Estas duas startups querem concorrer com o Google na indexação da internet

Iniciativa europeia enfrenta desafios, mas pode ganhar força com o apoio de acordo com o governo dos EUA

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Rob Pegoraro 3 minutos de leitura

O domínio do Google no mercado de buscas é um fato consolidado. Mas um elemento-chave desse poder é menos conhecido: o vasto índice de páginas que a empresa construiu e mantém. Esse índice é tão grande que até mesmo motores de busca alternativos frequentemente pagam para utilizá-lo.

Agora, duas pequenas startups estão lançando um projeto próprio de indexação. E as condições atuais podem dar a elas mais chances de sucesso em comparação com iniciativas anteriores.

O European Search Perspective (ESP), uma parceria entre a Ecosia, de Berlim, e a Qwant, de Paris, pretende começar focando na indexação de páginas em francês e alemão. O objetivo é reduzir a dependência de seus motores de busca em relação aos índices do Google e do Bing (da Microsoft), que são caros e têm restrições de uso.

Uma combinação de fatores favorece o ESP: a redução nos custos de servidores, o aumento da demanda por índices de busca para projetos de IA generativa e o recente aumento nas tarifas de acesso ao índice do Bing. “Um pouco de pressão, um pouco de oportunidade”, resume Christian Kroll, CEO da Ecosia.

O objetivo inicial do ESP não é eliminar completamente os custos com Google e Microsoft, mas reduzi-los. Ao mesmo tempo, as duas startups pretendem gerar receita oferecendo dados de busca para desenvolvedores de IA e outras empresas de tecnologia.

“Pagamos por consulta e espero que, daqui a um ano, uma parte significativa das nossas buscas seja respondida pelo nosso próprio índice. Chegar a 50% é perfeitamente viável”, afirma Kroll. Ainda assim, Ecosia e Qwant continuariam dependentes das duas gigantes. “Para os últimos 10% a 20%, ainda precisaremos acessar o Google e o Bing”, admite ele.

Quanto a idiomas menos comuns, como o português, Kroll se mostra mais cético. Ele acredita que a falta de dados suficientes para treinar o índice dificultaria o progresso nesse caso.

O objetivo é reduzir a dependência de seus motores de busca em relação aos índices do Google e do Bing.

Além disso, o ESP deve enfrentar um obstáculo comum a novas iniciativas de indexação: muitos sites só permitem que Google, Bing e, às vezes, mais um ou dois rastreadores acessem seu conteúdo. Isso força startups a decidir entre respeitar essas regras ou correr o risco de serem bloqueadas.

Kroll alerta que depender de apenas duas grandes empresas norte-americanas para indexar a web é um problema sério para a Europa – especialmente diante da agenda nacionalista do presidente eleito Donald Trump, que, segundo o CEO da Ecosia, pode prejudicar as empresas europeias em discussões sobre tecnologia e comércio.

Tim Berners-Lee, inventor da web, compartilha dessa preocupação. “Quando há um monopólio tão forte, a inovação é prejudicada”, afirma. Para ele, o monopólio na indexação de buscas pode ser um caso que as forças de mercado sozinhas não conseguem resolver. “Alguns monopólios podem ser naturais, mas, na Europa, há quem defenda que a busca deveria ser tratada como um bem público.”

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A derrota do Google no caso antitruste movido pelo governo dos Estados Unidos abre novas possibilidades. Embora o foco principal seja exigir que o Google venda o navegador Chrome e encerre acordos preferenciais com empresas como a Apple, uma parte do julgamento pode ter um impacto mais direto na concorrência.

Essa cláusula exige que o Google ofereça seu índice de busca “a custo marginal” para concorrentes, com a mesma qualidade e velocidade de seu próprio motor de busca. Além disso, deve disponibilizar gratuitamente dados anônimos sobre como os usuários interagem com os resultados de busca.

Kroll ainda não comentou sobre como essas mudanças nos EUA poderiam ajudar sua causa, mas reconhece o quanto o mercado de buscas mudou desde que o Google era apenas uma startup que desafiava as gigantes da tecnologia.

“O desafio tecnológico pode ser superado, e acredito que há dinheiro suficiente para isso”, diz ele. “Mas precisamos das regulamentações certas para que tudo funcione.”


SOBRE O AUTOR

Rob Pegoraro é jornalista e escreve sobre computadores, gadgets, mídias sociais, aplicativos e outras coisas que pisquem ou bipem. saiba mais