Como se proteger dos riscos de usar fotos em aplicativos de IA

Ao aceitar os termos de uso, permitimos que nossa imagem seja usada indefinidamente, sem qualquer notificação ou compensação

Crédito: Mikkel William/ iStock/ Freepik

Mário Jardim 4 minutos de leitura

Nos últimos anos, temos acompanhado o crescimento de aplicativos que usam inteligência artificial (IA), de acordo com o movimento das pessoas de criar simulações e avatares virtuais nas redes sociais com suas fotos.

Porém, ainda existem desafios quando o assunto são os dados pessoais envolvidos no processo. É essencial ter atenção nos termos de uso e políticas de privacidade das plataformas, para evitar a exposição excessiva no ambiente online e os riscos que isso traz.

essas fotos geram uma quantidade surpreendente de receita, ainda mais de forma indefinida, como os termos de uso geralmente indicam.

Aplicativos que usam fotos para criar personagens virtuais, por exemplo, podem ferir políticas de privacidade caso as empresas não sejam claras sobre como utilizarão as informações recebidas.

O direito de uso de imagem é um dos perigos. Ao aceitar os termos de uso, damos permissão para que a organização que faz a gestão do aplicativo use nossa imagem indefinidamente, sem a necessidade de qualquer compensação ou notificação.

Sejam de celebridades ou anônimos, essas fotos geram uma quantidade surpreendente de receita, ainda mais de forma indefinida, como os termos de uso geralmente indicam.

Por isso, concordar sem ler significa também permitir sua versão virtual em campanhas diversas (na internet ou em outros meios, como impressos, banners e até outdoors) sem qualquer tipo de pagamento, autorização prévia ou indenização.

No Brasil, trabalhamos com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), composta por 10 princípios que orientam as empresas que tratam os dados pessoais dos brasileiros sobre como devem seguir para se adequar à legislação.

Destaco os principais relacionados à transparência sobre o uso das informações:

– Princípio da Finalidade: é preciso informar a real finalidade do tratamento do dado recebido para a entrega do serviço oferecido.

– Princípio da Necessidade: um dos principais da LGPD. Ele altera o pensamento antiquado de que quanto mais dados, melhor. Agora, as empresas só conseguirão manter tratamentos de dados pessoais realmente sustentáveis, justificáveis e, acima de tudo, necessários.

– Princípio da Transparência: exige clareza das organizações sobre seus processos, por meio do compartilhamento de documentos informativos. Com isso, as pessoas podem controlar suas informações pessoais questionando o tratamento dado a elas e exercendo seus direitos.

É fundamental ter ciência do que é compartilhado voluntariamente e de que forma as empresas vão utilizar ou compartilhar esses dados.

RISCOS DE APLICATIVOS QUE USAM SUAS FOTOS

Golpes e ações maliciosas com deep fake

Uma ação comum é o treinamento do algoritmo para gerar um deep fake – montagem realizada com técnicas avançadas de IA que utiliza vários tipos de mídia. Dessa forma, os criminosos criam vídeos e fotos que podem trazer consequências extremamente prejudiciais.

Fraudes que envolvem biometria

Ainda mais alarmante é o potencial de acessos que uma imagem detalhada com IA pode conceder. Sendo do rosto, bem-posicionada e com detalhes, ela permite gerar, sem grande esforço, a biometria utilizada em bancos, celulares, escritórios etc. A biometria reconhece pontos e características únicas da face, voz ou impressão digital para ativação de autenticação multifator, além de dispensar a utilização de senhas.

Perigos em sistemas de reconhecimento facial

Essa tecnologia tem muito potencial para impactar positivamente a sociedade, mas ainda precisa de vários ajustes, o que gera grande repercussão sobre erros de sistemas de reconhecimento facial de empresas e governos.

Assim como em outros movimentos virais, a aderência em massa a serviços digitais pouco transparentes é incentivada pelo uso das redes sociais, que dão uma sensação de pouco risco e de segurança do uso do aplicativo, já que muita gente o utiliza.

Por isso, separei algumas dicas para sua proteção ao utilizar aplicativos de inteligência artificial:

– Leia sempre a Política de Privacidade e os Termos de Uso com atenção;

– Não importe fotos de outras pessoas, principalmente crianças;

– Não importe fotos com nudez;

– Assim que obter o serviço, exclua a conta e certifique-se que seus dados serão apagados, de acordo com as leis de proteção de dados;

– Não “esqueça” o aplicativo de inteligência artificial no aparelho. Exclua o app o quanto antes;

– Use as legislações vigentes de privacidade a seu favor e cobre das empresas a devida transparência;

– Também é importante lembrar do impacto para artistas reais, por ser muito provável que várias artes de profissionais tenham sido importadas para treinar os modelos do app.

Hoje temos mais ciência da exploração indiscriminada de dados pessoais realizada por pessoas mal-intencionadas, que buscam brechas nas regras de privacidade para o tratamento inadequado de informações pessoais.

Nos termos de serviço e na política de privacidade, as empresas precisam informar, de forma transparente, os objetivos, finalidades, hipóteses de exclusão, período em que os dados serão tratados, entre outros pontos.

De um lado, as companhias devem respeitar a regulamentação, observar os princípios e garantir os direitos dos titulares para estarem em conformidade com a lei.

Mas, de outro, cabe às pessoas terem o compromisso inegociável com seus dados, buscando se informar sobre o serviço antes de clicar em “concordar”.


SOBRE O AUTOR

Mário Jardim é data protection officer (DPO) da desenvolvedora de produtos digitais Zup Innovation. saiba mais