Couro de cogumelo e seda fermentada apontam para o futuro da moda

Crédito: Fast Company Brasil

Adele Peters 4 minutos de leitura

A lista de marcas que experimentam novos materiais mais sustentáveis ​​continua crescendo.

A Adidas redesenhou seu clássico modelo de tênis Stan Smith utilizando couro de micélio à base de cogumelo; a multinacional canadense Lululemon usou esse mesmo material para confeccionar tapetes e acessórios de ioga; já a estilista Stella McCartney recorreu a ele para criar uma bolsa e um bustiê. A Newlight, uma startup que transforma as emissões de gases de efeito estufa em couro certificado com carbono negativo, fechou uma parceria com a Nike. A The North Face criou, em parceria com a startup Spiber, uma jaqueta em edição limitada, feita de um material que emula seda de aranha, fermentado em tanques, como cerveja.

Para fabricar uma jaqueta infantil, a H&M usou Flwrdwn, uma nova alternativa feita parcialmente de flores silvestres, e a Vegea usou em seus sapatos e bolsas um couro à base de uva, feito de subprodutos do vinho. Além disso, mais de mil marcas já experimentaram o Pinatex, um tipo de couro feito a partir de resíduos da indústria do abacaxi. E existem dezenas de outras parcerias.

Crédito: cortesia de Stella McCartney

“Essa é basicamente a versão material do que já está acontecendo no setor de alimentos”, diz Elaine Siu, diretora de inovação da Material Innovation Initiative, uma organização sem fins lucrativos que acompanha e apoia o setor, e que publicou recentemente um relatório descrevendo como as marcas estão trabalhando em parceria com novos produtores de materiais.

Da mesma forma que empresas como a Impossible Foods e a Perfect Day estão reinventando as alternativas de carne e laticínios, um número crescente de startups e um punhado de empresas maiores estão trabalhando em alternativas aos materiais de origem animal. Marcas que dependem do couro ou da seda – ou de alternativas a eles de primeira geração, feitas de plástico – são impulsionadas pela demanda do consumidor a desenvolver produtos mais sustentáveis ​​e éticos.

Foto: cortesia da Adidas

Até agora, os produtos feitos de novos materiais estão sendo lançados em pequena escala, como é o caso dos assentos de couro à base de maçã de um carro-conceito, ou das coleções-cápsula de uma marca de moda. Mas o que seria necessário para que essas alternativas crescessem e alcançassem uma escala significativa?

Esse primeiro passo que está sendo dado agora, no qual os fabricantes de têxteis trabalham em estreita colaboração com as marcas, é fundamental, diz Siu. Uma empresa que está desenvolvendo um novo material precisa entender as especificações daquilo que seus clientes precisam e como esse material se encaixará em todo o processo de produção, desde as fábricas e o tingimento até a costura.

Crédito: cortesia de Spiber

“A área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas realmente precisa levar em conta muito cedo, por exemplo, que tipo de maquinário será necessário”, explica ela. “Também é preciso entender em que estágio o biomaterial vai para a fábrica. Os artesãos realmente já sabem como usá-lo? Eles precisam ser treinados para saber como usar um novo material.”

Uma empresa que deseja usar novos materiais a fim de atingir as metas de sustentabilidade também precisará investir algum tempo educando suas equipes. “Todos na empresa precisam começar a adquirir essa nova mentalidade de como trabalhar com essa mudança”, diz Siu. Alguns produtos são mais difíceis de fabricar com novos materiais do que outros, como é o caso de um sapato de salto alto, que exige um alto nível de habilidade para ser feito, em comparação com uma jaqueta.

Crédito: cortesia Spiber

Uma vez que um novo material parece atender aos requisitos de qualidade e de produção de uma marca, a empresa que o produz ainda precisará trabalhar nos detalhes técnicos de como produzir com ele em larga escala. O próximo passo é o financiamento para começar a construir grandes instalações de produção. Algumas empresas de moda estão investindo diretamente. A Adidas, por exemplo, comprou mais de US$ 3 milhões em ações da Spinnova, uma empresa que transforma resíduos de madeira e de roupas em novos tecidos. A Allbirds investiu US$ 2 milhões na Natural Fiber Welding, uma startup que produz couro à base de plantas, sem colas sintéticas (outro investidor foi a divisão de risco da BMW).

Com o financiamento em vigor, algumas empresas estão começando a aumentar a produção. A MycoWorks, uma startup de biomateriais que produz couro a partir de micélio, levantou recentemente US$ 125 milhões para construir sua primeira unidade de produção em massa. Se o grosso das empresas desses setores puder começar a substituir o couro e outros materiais convencionais, o impacto pode ser real. O couro animal tem um grande impacto ambiental; por outro lado, o couro baseado em emissões da Newlight chega a ter um impacto positivo, deixando uma pegada negativa de 87,76 quilos de CO2 por cada quilo de material produzido.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais