Escolas processam Meta e Snap por danos à saúde mental dos alunos

Redes sociais estão no centro das preocupações sobre a saúde mental dos adolescentes. Algumas escolas querem que elas sejam responsabilizadas por isso

Créditos: Marina113/ iStock/ pngwing

Shalene Gupta 5 minutos de leitura

Em janeiro, as escolas públicas de Seattle processaram empresas de mídia social, incluindo o TikTok e a Meta, alegando que elas estariam contribuindo para a crise de saúde mental entre jovens. Os estados da Flórida e de Nova Jersey seguiram os mesmos passos em fevereiro. Em março, o Conselho de Educação do Condado de San Mateo, na Califórnia, e do Condado de Bucks, na Pensilvânia, aderiram à onda de processos contra as grandes empresas de tecnologia.

“Há muito tempo essas empresas vêm explorando mentes em desenvolvimento sem consequências legais, trocando o bem-estar mental das nossas crianças por bilhões de dólares em receita de anúncios”, disse o presidente da Comissão do Condado de Bucks, Bob Harvie. “Os efeitos negativos dessas plataformas são reais, sérios, quantificáveis. Não podemos permitir que continuem.”

Definitivamente, estamos diante de uma crise de saúde mental entre jovens: nos EUA, o número de pessoas entre 12 e 25 anos que deram entrada em hospitais por tentativas de suicídio aumentou 31% em 2020, em comparação com 2019. No entanto, ainda não está claro o quanto disso pode ser atribuído às grandes empresas de tecnologia.

As big techs não são consideradas responsáveis pela maioria do conteúdo que as pessoas postam em suas plataformas.

As escolas têm o ônus de provar na justiça que as plataformas de mídia social estão causando ou exacerbando a crise. Apesar de pesquisas comprovarem que os jovens estão passando mais tempo nas redes sociais, a relação desse fato com o aumento no número de casos de depressão e ansiedade ainda é objeto de debate.

Estamos vivendo um momento de “revolta contra a tecnologia”, observa Thomas Kadri, professor assistente de direito na Universidade da Geórgia. Historicamente, as big techs desfrutaram de muita liberdade em termos de leis federais, já que não são consideradas responsáveis pela maioria do conteúdo que as pessoas postam em suas plataformas – o que significa que estão livres de qualquer punição legal.

INSTRUMENTO PARA MUDANÇA SOCIAL

No entanto, isso não se aplica se a própria plataforma criar um conteúdo ilegal. Kadri aponta, por exemplo, que o site Roommates.com foi processado por, supostamente, violar leis antidiscriminação ao ajudar usuários a encontrar pessoas para dividir uma casa ou apartamento com base em informações sobre gênero, orientação sexual e se teriam filhos.

Recentemente, juízes norte-americanos começaram a decidir contra empresas de tecnologia, indicando que podemos estar diante de um ponto de virada. Há alguns anos, um magistrado permitiu o avanço de um caso no qual pais processaram a Snap Inc., dona do Snapchat, por oferecer um filtro de “velocidade” que os usuários pensavam erroneamente que os recompensaria por dirigir a mais de 160 km/h.

Uma das questões mais importantes hoje é a regulamentação das big techs e como elas impactam a saúde mental dos jovens.

Karin Swope, advogada que representa o Conselho de Educação de San Mateo, enxerga a ação judicial como uma forma de responsabilização. “A lei pode ser um instrumento para mudança social”, defende. “Uma das questões mais importantes que enfrentamos hoje é a regulamentação das big techs e como elas impactam a saúde mental dos nossos jovens.”

As empresas de tecnologia afirmam que investem muito no bem-estar dos usuários, especialmente dos mais jovens. Tanto o Snap quanto o Google, os únicos que responderam ao nosso pedido de esclarecimento, disseram que estão tentando proteger o público jovem.

O Snap declarou que “nada é mais importante para nós do que o bem-estar de nossa comunidade”. Ressaltou também que protege a saúde mental dos jovens de várias maneiras, desde o uso de moderadores humanos para reduzir a disseminação de conteúdo prejudicial, a criação de um sistema de suporte no aplicativo para usuários que passam por uma crise de saúde mental, até uma ferramenta para que os pais saibam com quem seus filhos adolescentes estão conversando, sem revelar o conteúdo das mensagens.

Um porta-voz do Google escreveu: “investimos muito na criação de experiências seguras para crianças em todas as nossas plataformas e adotamos proteções e recursos para priorizar o bem-estar delas. Por exemplo, por meio do Family Link, oferecemos aos pais a capacidade de definir lembretes, limitar o tempo de tela e bloquear tipos específicos de conteúdo em dispositivos supervisionados.”

RELAÇÃO SAUDÁVEL

Independentemente de quem ganhar os processos, está claro que crianças e jovens adultos continuam sendo afetados pelo agravamento da crise de saúde mental. Uma batalha judicial pode levar anos até que seja resolvida. Por isso,

As escolas poderiam ensinar sobre os riscos da dependência tecnológica para os adolescentes.

profissionais da saúde vêm cada vez mais defendendo a necessidade de soluções imediatas.

Aja Chavez, diretora executiva do Mission Prep, um centro de tratamento de saúde mental para adolescentes, diz que viu aumentar drasticamente na última década o número de jovens adultos com problemas de saúde mental causados ou exacerbados pela tecnologia.

“Quase todos os pacientes que atendemos estão com dificuldade de estabelecer limites. São constantemente atraídos por seus dispositivos sem perceber os impactos que isso pode ter.”

Ela defende que a educação poderia ajudar a resolver o problema. As escolas poderiam, por exemplo, ensinar sobre os riscos da dependência tecnológica para o cérebro dos adolescentes e incentivar mais discussões sobre como limitar o uso de forma eficaz, seja seguindo apenas conteúdos que nos faz sentir bem ou estabelecendo um limite para a quantidade de tempo gasto em dispositivos.

“As redes sociais vieram para ficar”, diz ela. “Precisamos ensinar os jovens a terem uma relação saudável com elas.”


SOBRE A AUTORA

Shalene Gupta é jornalista e escritora, co-autora do livro "The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It". saiba mais