Esta startup quer gerar energia elétrica com microrreatores nucleares

A Last Energy planeja introduzir seus reatores nucleares modulares de pequeno porte na Europa

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Alex Pasternack 4 minutos de leitura

Bret Kugelmass, fundador e CEO da startup de energia nuclear Last Energy, está acostumado a lidar com céticos. “Não posso culpá-los quando tudo o que têm são informações erradas [sobre energia nuclear]”, diz ele. Mas Kugelmass não está tentando convencê-los; seu objetivo é provar que eles estão errados.

Em apenas quatro anos, o executivo abandonou seu podcast sobre a indústria nuclear para fundar sua própria empresa, que hoje tem negócios na Europa que valem aproximadamente US$ 25,6 bilhões.

Bret Kugelmass (Crédito: Last Energy)

Kugelmass tem mestrado em engenharia mecânica pela Stanford e passou a se interessar por energia nuclear após vender sua empresa de imagens aéreas em 2017. Agora, sua startup conta com oito clientes em três países, totalizando 51 microrreatores em potencial. Ele pretende iniciar as operações do primeiro reator em 2026.

Enquanto o mundo busca fontes de energia com emissão zero de carbono, a atenção se volta para uma ideia antiga, mas com uma nova abordagem: reatores modulares de pequeno porte (SMRs, na sigla em inglês). Eles são considerados mais seguros, fáceis de instalar e mais acessíveis em comparação com os grandes sistemas de fornecimento de energia elétrica que dominaram o imaginário global.

Os SMRs estão se mostrando mais complexos do que o esperado, mas Kugelmass está adotando uma abordagem mais enxuta. Ele afirma que seu microrreator de 20 megawatts – capaz de fornecer energia para cerca de 20 mil residências – é essencialmente um SMR, composto por módulos que são montados no local.

Com o design e as peças da usina quase inteiramente “prontos para uso”, Kugelmass diz que pode agilizar as aprovações e manter os custos baixos, em torno de US$ 100 milhões por reator. No futuro, ele planeja construir milhares deles. Mas, por enquanto, possui apenas dois protótipos em terrenos industriais nos arredores de Houston, no Texas.

Módulo de SMR da Last Energy em sua fábrica no Texas (Crédito: Last Energy)

Para ter alguma chance de atingir emissões líquidas zero até 2050 – a meta climática da ONU –, o mundo precisa de mais energia nuclear. Mas a Europa, provavelmente, é quem mais precisa. Lá, o aumento das temperaturas e dos custos de energia levaram os governos a buscar alternativas mais limpas e confiáveis.

Os SMRs são considerados mais seguros, fáceis de instalar e mais acessíveis.

Embora a energia eólica e solar tenham se tornado mais baratas, elas têm suas limitações, especialmente nas zonas industriais onde a startup está encontrando seus clientes. As energias renováveis não conseguem produzir de maneira consistente o calor necessário para certas aplicações, como fundição de metais e refino químico.

A usina da Last Energy é composta por 70 módulos que são transportados e montados no local em apenas três meses. O reator em si, que fica abaixo da terra, é uma versão mini da tecnologia mais comum do mundo, conhecida como reator de água pressurizada. Ele é resfriado por meio de grandes ventiladores, que consomem mais energia, mas isso significa que a usina não precisa ser construída próxima à água.

Crédito: Hana Chabinsky

Por se tratar de uma tecnologia confiável, Kugelmass afirma que a Last Energy pode reduzir custos, facilitar o financiamento e expandir seu mercado. Além disso, devido ao seu tamanho, os SMRs são considerados mais seguros do que grandes reatores.

O CEO também destaca o fato de que seu microrreator fica abaixo da terra – em um invólucro de aço de 550 toneladas – e de que seu método de operação é simples. As usinas, que têm uma vida útil de 42 anos, são “reabastecidas” inserindo um novo módulo de reator a cada seis anos, enquanto o combustível gasto permanece subterrâneo até o descomissionamento. “A ideia é mexer no equipamento o mínimo possível.”

Para ter alguma chance de atingir emissões líquidas zero até 2050, o mundo precisa de mais energia nuclear.

Embora gastem menos combustível, pesquisas recentes sugerem que os SMRs podem aumentar o volume e a complexidade dos resíduos nucleares.

No entanto, Kugelmass minimiza os riscos à saúde relacionados ao combustível gasto e afirma que os resíduos – pelos quais a empresa será responsável durante a vida útil de seus reatores – são, em grande parte, um desafio político, não técnico. Ainda assim, é uma questão que preocupa os reguladores.

Os reatores da Last Energy ainda precisam passar pelo processo de licenciamento, aprovação de locais e revisões de segurança em cada um dos países onde vão operar. Mas a abordagem da empresa em relação ao design e à construção deve facilitar esse processo.

Kugelmass se diz confiante, já que, para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, o mundo vai precisar de mais reatores, de uma forma ou de outra.


SOBRE O AUTOR

Alex Pasternack é jornalista e escreve sobre urbanismo, recursos naturais, arquitetura e transportes. saiba mais