Entenda por que o Google está sendo processado pelo governo dos EUA

Os advogados do Departamento de Justiça querem provar que a empresa abusou do poder de seu mecanismo de busca para sufocar a concorrência

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Michael Liedtke 4 minutos de leitura

O governo norte-americano está enfrentando um império que parecia invencível: o mecanismo de busca do Google, que se tornou a principal porta de entrada para a internet.

O confronto legal teve início esta semana em um tribunal federal em Washington, D.C., que será o palco do maior julgamento antitruste dos EUA desde a ação movida contra a Microsoft e seu domínio no mercado de software de computador pessoal há um quarto de século.

O julgamento terá depoimentos potencialmente reveladores de altos executivos do Google e de sua controladora, Alphabet, bem como de outras gigantes da tecnologia. Sundar Pichai, CEO da Alphabet, provavelmente estará entre os principais depoentes.

O Departamento de Justiça quer provar que o Google abusou do poder de seu mecanismo de busca para sufocar a concorrência, desencorajando a inovação.

Embora os produtos da empresa, como Chrome, Gmail, YouTube e Maps, sejam extremamente populares, nenhum deles se tornou tão indispensável – ou tão valioso – quanto o mecanismo de busca criado por Larry Page e Sergey Brin no final dos anos 1990.

Hoje, o valor de mercado da Alphabet (holding que controla o Google) é de US$ 1,7 trilhão. O conglomerado emprega 182 mil pessoas, com a maior parte de sua receita de US$ 224 bilhões vindo de venda de anúncios, que fluem por uma rede de serviços digitais ancorada em um mecanismo de busca que processa bilhões de consultas por dia.

O Google poderá ser prejudicado caso o julgamento resulte em concessões que minem seu poder. Uma possibilidade é a interrupção dos pagamentos feitos à Apple e a outras empresas para manter o Google como mecanismo de busca padrão em smartphones e computadores. Ou a disputa legal pode fazer com que ele perca o foco.

Foi o que aconteceu com a Microsoft após a ação antitruste movida pelo Departamento de Justiça dos EUA (DoJ, na sigla em inglês): ocupada com o caso, a gigante do software teve dificuldades para se adaptar ao impacto das buscas na internet e dos smartphones. O Google aproveitou essa "distração" para se tornar uma potência no setor.

ABUSO DE PODER

Os advogados do DoJ tentarão provar que a empresa abusou do poder de seu mecanismo de busca para sufocar a concorrência, desencorajando a inovação. Críticos afirmam que a qualidade dos resultados também piorou, à medida que o Google passou a usá-los para vender anúncios e promover seus próprios produtos.

O cerne do argumento do Departamento de Justiça se resume à alegação de que o mecanismo de busca se tornou o “ar digital” que quase todos respiram, e que precisa ser limpo porque as táticas da empresa poluíram o ambiente.

O Google teria manipulado o mercado a seu favor ao exigir dos fabricantes de celulares que seu mecanismo de busca fosse incluído no Android.

A equipe jurídica do Google, por sua vez, deve alegar que a empresa nunca parou de melhorar seu principal produto, cumprindo sua missão original de organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis para qualquer pessoa com conexão à internet.

Do ponto de vista do Google, as melhorias contínuas explicam por que a maioria das pessoas quase instintivamente recorre ao seu mecanismo de busca, um hábito que há muito tempo se tornou sinônimo de pesquisar informações na internet.

Apesar de controlar cerca de 90% do mercado de busca, a empresa argumenta que enfrenta uma ampla concorrência, incluindo serviços como o Bing, da Microsoft, e sites como Amazon e Yelp, onde as pessoas pesquisam sobre qual produto comprar ou onde comer.

O DoJ contesta a alegação do Google de que domina o mercado por oferecer o melhor serviço. Eles afirmam que a empresa garante sua posição por meio de pagamentos, desembolsando bilhões de dólares anualmente para ser o mecanismo de busca padrão no iPhone e em navegadores como o Safari, da Apple, e o Firefox, da Mozilla.

MINANDO A CONCORRÊNCIA

Os reguladores também alegam que a empresa manipulou ilegalmente o mercado a seu favor, exigindo que seu mecanismo de busca fosse incluído no Android, caso os fabricantes quisessem acesso total à loja de aplicativos.

Ao torná-lo a opção padrão em tantos lugares, o Departamento de Justiça argumenta que a empresa dificultou a busca por melhores resultados no menor tempo possível.

O Google alega que nunca parou de melhorar seu mecanismo de busca e que é por isso que os usuários recorrem a ele quase instintivamente.

Além disso, os reguladores alegam que esses acordos garantem ao Google acesso automático a bilhões de consultas, fornecendo dados para seu mecanismo de busca, enquanto impedem que concorrentes como Bing e DuckDuckGo obtenham informações que poderiam ajudá-los a melhorar seus resultados.

Segundo o DoJ, essas táticas permitiram que a empresa enchesse sua página de resultados com mais anúncios, aumentando seus lucros e o preço das ações da Alphabet.

Isso faz com que os consumidores precisem ir mais fundo em suas buscas para encontrar os resultados que desejam, algo que os reguladores acreditam que poderia ser evitado se os serviços concorrentes pudessem coletar tanta informação quanto o Google, por meio de seus acordos de exclusividade.

A empresa insiste que os usuários podem facilmente mudar suas configurações padrão para usar outro mecanismo de busca. Também argumenta que enfrenta concorrência de tecnologias em constante evolução.

Por exemplo, a Microsoft está incorporando a inteligência artificial da OpenAI no Bing. Esse movimento recente incentivou o Google a também equipar seu mecanismo de busca com IA – o que, segundo a empresa, mostra que a livre concorrência não foi prejudicada.


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