foi uma aposta extremamente ambiciosa.

O smartphone da IBM foi lançado cedo demais para conseguir ter sucesso.

A IBM teve que criar uma interface que coubesse na pequena tela vertical do Simon. Decidiu quais recursos eram essenciais e teve que transmitir e-mails em uma rede 1G, muito antes de os serviços de e-mail serem projetados para comunicações sem fio. A empresa até desenvolveu uma forma primitiva de digitação preditiva para facilitar a escrita.

Mas deixou de lado alguns aspectos. Relendo minha análise, vejo que critiquei o Simon por não ter o recurso de copiar e colar, algo que considerava básico para qualquer plataforma de computação. O que eu não sabia era que até mesmo o iPhone não teria este recurso nos seus dois primeiros anos no mercado.

Quando escrevi a matéria para a “InfoWorld”, que é voltada para negócios, a ousadia do produto não importava. Não fazia diferença o fato de que a IBM e a BellSouth tiveram que lidar com severas limitações.

Palm Pilot (Crédito: Wikipedia)

Naquela época, eu não sabia que os smartphones no futuro teriam telas coloridas de alta resolução, processadores e armazenamento que se comparariam a um PC e mais largura de banda. Muito menos várias câmeras, GPS e todos os recursos que agora consideramos comuns.

A BellSouth vendeu 50 mil aparelhos até descontinuar o Simon, em fevereiro de 1995. Pelos padrões modernos, isso pode parecer um fracasso. Mas, dado o caráter inovador do dispositivo, não considero que tenha sido.

Infelizmente, não houve um Simon II. A IBM começou a trabalhar em um modelo de segunda geração menor, sob o codinome “Neon”, mas abandonou o projeto antes do lançamento.

Hoje sabemos que seriam necessárias várias gerações do Simon para chegar a algo com potencial de sucesso. É difícil imaginar a IBM – que até desistiu do negócio de PCs que ajudou a criar – fazendo esse investimento de longo prazo em uma nova categoria de hardware.

Modelos Blackberry (Crédito: Wikipédia)

Em vez disso, duas outras empresas que ganharam destaque antes dos anos 90 prepararam o terreno para a revolução dos smartphones. Uma foi a Palm, cujo assistente digital PalmPilot era portátil, acessível e excelente em tarefas de produtividade, como sincronização de compromissos e contatos com um PC.

A outra foi a BlackBerry, que incorporou e-mail em um dispositivo tipo pager com um teclado ASDFG surpreendentemente utilizável, dado seu tamanho minúsculo. Impulsionadas pelos avanços tecnológicos que ocorreram após a morte prematura do Simon, ambas acabaram produzindo smartphones populares, até serem superadas pelo iPhone.

Há muito do PalmPilot e do BlackBerry nos aparelhos atuais. O Simon, por outro lado, não deixou uma marca tão forte. O smartphone da IBM foi lançado cedo demais para conseguir ter sucesso. Mas fico feliz de ter tido a oportunidade de experimentá-lo na época.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais