Discurso de ódio no 4Chan quintuplicou com a guerra entre Israel e Hamas

Nas 48 horas seguintes ao ataque do Hamas, os insultos e discursos violentos contra as comunidades judaicas e muçulmanas cresceram mais de 500%

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Mark Sullivan 3 minutos de leitura

Uma nova pesquisa mostra que a retórica violenta no fórum online 4Chan aumentou drasticamente após os ataques do Hamas em 7 de outubro, e novamente durante a contraofensiva de Israel na Faixa de Gaza.

O Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo (GPAHE, na sigla em inglês) levantou que, 48 horas após os primeiros ataques, os insultos e discursos violentos direcionado às comunidades judaicas e muçulmanas no 4Chan aumentaram em mais de 500% e se mantiveram em níveis elevados.

No dia 8 de outubro, o GPAHE identificou 2.626 exemplos deste tipo de discurso na plataforma, em comparação com 511 em 6 de outubro – um aumento de 579%. Esses níveis se mantiveram nos dois dias seguintes, de acordo com a pesquisa. Os números, provavelmente, são subestimados, uma vez que os pesquisadores reconhecem que não conseguiram abranger todas as instâncias de discurso de ódio no 4Chan.

Embora o ódio contra muçulmanos tenha crescido após os ataques do Hamas, o direcionado a judeus se manteve em patamares consideravelmente mais altos em números absolutos. Os insultos antissemitas e os apelos à violência aumentaram de 484 casos no dia 6 de outubro para 2.626 no dia 8, um aumento de quase cinco vezes. No mesmo período, os insultos anti-muçulmanos subiram de 27 para 333, conforme apurado pelos pesquisadores.

O 4Chan é uma plataforma conhecida pelo discurso de ódio, incluindo insultos explicitamente antissemitas e anti-muçulmanos.

O GPAHE sugere que a diferença nos números pode ser atribuída à presença de neonazistas no 4Chan. Entretanto, os membros da plataforma demonstram forte ódio por ambos os grupos, com muitos descrevendo o conflito atual como “benéfico para os brancos”.

“Extremistas e propagadores de ódio têm recorrido a espaços online para atacar judeus e muçulmanos”, afirma o GPAHE em comunicado. “Ambas as comunidades são alvos frequentes de violência e discurso de ódio em todo o mundo... mas a escala do aumento na última semana é alarmante.”

Crédito: Clint Patterson/ Unsplash/ Cottonbro/ Markus Spiske/ Pexels

O 4Chan é uma plataforma conhecida pelo discurso de ódio, incluindo insultos explicitamente antissemitas e anti-muçulmanos, bem como incentivos à violência contra membros de ambos os grupos.

Em um caso recente, um homem que matou 10 pessoas em um supermercado em Buffalo, no estado de Nova York, em 2022, postou seu manifesto no 4Chan, descrevendo como havia sido influenciado pelo site e inspirado a agir após assistir a um vídeo dos tiroteios em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019.

A moderação da plataforma é caracterizada pela proteção praticamente irrestrita da liberdade de expressão, com regras leves ou inexistentes, baseadas principalmente na proibição de conteúdo ilegal no local de origem do usuário.

Ambas as comunidades são alvos frequentes de violência e discurso de ódio em todo o mundo, mas a escala do aumento na última semana é alarmante.

“Concentramos grande parte da nossa pesquisa em plataformas não regulamentadas, porque é nesses lugares que encontramos vozes extremas”, explica Heidi Beirich, cofundadora do GPAHE, à Fast Company. “Estamos preocupados com postagens que contenham ameaças ou manifestos que possam resultar em ações diretas.”

“Estamos observando um aumento repentino e significativo no discurso de ódio anti-muçulmano e discurso racista antipalestino nas redes sociais, incluindo retórica violenta pedindo o extermínio ou expulsão desses grupos”, afirma Edward Ahmed Mitchell, diretor executivo nacional adjunto do Conselho de Relações Islâmico-Americanas (CAIR). 

“As plataformas de mídia social, que às vezes têm o hábito de ignorar a retórica violenta direcionada a muçulmanos enquanto silenciam a defesa pacífica dos direitos humanos dos palestinos, devem proteger a liberdade de expressão de todos os usuários, mas, ao mesmo tempo, garantir a moderação do discurso de ódio.”

A Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) afirma que sua própria pesquisa mostrou um aumento de 400% nos chamados à violência antissemita no Telegram nas 18 horas seguintes ao ataque do Hamas, e que esses números ainda não diminuíram. “Repetidamente, temos visto como o ódio online gera violência no mundo real”, ressalta Oren Segal, vice-presidente do Centro de Extremismo da ADL.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais