“Desinfluência” já atinge 69% dos usuários de redes sociais nos EUA

Revolta contra influenciadores está mudando os hábitos de compra – e pode ser apenas o começo

Crédito: Fast Company Brasil

Joe Berkowitz 3 minutos de leitura

Muitas trends do TikTok acabam se tornando apenas breves modismos. Influenciadores ajudam a espalhar essas novidades até que, inevitavelmente, passam para uma nova fixação. Mas uma das principais tendências de 2023 ainda segue forte – um movimento que muitos influenciadores provavelmente gostariam que tivesse sido apenas uma moda passageira.

A tendência da “desinfluência”, uma rejeição dos aspectos mais flagrantemente consumistas da cultura dos influenciadores, tem ganhado força. Após 16 meses, ela ainda consegue manter os produtos recomendados no TikTok fora dos carrinhos de compras dos usuários.

De acordo com um novo estudo encomendado pelo Intuit Credit Karma e realizado pela Harris Poll, 69% dos usuários nos EUA afirmam ter optado por não comprar mais itens vistos no TikTok, Instagram ou qualquer outra plataforma. Se as razões por trás disso forem um indicativo, o apetite por compras em redes sociais pode, em breve, diminuir consideravelmente.

Uma famosa tiktoker chamada Mikayla Nogueira ajudou acidentalmente a popularizar a tendência no ano passado com um vídeo que incomodou os usuários.

No que ficou conhecido como “Mascaragate” (em alusão ao escândalo político de Watergate), a blogueira teria usado cílios postiços para promover as supostas maravilhas de um produto da L’Oréal como parte de uma parceria paga com a empresa. A reação negativa foi tão forte que ela fez uma rara pausa na plataforma por uma semana.

Vídeos incentivando os usuários a não comprarem produtos promovidos por influenciadores já estavam circulando há meses, graças a criadores como Michelle Skidelsky. A tendência de desinfluenciar explodiu não muito tempo depois do incidente com o rímel, acumulando visualizações na casa das centenas de milhões no TikTok.

Para ser claro, fazer compras em plataformas sociais continuou sendo uma prática bastante popular no ano passado – 38% dos usuários norte-americanos relataram ter comprado produtos que viram nas redes sociais durante esse período.

As plataformas de redes sociais fazem um ótimo trabalho em levar os consumidores a gastar mais ao usar seus aplicativos.

No entanto, de acordo com o estudo do Credit Karma, que entrevistou 2.042 adultos nos EUA, menos pessoas parecem dispostas a fazer esse tipo de compra no próximo ano.

O estudo cita três motivos principais para isso: 32% dos entrevistados afirmaram não confiar em influenciadores que promovem produtos; 28% não confiam nos próprios produtos; e 26% sentem que o constante bombardeio de promoções nas redes sociais criou um ambiente insalubre de consumismo excessivo.

Estes motivos estão diretamente alinhados com o tipo de conteúdo que muitos desinfluenciadores tendem a compartilhar. Por exemplo, o vídeo de uma tiktoker conhecida como Overcoming Overspending, que já conta com 9,1 milhões de visualizações, desmistifica a cultura dos influenciadores.

@overcoming_overspending here for another ✨deinfluencing✨ moment #deinfluencing #deinfluencer #deinfluence #overspending #overspendingmoney #consciousconsumer #moneytok #moneycoachforwomen #savemoneytips #spendless #shoppingaddict #compulsiveshopping #compulsiveshopper #creditcarddebt #debtfree #impulsebuying #impulseshopping ♬ original sound - Paige-Overcoming Overspending

Ela explica que muitos deles gravam vídeos usando ou comprando produtos para que mais espectadores assistam ao seu conteúdo e, assim, gerem a receita de anúncios que lhes permite continuar comprando mais. O fato de que estão sendo pagos para fazer compras acaba influenciando a maneira como reagem aos produtos na frente da câmera.

Muitos usuários já sabiam que isso acontecia. Mas ver tudo isso sendo explicado pode tê-los levado a refletir mais sobre seu próprio papel na perpetuação desse ciclo.

Outra vertente dos vídeos de desinfluência foca mais na qualidade dos produtos, destacando itens que não correspondem ao hype. Outros giram em torno do aspecto do consumo excessivo, com algumas paródias inteligentes usando argumentos semelhantes.

Provavelmente não é coincidência que o foco no consumo excessivo tenha se popularizado no mesmo ano em que a iniciativa de comércio eletrônico TikTok Shop surgiu, com seu logo laranja com uma sacola de compras indicando quais vídeos usuários cautelosos devem evitar.

    “As plataformas de redes sociais fazem um ótimo trabalho em levar os consumidores a gastar mais ao usar seus aplicativos”, afirma Courtney Alev, defensora financeira do consumidor do Credit Karma. “Especialmente considerando o quão fácil é comprar algo com apenas alguns cliques.”

    Com o crescimento da tendência de desinfluência, o impacto nos hábitos de compra dos consumidores aumenta ainda mais. Talvez, no futuro, vá ainda além. Nesse ponto, porém, pode não fazer mais sentido sequer ter um telefone para gravar vídeos para desinfluenciar.


    SOBRE O AUTOR

    Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais