É o fim da internet como a conhecemos hoje. E está tudo bem

Talvez este tenha sido o seu último ano. Se for o caso, a culpa é da ganância das grandes corporações

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Scott Nover 3 minutos de leitura

A internet parece estar desmoronando.

Não fisicamente, é claro. Sua infraestrutura está intacta. Ainda há cabos de fibra óptica cruzando os mares, torres de celular espalhadas pelas cidades e data centers cheios de servidores. Mas os pilares que sustentam a web prática – as plataformas que moldam nossa experiência online diária – estão abalados, começando a mostrar os primeiros sinais de colapso.

Para começar, nada mais parece funcionar como antes. O Google, que já foi uma fonte confiável de informações, agora está repleto de anúncios, barras laterais, links otimizados para SEO e respostas geradas por inteligência artificial.

Pesquisadores alemães descobriram recentemente que ele prioriza páginas de avaliações de produtos de baixa qualidade, cheias de links afiliados e truques de SEO que não têm nada a ver com a qualidade do conteúdo. Em outras palavras, o Google está permitindo que sua plataforma seja dominada pelo que há de pior.

Na Amazon, as “prateleiras digitais” estão abarrotadas de produtos patrocinados e imitações baratas de itens populares. Tanto lá quanto no Google, é comum precisar rolar a página por um bom tempo até encontrar algo realmente útil. 

O vários processos antitruste contra essas empresas mostram que elas se tornaram pedágios para anunciantes, obrigando-os a pagar para ter visibilidade, o que acaba prejudicando a qualidade dos serviços Quando gigantes da tecnologia pioram serviços essenciais, são os consumidores que saem perdendo – mesmo que não precisem pagar diretamente por eles.

Nas redes sociais, a situação é ainda mais preocupante. O Facebook, hoje, serve basicamente para discutir política com antigos colegas de escola, receber lembretes de aniversário e descobrir quem se casou ou está esperando um bebê.

As notícias quase não aparecem mais. Meu feed está cheio de páginas de memes que nunca segui, TikToks repostados como Reels e – claro – anúncios ruins. 

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O X/ Twitter virou um reduto de discursos de extrema-direita, fãs de Elon Musk e “gurus” de tecnologia – sem falar nos piores anúncios que você pode imaginar. Já o TikTok, um dos poucos lugares ainda divertidos e espontâneos da internet, corre o risco de ser banido nos EUA em breve.

Além disso, o crescimento da IA generativa trouxe consigo uma avalanche de conteúdos de baixa qualidade, como imagens falsas mal feitas, muitas vezes criadas para enganar ou irritar. Em grupos no Facebook, por exemplo, é comum ver pessoas admirando paisagens “deslumbrantes” sem perceber que os detalhes estão distorcidos, ou fotos de modelos no Instagram com dedos a mais.

Os pilares que sustentam a web estão abalados, começando a mostrar os primeiros sinais de colapso.

A internet, no fim das contas, está nas mãos das maiores e mais poderosas empresas do mundo. Não estamos falando de uma “internet morta”, como alguns dizem. Ela segue viva, porém, negligenciada – arruinada pela ganância, preguiça e indiferença das grandes corporações.

As gigantes do Vale do Silício não competem nem inovam mais. Elas preferem cortar custos, aumentar lucros e bloquear concorrentes para manter os consumidores dependentes e o mercado sob seu controle. As plataformas oferecem conveniência, mas nenhuma novidade, e sua utilidade em nossas vidas digitais está cada vez menor.

Talvez, em 2025, tudo isso desmorone de vez. Mas, com sorte, as pessoas começarão a repensar sua dependência de plataformas digitais que as tratam com tanto desprezo, como simples “usuários” ou consumidores. Se este for mesmo o fim da internet como a conhecemos, então, sinceramente, para mim está tudo bem.


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