Conteúdo adulto: será que o X agora quer concorrer com o OnlyFans?

As recentes mudanças na plataforma são um sinal de uma abordagem mais voltada para o conteúdo adulto?

Crédito: Kelly Sikkema/ Unsplash/ CSA Images/ iStock

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Em outubro do ano passado, o Twitter (atual X) começou a testar diferentes níveis de assinaturas pagas. Sete meses depois, a plataforma relaxou suas políticas em relação a conteúdo adulto, dando aos usuários mais liberdade para compartilhar imagens explícitas.

No início de junho, Elon Musk anunciou que esconderia as curtidas, removendo uma ferramenta que permitia ver o engajamento de outros perfis. Essas três mudanças, individualmente, podem parecer pequenas. Mas, juntas, levantam uma questão interessante: o X está tentando competir com o OnlyFans?

Conteúdos adultos estão presentes na plataforma há anos. A agência de notícias “Reuters” teve acesso a um relatório interno de 2022 que mostrava que eles representavam cerca de 13% das postagens.

De acordo com Carolina Are, pesquisadora de moderação de conteúdo do Centro para Cidadãos Digitais da Universidade Northumbria, na Inglaterra, desde o final de 2022, já havia discussões sobre o X transformar seu serviço de assinatura para permitir que criadores pudessem monetizar conteúdo adulto.

“Essa ideia já havia sido cogitada quando o Twitter Blue se tornou uma realidade”, diz ela, referindo-se ao serviço pago introduzido após Musk assumir o controle da empresa. O Twitter Blue foi rebatizado de X Premium.

Essa série de mudanças parece sugerir um esforço mais direcionado para atrair criadores de conteúdo adulto, segundo Are. Isso ocorre em um momento no qual plataformas como TikTok e Instagram estão sendo acusadas de impor políticas draconianas em relação àqueles que optam por postar conteúdo obsceno, nu ou explícito.

MAIS DIFÍCIL DO QUE PARECE

No passado, o X foi acusado de shadowbanning (mecanismo de banimento que diminui o desempenho de posts de uma conta) ao impedir que o nome de certos usuários aparecesse na barra de busca da plataforma.

O site da indústria de entretenimento adulto “XBizreportou no final de 2023 que alguns perfis estavam sofrendo shadowbans simplesmente pelo “potencial” de postar conteúdo sexual.

desde o final de 2022, já havia discussões sobre o X transformar seu serviço de assinatura para permitir que criadores pudessem monetizar conteúdo adulto.

“Gostaria de ver alguma flexibilização nas regras do X, porque negócios adultos – não apenas performers, mas também blogueiros de sexo, empresas de brinquedos sexuais, escritores eróticos e muitos outros – estão lutando para sobreviver”, diz uma blogueira com o pseudônimo Girl on the Net, que tem quase 23 mil seguidores. “Mas ainda não vi um grande movimento que me fizesse querer assumir qualquer risco comercial investindo mais tempo em uma plataforma que ainda tenta, deliberadamente, esconder meu conteúdo.”

No entanto, um X mais amigável ao conteúdo adulto também pode criar um dilema para os criadores, muitos dos quais usam a plataforma há anos como uma vitrine para promover seus serviços de assinatura no OnlyFans.

Ao longo de sua gestão, Musk tem se mostrado especialmente hostil a outras redes. Em dezembro de 2022, ele começou a bloquear links para serviços concorrentes, como o Mastodon, e a banir usuários que tentavam direcionar seus seguidores para aplicativos rivais.

Are questiona se o direcionamento para plataformas ou sites externos seria ainda limitado se o X mergulhasse totalmente no conteúdo adulto. “Pode haver mais restrições em relação ao que você posta fora do serviço pago”, diz ela.

No entanto, existem muitos obstáculos para a plataforma conseguir competir de verdade com o OnlyFans. “Eles precisariam de processadores de pagamento amigáveis ao conteúdo adulto, softwares caros de verificação de idade e maneiras de garantir que o conteúdo esteja em conformidade com as regras cada vez mais rigorosas da Visa e da MasterCard para sites adultos”, observa Jessica Van Meir, cofundadora da plataforma de conteúdo positivo MintStars.

O X não respondeu quando procurado pela Fast Company, mas afirmou no início do mês que estava buscando simplificar suas regras e diretrizes em torno da moderação de conteúdo.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais