Esta startup quer criar o primeiro museu físico descentralizado do mundo

A Arkive comprará obras escolhidas por seus membros e as emprestará para exibições em museus de todo o mundo

Crédito: Levi Meir Clancy/ Michele Caliani/ Unsplash

Steven Melendez 3 minutos de leitura

Uma startup chamada Arkive, lançada recentemente sem muito alarde, pretende usar o poder da internet para construir o que chama de primeiro museu físico descentralizado.

A empresa aceita pessoas de todo o mundo como membros e conta com cerca de 200 inscritos até agora, além de outros 800 na lista de espera. São os próprios membros os responsáveis por decidir quais artefatos históricos e obras artísticas o museu irá adquirir.

O objetivo não é apenas manter os itens, mas exibi-los em diversos lugares. A Arkive os emprestará a outras instituições para exibições ao público. Hoje, ela admite cerca de 50 novos membros por mês, embora planeje acelerar esse processo para ter cerca de 10 mil inscritos até o final de 2023.

Para sua primeira exposição, os atuais membros adquiriram o histórico registro de patente do ENIAC, um computador digital pioneiro de meados do século XX. “Não teríamos nada disso se não fosse por este primeiro computador”, conta o cofundador da Arkive, Tom McLeod, que liderou a extinta plataforma de armazenamento e aluguel de equipamentos Omni.

A segunda aquisição foi uma obra dos anos 1980 intitulada “Seduction”. Criada pela artista Lynn Hershman Leeson, retrata uma mulher cuja cabeça foi substituída por um aparelho de televisão – um comentário sobre a relação entre arte, gênero e tecnologia.

"Seduction", de Lynn Hershman Leeson (Crédito: Arkive/ Divulgação)

Essas duas obras estão programadas para fazer parte de uma nova exposição itinerante patrocinada pela Arkive. Depois, provavelmente, serão expostas em museus públicos apropriados, emprestadas pela empresa.

“Não queremos que essas obras fiquem escondidas na parede da sala de alguém,” diz McLeod. “Queremos que fiquem expostas ao público.”

As futuras aquisições, que ocorrerão uma vez ao mês, terão temas diferentes – o atual, que servirá para as próximas seis compras, é “Quando a tecnologia mudou tudo”. Todas serão escolhidas pelos membros da Arkive.

Eniac, o primeiro computador do mundo (Crédito: Arkive/ Divulgação)

No momento, não há taxa de adesão. As primeiras aquisições foram feitas com cerca de US$ 9,7 milhões em financiamento de capital de risco garantidos pela Arkive, embora seja provável que se criem diferentes níveis de planos de assinatura e se realize eventos no futuro.

Os candidatos a membro são solicitados a preencher um formulário amplo sobre suas ocupações e hobbies. McLeod afirma que entre os primeiros membros estão ex-compradores de galerias, curadores de museus e colecionadores – de livros raros a cartões colecionáveis.

Os membros se comunicam via Discord e votam usando suas carteiras Ethereum. McLeod diz que, no futuro, a tecnologia poderá ser aberta a outras organizações. Há ainda rumores sobre o lançamento de NFTs.

Mas a Arkive parece ter planos para evitar alguns dos problemas enfrentados em tentativas anteriores de democratizar grandes compras de obras de arte e outros itens, como o consórcio online que pagou uma quantia extremamente alta na compra de uma rara versão do livro de ficção científica "Duna", sob a crença equivocada de que teriam os direitos comerciais de uso.

Membros da Arkive (Crédito: Arkive/ Divulgação)

A Arkive focará em comprar obras de vendedores como galerias, em vez de leilões públicos. O número de aquisições deve aumentar na medida em que mais membros entrem para a comunidade. As galerias também sairão ganhando, pois os membros são os responsáveis por escolher as obras, potencialmente fazendo com que recebam mais visibilidade através da venda e da publicidade que ela gera.

A política de emprestar obras para exibições em museus deve reduzir os custos relacionados ao armazenamento. McLeod também sugere que expor em diferentes lugares dará à startup mais flexibilidade sobre o que adquirir. Uma escolha que, para um museu tradicional, é mais restrita.

Embora a Arkive possa, como qualquer museu, ocasionalmente vender suas obras para vários fins, McLeod garante que a organização planeja manter a maioria de suas aquisições. “Gostamos de pensar nelas como uma coleção permanente”, diz.


SOBRE O AUTOR

Steven Melendez é jornalista independente e vive em Nova Orleans. saiba mais