Couro de cogumelo e seda fermentada apontam para o futuro da moda
A lista de marcas que experimentam novos materiais mais sustentáveis continua crescendo.
A Adidas redesenhou seu clássico modelo de tênis Stan Smith utilizando couro de micélio à base de cogumelo; a multinacional canadense Lululemon usou esse mesmo material para confeccionar tapetes e acessórios de ioga; já a estilista Stella McCartney recorreu a ele para criar uma bolsa e um bustiê. A Newlight, uma startup que transforma as emissões de gases de efeito estufa em couro certificado com carbono negativo, fechou uma parceria com a Nike. A The North Face criou, em parceria com a startup Spiber, uma jaqueta em edição limitada, feita de um material que emula seda de aranha, fermentado em tanques, como cerveja.
Para fabricar uma jaqueta infantil, a H&M usou Flwrdwn, uma nova alternativa feita parcialmente de flores silvestres, e a Vegea usou em seus sapatos e bolsas um couro à base de uva, feito de subprodutos do vinho. Além disso, mais de mil marcas já experimentaram o Pinatex, um tipo de couro feito a partir de resíduos da indústria do abacaxi. E existem dezenas de outras parcerias.
“Essa é basicamente a versão material do que já está acontecendo no setor de alimentos”, diz Elaine Siu, diretora de inovação da Material Innovation Initiative, uma organização sem fins lucrativos que acompanha e apoia o setor, e que publicou recentemente um relatório descrevendo como as marcas estão trabalhando em parceria com novos produtores de materiais.
Da mesma forma que empresas como a Impossible Foods e a Perfect Day estão reinventando as alternativas de carne e laticínios, um número crescente de startups e um punhado de empresas maiores estão trabalhando em alternativas aos materiais de origem animal. Marcas que dependem do couro ou da seda – ou de alternativas a eles de primeira geração, feitas de plástico – são impulsionadas pela demanda do consumidor a desenvolver produtos mais sustentáveis e éticos.
Até agora, os produtos feitos de novos materiais estão sendo lançados em pequena escala, como é o caso dos assentos de couro à base de maçã de um carro-conceito, ou das coleções-cápsula de uma marca de moda. Mas o que seria necessário para que essas alternativas crescessem e alcançassem uma escala significativa?
Esse primeiro passo que está sendo dado agora, no qual os fabricantes de têxteis trabalham em estreita colaboração com as marcas, é fundamental, diz Siu. Uma empresa que está desenvolvendo um novo material precisa entender as especificações daquilo que seus clientes precisam e como esse material se encaixará em todo o processo de produção, desde as fábricas e o tingimento até a costura.
“A área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas realmente precisa levar em conta muito cedo, por exemplo, que tipo de maquinário será necessário”, explica ela. “Também é preciso entender em que estágio o biomaterial vai para a fábrica. Os artesãos realmente já sabem como usá-lo? Eles precisam ser treinados para saber como usar um novo material.”
Uma empresa que deseja usar novos materiais a fim de atingir as metas de sustentabilidade também precisará investir algum tempo educando suas equipes. “Todos na empresa precisam começar a adquirir essa nova mentalidade de como trabalhar com essa mudança”, diz Siu. Alguns produtos são mais difíceis de fabricar com novos materiais do que outros, como é o caso de um sapato de salto alto, que exige um alto nível de habilidade para ser feito, em comparação com uma jaqueta.
Uma vez que um novo material parece atender aos requisitos de qualidade e de produção de uma marca, a empresa que o produz ainda precisará trabalhar nos detalhes técnicos de como produzir com ele em larga escala. O próximo passo é o financiamento para começar a construir grandes instalações de produção. Algumas empresas de moda estão investindo diretamente. A Adidas, por exemplo, comprou mais de US$ 3 milhões em ações da Spinnova, uma empresa que transforma resíduos de madeira e de roupas em novos tecidos. A Allbirds investiu US$ 2 milhões na Natural Fiber Welding, uma startup que produz couro à base de plantas, sem colas sintéticas (outro investidor foi a divisão de risco da BMW).
Com o financiamento em vigor, algumas empresas estão começando a aumentar a produção. A MycoWorks, uma startup de biomateriais que produz couro a partir de micélio, levantou recentemente US$ 125 milhões para construir sua primeira unidade de produção em massa. Se o grosso das empresas desses setores puder começar a substituir o couro e outros materiais convencionais, o impacto pode ser real. O couro animal tem um grande impacto ambiental; por outro lado, o couro baseado em emissões da Newlight chega a ter um impacto positivo, deixando uma pegada negativa de 87,76 quilos de CO2 por cada quilo de material produzido.