Como escolher uma carreira em tecnologia que ajude a humanidade

Se você quer fazer a diferença no mundo, uma decisão se destaca acima de todas as outras: como usar seu trabalho para ajudar?

Crédito: Andriy Onufriyenko/ GettyImages

William Macaskill e Ben Todd 5 minutos de leitura

As próximas décadas serão marcadas por inovações tecnológicas extraordinárias. Mas elas podem tanto nos proporcionar enormes benefícios quanto levar a desastres impensáveis. O que vai acontecer vai depender de como vamos lidar com os riscos. 

Biotecnologia e inteligência artificial são duas tecnologias que apresentam riscos em grande escala, difíceis de controlar e que vêm sendo tratados com negligência. Sendo assim, se você espera que as tecnologias mais poderosas que estamos construindo tenham um impacto positivo em sua vida, uma das melhores a fazer é juntar-se ao esforço para garantir que elas funcionem para o benefício de toda a humanidade.

Pense, por exemplo, nas mudanças climáticas. As mudanças de comportamento fizeram uma diferença real: a reciclagem evita cerca de 0,15 toneladas de emissões de CO2 por ano, e substituir o carro por outros meios de transporte evita pouco mais de duas toneladas. Por outro lado, doar US$ 1 mil para as melhores instituições voltadas para o clima parece evitar algo próximo a 100 toneladas de emissões de CO2.

Mas, a não ser que você seja extremamente rico, sua contribuição mais valiosa pode ser seu próprio tempo, trabalhando diretamente nas questões que mais lhe interessam. Afinal, gente qualificada e dedicada é necessária para ajudar a transformar as doações de outras pessoas em mudanças reais. As doações, por sua vez, são úteis apenas na medida em que capacitam pessoas para realizar mudanças.

sua contribuição mais valiosa pode ser seu próprio tempo, trabalhando diretamente nas questões que mais lhe interessam.

Isso também vale para o campo de atuação profissional: provavelmente, sua maior oportunidade de fazer a diferença está na carreira. Em 2011, cofundamos a ONG 80.000 Hours, que oferece consultoria gratuita para pessoas que querem fazer o bem com seu trabalho.

Nossa equipe passou anos pesquisando essa questão: o que fazer se você quer usar sua carreira para trabalhar em um problema profundamente importante? Com base nessa pesquisa, sugerimos que considere três questões-chave.

ENCONTRE O PROBLEMA CERTO

Primeira pergunta: quão urgente é o problema que você quer ajudar a resolver? Em outras palavras, que impacto as pessoas podem ter ao escolher trabalhar nisso? Os problemas mais urgentes do mundo combinam três fatores:

1. São grandes em escala (afetam significativamente um grande número de pessoas e resolvê-los seria uma grande conquista)

2. São negligenciados (ainda não foi investido esforço suficiente neles)

3. São solucionáveis ​​(o progresso é possível com um esforço extra)

Pense nos riscos da biotecnologia. Eles certamente são enormes em escala: a Covid-19 matou mais de 20 milhões de pessoas. No entanto, a humanidade está fazendo muito pouco para evitar a próxima pandemia. Futurologistas da Metaculus, uma plataforma comunitária de previsões, estimam em 1% o risco de uma catástrofe biológica que mate 95% da população mundial até 2100. 

E quanto aos riscos da inteligência artificial? Por exemplo, os sistemas de IA podem empoderar futuros regimes totalitários, aumentando o domínio de ditadores sobre suas populações. Esses possíveis efeitos também são surpreendentemente negligenciados.

Atualmente, para cada 100 ou mais pessoas pesquisando como aprimorar as capacidades da inteligência artificial, há apenas uma pesquisando como impedir que essa tecnologia cause danos catastróficos.

Assim, quando analisamos quais questões parecem mais urgentes, tecnologias emergentes poderosas se destacam. Elas têm o potencial de pôr em perigo nosso futuro como poucas outras coisas, mas seus riscos são extremamente subestimados.

APROVEITE A SUA CONTRIBUIÇÃO

Segundo: como você pode causar um grande impacto para a redução do problema? Algumas soluções para problemas importantes funcionam muito melhor do que outras, e certas abordagens podem até ser contraproducentes.

Tecnologias emergentes têm o potencial de pôr em perigo nosso futuro como poucas outras coisas, mas seus riscos são extremamente subestimados.

Quais são as soluções mais promissoras para reduzir os riscos biológicos? Embora esse campo seja relativamente novo, já conhecemos várias medidas concretas, que pessoas dedicadas podem ajudar a levar adiante.

Ou então, como você poderia colaborar para tornar mais seguro o uso de IA? Para garantir que o desenvolvimento dessa tecnologia corra bem, precisamos conseguir garantir um sistema que funcione como pretendido, mesmo que ele se torne mais capaz do que nós.

Também precisamos de progresso na governança da inteligência artificial, como melhores propostas sobre como e em que casos esses sistemas devem ser usados.

ENCONTRE UMA CARREIRA QUE TRAGA REALIZAÇÕES

Isso nos leva à terceira e última pergunta: quanto você combina com a carreira que está considerando?

Talvez você seja um excelente escritor e orador, mas não goste de pesquisa científica. Nesse caso, na hora de enfrentar as questões climáticas, provavelmente fará uma diferença maior trabalhando na política ou na divulgação para promover a energia limpa do que em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

Olhando para a biotecnologia e a IA, alguns dos maiores desafios são altamente técnicos, como desenvolver tecnologias defensivas para pandemias. Mas também precisamos de novas organizações para implementar as soluções mais promissoras e, para isso, temos que contar com pessoas que tenham habilidades em empreendedorismo, gestão, operações, contabilidade e captação de recursos.

Também precisamos de agentes comunitários, para apoiar as pessoas que querem trabalhar em todos esses problemas. E, é claro, de comunicadores para divulgar as possíveis soluções. Navegar pelas tecnologias mais importantes no horizonte é um esforço coletivo, que vai exigir a participação de pessoas das mais variadas origens e com diferentes pontos fortes.

Existem muitas formas de fazer o bem dentro da sua profissão, incluindo opções que não envolvem diretamente o desenvolvimento e a execução de novas tecnologias. Com um pensamento cuidadoso, as pessoas podem encontrar carreiras que sejam envolventes e satisfatórias e que, ao mesmo tempo, permitam causar um tremendo impacto positivo.


SOBRE O AUTOR

William MacAskill é professor associado de filosofia na Universidade de Oxford e pesquisador no Global Priorities Institute. Ben Tod... saiba mais