Elon Musk parece disposto a deixar o X mais parecido com o velho Twitter

Uma série de mudanças na plataforma evidenciam o desafio de administrar uma rede social, não importa quão radical seu dono tente ser

Crédito: Google DeepMind/ Pexels

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Quando Elon Musk comprou o Twitter por US$ 44 bilhões, em outubro de 2022, prometeu desafiar as convenções. Ele agiu de maneira autoritária, desativando servidores de hospedagem enquanto ainda estavam em operação e demitindo cerca de 80% dos funcionários.

A reformulação do Twitter como X foi apresentada tanto por Musk quanto pela CEO, Linda Yaccarino, como uma transição para um aplicativo radicalmente diferente, que iria além das redes sociais para oferecer também mensagens, serviços bancários, compras e muito mais.

No entanto, 16 meses depois, algumas das mudanças implementadas por Musk inicialmente foram revertidas, à medida que a realidade impactou a visão "idealista" do bilionário.

Algumas dessas mudanças são pequenas: em meados de 2023, Musk hesitou em tornar padrão o modo escuro e a única paleta de cores no X, antes de decidir abandonar completamente o plano.

Também restabeleceu manchetes aos links postados na plataforma, uma volta atrás em relação a alguns meses antes, quando afirmou que eliminar esse tipo de informação melhoraria a estética do aplicativo.

Crédito: X/ Twitter

Outras mudanças foram mais significativas. No final de janeiro, antes de uma aparição de Yaccarino no Senado dos Estados Unidos, a empresa anunciou a contratação de 100 moderadores de conteúdo para uma nova "central de excelência de confiança e segurança" sediada em Austin, no Texas.

Os 100 funcionários são uma pequena fração do número demitido logo após a aquisição do Twitter, quando equipes inteiras de moderação de conteúdo foram eliminadas em questão de dias. Mas é um começo e um reconhecimento de que o X está, aos poucos, se tornando mais semelhante ao Twitter tradicional do que Musk inicialmente imaginava.

O X não respondeu a um pedido de comentário, mas ex-funcionários não ficaram surpresos com a reversão de algumas das mudanças iniciais do novo dono. "Parece ser o jeito dele de administrar um serviço e, mesmo que seja por puro despeito, Elon não consegue escapar disso", diz um ex-funcionário de moderação de conteúdo que falou sob condição de anonimato.

algumas das mudanças implementadas por Musk foram revertidas, conforme a realidade impactou a visão "idealista" do bilionário.

O ex-funcionário acredita que as mudanças se devem, em parte, à pressão do mercado e em parte à ameaça de regulamentação governamental. Vale destacar que o centro de moderação em Austin foi anunciado pouco antes de Yaccarino se apresentar diante dos parlamentares. Ele também destaca a diferença entre o modo como Musk quer conduzir as coisas e o que ele realmente consegue realizar.

A experiência de Musk com a eliminação da maior parte da equipe de moderação de conteúdo foi uma atitude radical e acabou destacando a importância de se ter um departamento que garante a segurança e a confiabilidade da plataforma.

"Com o Twitter, Elon cortou tudo isso e mostrou a todos o que acontece", diz o ex-funcionário. "É uma evidência clara do que é necessário para tornar um serviço utilizável e seguro.”

Se o empresário vai conseguir contratar pessoal para o centro em Austin é outra questão espinhosa, segundo outro ex-funcionário demitido por Musk, que também pediu anonimato. "Qualquer pessoa competente nessa área nunca trabalharia com ele, especialmente depois do que fez com Yoel [Roth]", afirma.

Roth, ex-chefe de confiabilidade e segurança do Twitter, renunciou ao cargo em 2022. Logo depois, Musk afirmou falsamente que Roth havia dito ser "a favor de crianças acessando serviços adultos na internet, em sua tese de doutorado". Esse incidente, por si só, pode dificultar a reversão das mudanças na moderação de conteúdo.

“Se pararmos para pensar, as pessoas que trabalham com segurança e moderação de conteúdo costumam ser ponderadas, gostam de passar muito tempo – talvez até demais – estudando as nuances de um termo ou de uma questão", diz o ex-funcionário. "Ninguém tão ponderado vai trabalhar para Musk. Seria suicídio profissional.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais