Estudo revela por que a Covid-19 altera o olfato

Crédito: Fast Company Brasil

Ruth Reader 2 minutos de leitura

Um dos sintomas mais conhecidos da Covid-19 é a perda de paladar e de olfato. Existem diferentes estimativas sobre a quantidade de pessoas que tiveram estes sintomas, mas um estudo apontou que cerca de 1,6 milhão de americanos perderam um destes sentidos. Agora, um novo estudo realizado por pesquisadores da Columbia University e da New York University Langone Health, publicado na revista Cell, descobriu que o responsável por essa disfunção olfativa pode ser a nossa própria resposta imune ao vírus. Esta descoberta pode nos ajudar a compreender melhor como tratar sintomas persistentes de Covid-19.

Pesquisas anteriores levantaram a hipótese de que o SARS-CoV-2 infectava os receptores que enviam informações sobre cheiro ao cérebro. “Examinamos de perto e constatamos que isso não era verdade”, diz o virologista da NYU Langone Health, Benjamin tenOever, um dos autores do estudo. Em pareceria com pesquisadores da Universidade de Columbia, que analisaram autópsias de pacientes com Covid-19, tenOver realizou testes em hamsters para responder à pergunta: por que perdemos o olfato quando pegamos Covid? O que eles descobriram é que o vírus infecta células que sustentam os neurônios do sistema olfativo, chamadas células sustentaculares. À medida que elas morrem devido a infecção, liberam uma grande quantidade de moléculas inflamatórias, também conhecidas como citocinas. “E isso compromete os neurônios olfativos”, explica tenOever.

O que, em última análise, nos fazer perder o olfato é a enorme quantidade de sinais enviados. Eles sobrecarregam os receptores desses neurônios e atrapalham o envio de mensagens de um para o outro. “As células estão lá, mas todo o sistema que as faz funcionar fica inativo por três ou quatro dias”, diz ele. Para a maioria das pessoas (e também para os hamsters), pode levar duas semanas para que essa inflamação diminua e o corpo retorne ao estado anterior.

Em outro estudo, tenOver e seus colegas investigaram em que outras partes do corpo esses efeitos poderiam estar ocorrendo e descobriram que a mesma inflamação que afeta o sistema olfativo também irradia no cérebro. Isso pode explicar os problemas neurológicos, como confusão mental, dores de cabeça, delírio e problemas para dormir que também estão associados à Covid-19. Mas não explica por que eles às vezes persistem por muito tempo, mesmo após o fim da infecção.

“Nosso sistema neural se desenvolveu para aprender e lembrar de coisas”, explica tenOever. É um sistema que está sempre tentando retornar a um estado de equilíbrio, mesmo quando algum tipo de mudança acontece, nossos cérebros estão preparados para aprender e se adaptar. “Desta forma, os constantes sinais enviados durante a infecção – por falta de uma palavra melhor – são ‘lembrados’”, diz ele.

Isso parece assustador, mas saber que o responsável pelos problemas neurológicos atribuídos à Covid é a inflamação prolongada (e não o vírus) pode de fato contribuir para que pesquisadores e médicos entendam como tratar estes sintomas. “Isso sugere que o melhor tratamento para sintomas persistentes provavelmente é através de doses baixas de esteroides, capazes de atravessar a barreira hematoencefálica; e que enviam a mensagem de que tudo ficará bem ao seu cérebro e que ele pode voltar ao seu estado normal”, diz tenOever. “Já estamos realizando estudos nesse sentido .”


SOBRE A AUTORA

Ruth Reader é redatora da Fast Company. Ela cobre a interseção de saúde e tecnologia. saiba mais